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Adam Driver não salva o amontoado de clichês que é 65 – Ameaça Pré-Histórica
Boa atuação do astro não disfarça falta de originalidade do filme
O tropo do “adulto desesperançado levando uma criança à segurança” tem sido cada vez mais usado em Hollywood desde a segunda metade da década passada. De Logan a Coquetel Explosivo, passando por The Mandalorian e The Last of Us – cujo jogo original, inclusive, popularizou esse modelo entre toda uma geração –, não faltam exemplos recentes de superproduções que se baseiam nessa premissa.
Mais novo lançamento do “gênero”, 65 – Ameaça Pré-Histórica até finge novidade ao misturar exploração espacial e dinossauros, mas acaba apenas repetindo o que outros títulos já fizeram antes e melhor.
A trama de 65 é básica: Adam Driver vive Mills, um explorador espacial de uma galáxia a anos-luz de distância do nosso planeta cuja missão leva, após um choque com asteroides, a cair na Terra há cerca de 65 milhões de anos. Sua tripulação quase toda morre na queda, com exceção de Koa (Ariana Greenblatt), uma pré-adolescente que fala um idioma completamente diferente do protagonista. Juntos, os dois precisam enfrentar um território hostil e cercado por dinossauros para chegar a uma cápsula de fuga que os leve para casa antes que o meteoro que matou os répteis gigantes acabe com o planeta. Embora essa sinopse até indique a possibilidade de um desenvolvimento empolgante, esse potencial nunca se realiza.
Com roteiro e direção de Scott Beck e Bryan Woods, que escreveram Um Lugar Silencioso, 65 aposta demais no seguro, criando uma previsibilidade que em momento nenhum é desafiada. Ecoando os desentendimentos e reconciliações dos protagonistas de Logan e homenageando (copiando) tomadas inteiras do primeiro Jurassic Park, a dupla mostra grande dificuldade em dar uma identidade própria ao filme, que rapidamente se perde no amontoado de clichês trazidos pelos cineastas na tentativa de criar alguma conexão com o público pela familiaridade.
Mesmo que precisem trabalhar com um material fraco, Driver e Greenblatt conseguem, ao menos, dar um pouco de emoção aos seus personagens. O trabalho sólido da dupla protagonista impede 65 de ser completamente engolido pela indiferença. Embora o desenvolvimento dos dois personagens seja absurdamente óbvia, seus intérpretes lhe dão o mínimo de profundidade necessária para que o espectador acredite na ligação dos dois, mesmo que o roteiro a apresse desnecessariamente.
Assim como fez em O Último Duelo e na trilogia mais recente de Star Wars, Driver dá peso até às falas mais medíocres que lhe são apresentadas pelo roteiro e, por vezes, salva o público de ceder ao sono causado pela ação maçante de 65. O ator ainda assim entrega uma atuação tão segura como as que mostrou nos ótimos Infiltrado na Klan, que lhe rendeu sua primeira indicação ao Oscar, e Logan Lucky.
O CGI de 65 também merece elogios.
Os dinossauros do filme são extremamente bem-feitos e não fazem feio nem quando comparados à multibilionária franquia Jurassic World.
Mais convincentes do que muitas criaturas digitais “simples” vistas em outros blockbusters, os lagartões aparecem imponentes e até distraem um pouco dos inúmeros problemas de lógica e furos de roteiro.
É uma pena que o bom trabalho dos artistas digitais seja tão mal aproveitado por Beck e Woods. Procurando passar uma sensação de urgência em suas sequências de ação, os cineastas usam cortes rápidos que acabam ocultando os dinossauros, principal atrativo de 65. Em seu lugar, a dupla prefere focar nos apetrechos futuristas de Mills ou na expressão preocupada de Koa, escondendo algumas das poucas coisas boas que 65 tinha a oferecer.
Previsível, 65 – Ameaça Pré-Histórica recria elementos-chave de títulos de sucesso em uma tentativa frustrada de conquistar o público. Preso a clichês criados por produções melhores, o filme nunca encontra uma identidade própria e nem mesmo o bom trabalho de seu enxuto elenco o salva de ser um traço nos currículos de todos os envolvidos.
Por: NICO GARÓFALO