Opinião: J.R. GUZZO
A treva do ministro Barroso: STF quer criar sozinho uma lei para as redes sociais
Ministro Luís Roberto Barroso declara que Congresso teve tempo ‘razoável’ para aprovar legislação e não o fez
O presidente do STF, pelo que diz em público e pelas decisões que toma, é uma lanterna que funciona ao contrário: sempre que aponta para algum lugar, cria a escuridão imediata sobre tudo aquilo que até então estava claro.
A liberdade de expressão, um dos pontos mais luminosos da aventura humana, é para ele e seus colegas uma doença social.
Tem de ser combatida, como a febre amarela, e o ministro Luís Barroso faz isso criando o máximo possível de treva no debate sobre o tema.
Sua última barragem de artilharia contra o direito constitucional à palavra livre é uma aula magna sobre os usos da sua lanterna da escuridão.
A possível revisão das normas que hoje regulam as redes sociais é claramente um assunto do Congresso Nacional, e de ninguém mais.
Só o parlamento está autorizado a fazer leis no Brasil – uma auto evidência óbvia como o sol do meio-dia.
Não interessa se são boas, médias ou ruins.
São as únicas possíveis.
Barroso e o STF discordam.
Acham só eles fazem as leis “certas”.
No caso, o presidente do STF diz que os ministros estão criando a legislação de fato sobre a questão, ao julgarem processos relacionados a ela, porque o Congresso ainda não aprovou nenhuma lei para regulamentar as redes sociais.
O tribunal aguardou, por um período bastante razoável, a sobrevinda de legislação por parte do Poder Legislativo,
diz Barroso.
Não ocorrendo, chegou a hora de decidirmos essa matéria.
É a treva absoluta do oceano a 10 mil metros de profundidade – ali onde a luz não entra, nunca.
Na verdade, é raro encontrar tanta falsidade num único pensamento.
Onde está escrito, para começar, que o Congresso tem “prazo” para aprovar qualquer tipo de lei?
Isso não existe.
E quem define o que seria um prazo “razoável”?
Prazo, na lei, é prazo: 24 horas, 10 dias, 30 anos.
Se não está escrito, não é nada.
“Razoável” é um adjetivo; expressa uma opinião, e lei não tem adjetivo, nem opinião.
É integralmente falso, também, que não exista lei regulamentando o uso das redes sociais do Brasil.
Existe, sim, há dez anos – é o marco civil da internet.
O que não existe, na verdade, é uma lei que o STF goste.
O regulamento em vigor preserva a liberdade de expressão, e a liberdade de expressão é a besta-fera fundamental que o STF quer eliminar no Brasil.
Exigem a censura prévia e eterna, onde o cidadão é proibido de dizer até mesmo o que ainda não disse – é o que acontece quando lhe cassam o “perfil” e não devolvem.
A liberdade de palavra é uma conquista essencial da humanidade.
Barroso, Moraes, Dino etc. acham que é propriedade privada do Estado, a ser dada nas doses que eles querem.
Não há nada mais escuro.
Opinião por J.R. Guzzo
Jornalista escreve semanalmente sobre o cenário político e econômico do País