Estilo : Comportamento

JOÃO JORGE

A casa onde eu nasci na Rua do Bispo e a paixão pelo Egito

João Jorge é advogado e Mestre em Direito Publico pela UnB.e Presidente do OLODUM

Nasci no dia 23 de junho de 1956, na maternidade Anita Costa no Rio Vermelho ás 5.45 h da
manhã em plena festa de São João, meus pais João Rodrigues e Alice dos Santos Silva me
trouxeram de bonde para a Rua do Bispo número 44, na Praça da Sé, em Salvador, no centro
antigo, que seria a minha morada por vinte e quatro anos a partir dai.

Assim, esta
emblemática rua do centro de Salvador, da Bahia a capital, foi o local onde vi o mundo, as
cores, os cheiros, a fé e conheci meus amigos de infância: Wilson, Jarbas, Jorge Tripa,
Roberto, Priminho, com quem jogava bola, e aprontávamos tudo que podia na Rua do Bispo.

A rua da minha casa, me viu crescer, ser coroinha da igreja de São Francisco, ser escoteiro
do grupo Almirante Tamandaré, da patrulha Albatroz, frequentar a escola primaria São Salvador
na Barroquinha e a Escola Pax na mesma ladeira.

Varias idéias e rotinas incentivadas por
minha mãe Dona Alice, uma brava mulher nascida em Itabuna para que eu estudasse e
prosperasse, e não ficasse a solta pelas ruas.

A casa era pequena porém parecia enorme para mim, tinha uma sala, dois quartos, cozinha,
banheiro e um sótão. Nesta casa pequena, mais enorme para os meus olhos , vivi meus belos
sonhos.

Vivi ali emoções especiais com meus pais, com minha mãe de criação Dona Zelita, que
veio para cuidar de mim e de minha irmã Cristina Rodrigues, já que segundo os que nos
conheciam na infância diziam que éramos duas crianças travessos.

Aos dois anos de idade
larguei um carro de presente e fui atras de um bloco de carnaval, ainda nesta idade bebi meia
lata de soda cáustica por subir uma escada em Itapuã na casa de veraneio, sobrevivi a três
afogamentos sempre salvo por meu pai, ja que era afoito por águas rios e lagos.

Na Casa da rua do Bispo viviam ali também, meus irmãos Rita Rodrigues (Falecida), José
Rodrigues, e nela havia dois quadros muito importantes para mim: Uma Santa Bárbara, e um São
João, menino de cabelos enrolados com a expressão “Agnus Deo”, pois estes quadros pareciam
que protegiam toda a casa da rua do Bispo e a todos nós.

Eram os anjos avançados da família
da religiosidade plural dos meus pais. João Rodrigues, homem negro, era espirita e Dona
Alice, uma mulher indígena era do candomblé.

A partir da minha rua, vi as casas portuguesas barrocas, o seminário São Damásio, o Terreiro
de Jesus, as Igrejas católicas, e os terreiros de candomblés, as festas de largo, o carnaval,
os pontos de ônibus da praça da Sé e os nomes de bairros que aprendi a visitar jogando bola,
ou indo para as festas das meninas de 15 anos.

Na casa da rua do Bispo recebíamos os
parentes de meu pai, de São Gonçalo dos Campos, isto para mim era uma festa, acompanhava com
olhar curioso, todos aqueles negros homens e mulheres falando sempre com meu pai e minha mãe,
sobre aquela que era para mim, a maior cidade do mundo, a terra matriz de meu pai.

A rua onde eu morei era o coração de Salvador e para mim coração da Bahia e do mundo. Assim
como eu tinha os meus amigos, minha Irmã Cristina e sua amiga Calu tinham um grupo de meninas
das ruas vizinhas como suas amigas, e havia na minha rua muitas costureiras, bancas de cursos
de reforços escolar sempre com professoras negras bem velhas que eram as figuras mais
importantes de conhecimento e do saber da Rua do Bispo.

Na juventude o nosso olhar era o Porto da Barra, o Farol das Barra, e as praias preferidas
Preguiça e a Boca do Rio. O pós queria na rua do Bispo levou a decadência comercial e
residencial da rua. Com o tempo todos foram saindo e mudando. Ainda assim a vida era fértil .

A rua do Bispo possuía uma repartição pública chamada de “Rapa” uma policia administrativa
para prender vendedores ambulantes, uma fábrica de macarrão, lojas de ferragens, várias
figuras populares, a exemplo de um morador que sempre se vestia de vampiro no carnaval.

Uma das travessas da Rua do Bispo é o beco do Seminário onde nasceu o delegado Ruy Paz, e
próximo a rua do Bispo há o Terreiro de Jesus, onde fica a Sociedade Protetora dos
Desvalidos, fundada por homens negros como uma Caixa social, em 1832, onde trabalhava o
barbeiro de Ruy Barbosa, um senhor de mais de noventa anos. Tudo no entorno da rua do Bispo
gerava um ar de importância histórica e civilizatória, em contraste com o forte preconceito
social de ser uma rua do ‘mangue’, uma das ruas do Maciel Pelourinho, e do polígono dos
cabarés e das casas das “mulheres da vida”..

É na rua do Bispo com o meu amigo de infância José Jarbas, que o Egito começa a me fascinar.
Ele sempre me dizia: “eu sou José do Egito”.

E ao assistir, em companhia de meu pai, os
filmes religiosos do Cine Pax, Liceu, Popular, Tamoio, Jandaia, Aliança, sempre tratavam de
assuntos bíblicos e lá estava o Egito, muito branco, muito europeu, idealizado por
Hollywood.

A minha curiosidade sobre este país africano aumentou ao entrar no convento de
São Francisco, quando virei um rato da biblioteca e tratei de aprender e descobrir mais
histórias sobre África, Egito, guerras e estratégias para a vida..

Comecei a pesquisar sobre religiões, espiritismo, e por estar em um convento de padres
franciscanos alemães, haviam muitos livros, que me faziam viajar nas histórias sobre a
segunda Guerra Mundial e os nomes das cidades contidas nestes, me chamavam a atenção –
Nuremberg, Hamburgo, Kolonia, Berlim. Hanoover.

Por esta influência coloquei na minha
prancheta do Ginásio Silvino Marques, do Senac, a expressão Africa Korps, e gostava muito do
nome El Alamein, a cidade Egípcia das grandes batalhas de Von Romell e de Montegmorry.

Contudo eu sempre tinha que voltar para rua do Bispo andava no meu mundo imaginário, mais
voltava para a pequena rua da praça da Sé onde eu podia brincar na janela de dirigir ônibus
para Itapuã.

Na minha vida sempre gostei de estrelas, elas sempre estiveram presentes comigo, e quando
tudo parecia que não ia dar certo, de alguma forma, eu recebia um sinal das estrelas. Nasci
no ano de 1956, sob a importante estrela Sirius, Shotis do Vale do Nilo quando o solístico
começou dois dias antes de eu estar aqui na terra.

Neste ano o padre Abbé Morreu escreveu o livro: A Ciência Misteriosa dos Faraós,
sobre a energia das Pirâmides, nasci sobre a
regência da Deusa Isis e sua influência sobre o rio Nilo, e anos depois me apaixonaria pelas
mesmas estrelas Sirius A e B, com o povo Dogons do Mali na África.

Da janela da casa da Rua do Bispo olhava as estrelas no céu e imaginava ver as constelações
de Orion, Cão Maior e Cruzeiro do Sul. Procurei nos livros dos sebos, tudo sobre as estrelas
para entender o meu amor pela vida através das estrelas.

O carnaval me permitiu contar estas
histórias surgidas na Rua do Bispo através de enredos de carnaval místicos e esotéricos que
terminaram em canções épicas sobre Egito, Madagascar, Núbia, Axum, Etiópia, Dogons.

“Para manter meu elo com a Rua do Bispo, levo filhos, netos e amigos sempre a rua, para
mostrar onde eu nasci e como vivi e sobrevivi. Hoje com vários prédios abandonados, a rua do
Bispo clama por um milagre para votar a ter o brilho e luz dos anos do passado.”

Link original da matéria:
http://bahiaja.com.br/cultura/noticia/2017/12/19/a-casa-onde-eu-nasci-na-rua-do-bispo-e-a-
paixao-pelo-egito-joao-jorge,106461,0.html#.YG-rwHG_QF0.whatsapp

A CASA onde eu nasci na Rua do Bispo e a paixão pelo Egito,
E ao assistir, em companhia de meu pai, os filmes religiosos do Cine Pax, Liceu, Popular, Tamoio, Jandaia, Aliança, sempre tratavam de assuntos bíblicos e lá estava o Egito, muito branco, muito europeu, idealizado por Hollywood.
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  • Gildo Ribeiro

    Gildo Ribeiro é editor do Grupo 7 de Comunicação, liderado pelo Portal 7 Minutos, uma plataforma de notícias online.

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