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A História do Poder
O poder sempre teve suas próprias pernas, um andar peculiar, entre o imponente e o vacilante.
Ele não caminha sozinho; traz consigo a história da humanidade, um reflexo turvo do que somos e aspiramos ser.

No início, era bruto, direto como uma rocha lançada.
Nas cavernas, o mais forte ditava as regras: quem caçava, quem comia e quem não dormia.
Mas o poder, mesmo assim, nunca era estático.
Um dia, aquele que segurava a clava perdeu a força, e outro assumiu o posto.
Nascia ali a primeira grande lição do poder: ele não pertence a ninguém, apenas transita.
Com o tempo, o poder deixou os músculos e encontrou a mente.
As palavras se tornaram armas, e aqueles que sabiam manipulá-las começaram a moldar o mundo.
Veio a agricultura, e com ela, a necessidade de cercas.
Quem tinha terra tinha poder.
Logo surgiram reis, coroas, e tronos feitos não só de ouro, mas de promessas e medos.
O poder, então, descobriu que era mais eficiente quando invisível.
Ele se espalhou como um vento, presente em tudo: nos livros que contavam as versões “certas” das histórias, nas leis que puniam mais uns do que outros, nas moedas que brilhavam nas mãos de poucos.
Mas o poder é vaidoso e gosta de se exibir.
Em suas formas mais audaciosas, construiu palácios e ergueu exércitos.
Os impérios que o dominaram juravam ser eternos, mas ele, traidor nato, já fazia acenos para os bárbaros à porta.
Chegamos, então, à era moderna, quando o poder resolveu vestir outra máscara: a da liberdade.
Ele deixou as coroas e se instalou em gravatas, telas de computador e algoritmos.
Acreditamos controlá-lo enquanto damos “likes” e assinamos contratos que mal lemos.
Ele ri de nós enquanto nos iludimos com a ideia de escolha.
E assim, o poder segue. Não é bom nem mau, apenas está.
Ele dança de mãos em mãos, transforma-se, adapta-se.
Pode ser um microfone ou um silêncio, uma palavra ou uma omissão.
O segredo, talvez, seja lembrar que ele só existe porque o reconhecemos.
Afinal, sem um olhar que o legitime, o poder é apenas um vulto em busca de forma.
E, ao que parece, ele ainda não cansou de brincar conosco.
Rodrigo Schirmer Magalhães
Cientista Político
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