mas antecipou o futuro
Aurora Safety Car: como um padre criou o carro mais feio da história
O Aurora Safety Car (“Carro Seguro Aurora”) foi um projeto de um padre Alfred A. Juliano, cuja paróquia ficava em Branford, Connecticut, EUA. Nascido em 1919, Juliano tinha duas paixões na vida: religião e design de automóveis.

Para entender por que tantas vezes o Aurora Safety Car foi chamado de carro mais feio da história, é só bater o olho nele. Contemple a maravilha que plástico, espuma sintética, fibra de vidro e imaginação dos anos 1950 trouxe ao mundo:
Mas esse é um caso de monstro que, como o do Dr. Frankenstein, é dotado de coração.
Ele foi feito
com as melhores intenções possíveis por um religioso católico. E, de várias maneiras, previu o
futuro da segurança automobilística.
Um padre, duas paixões
O Aurora Safety Car (“Carro Seguro Aurora”) foi um projeto de um padre Alfred A. Juliano, cuja
paróquia ficava em Branford, Connecticut, EUA.
Nascido em 1919, Juliano tinha duas paixões na vida:
religião e design de automóveis.
Chegou a se candidatar e ser ganhar uma vaga num programa de
estudos na General Motors, mas o convite só chegou quando tinha acabado de ser ordenado. Ainda
assim, como padre, chegou a buscar um doutorado em aerodinâmica pela Universidade de Yale, que
ficava próxima e não impedia seu trabalho.
Em 1953, o padre notou que muita coisa podia ser feita para diminuir a letalidade no trânsito, que
existe desde que existem carros (ou antes, porque acidentes com carroças também eram fatais).
Seus
próximos quatro anos seriam dedicados a criar um veículo, ao máximo possível, à prova de morte. O
carro que entraria para a história como o mais feio levou dois anos na prancheta, e mais dois para
ser feito.
E aqueles que chegaram a ter contato com o carro ficaram realmente impressionados em como um padre
que não sabia nada de mecânica conseguiu fazer um carro, estética à parte, extremamente bem-feito.
O Aurora, construído sobre um chassis de um Buick 1953 novinho saiu conforme as especificações.
Regular, sem partes tortas, um trabalho profissional.
O carro pode ser o mais feio, mas tem beleza interior
As esquisitices todas tem sua razão de ser: a frente em formato de pá, é para jogar os pedestres
sobre o capô, não embaixo.
A saia preta que circunda o veículo, em espuma sintética, é o primeiro
exemplo de parachoque emborrachado, hoje padrão. Na época eram todos de duro metal cromado.
O vidro em bolha é de resina plástica e o formato serviria para afastá-lo o máximo possível da
cabeça dos ocupantes.
Não há limpador de parabrisas porque, segundo o padre, era tão aerodinâmico
que a água não parava em cima.
Mas é por dentro que o design parece realmente previu o futuro.
O Aurora já vinha cintos de
segurança, o que então os fabricantes hesitavam em colocar porque achavam que isso faria os
clientes acharem que seus carros são inseguros.
O painel é emborrachado, e não de metal, como comum
na época. A barra de direção é deformável.
O carro conversível conta com uma gaiola de proteção, o que também não era feito, além de barras
laterais anticolisão. A posição dos passageiros é afastada das paredes, também para proteger em
caso de colisões.
E os bancos – essa não colou – podem se girar para trás, em caso de colisão
iminente, e proteger seus ocupantes.
A história lhe fez justiça
O “carro mais feio do mundo” parece menos repulsivo agora?
Talvez houvesse uma chance de as pessoas
em 1957 pensarem assim, mas o padre, por melhor que fosse seu talento em esculpir carrocerias, não
entendia mesmo nada de mecânica. Deixara o motor parado desde o começo do projeto, por quatro anos.
Assim, de sua garagem até a conferência de imprensa em que o mundo conheceria o Aurora, em Nova
York, a 137 km de distância, o carro quebrou 15 vezes, por entupimento do sistema de combustível.
Se você tem um carro com aspecto tão insólito, chegar atrasado e explicar que foi falha de
segurança não ajuda em nada.
O prego no caixão foi o preço: US$ 12 mil (US$ 117 mil hoje, ou R$ R$ 614 mil).
Na época, o carro mais caro dos EUA era o Cadillac Eldorado, por US$ 13 mil.
O padre Juliano, que já tinha até registrado uma marca industrial, acabou voltando para casa sem
nenhuma encomenda.
Com o projeto já tomando US$ 30 mil (US$ 292 mil, ou R$ 1,53 milhão), em parte
pagos pela congregação, ele não teve escolha se não vender sua maravilha para uma oficina mecânica
para a qual estava devendo.
Seria, em meio a investigações, expulso da Ordem dos Cavaleiros do Espírito Santo, pela qual havia
sido ordenado.
O padre morreria em 1989, sem mais trabalhar com veículos.
Seu legado seria bem por
em questão os padrões de segurança automotiva de seu tempo, com muitas novidades perfeitamente
razoáveis.
Pena que embaladas no que foi considerado o carro mais feio já visto.
By: Fábio Marton
Link original da matéria:
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