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Política do Novo Brasil

Davi Alcolumbre volta à presidência do Senado sob sombra das investigações das emendas parlamentares

Senador do Amapá, que manteve influência fora da presidência, retoma a cadeira numa nova era de escrutínio sobre verbas do Congresso

BRASÍLIA – Com apoio do PT de Luiz Inácio Lula da Silva ao PL de Jair Bolsonaro, Davi Alcolumbre (União-AP) voltou à presidência do Senado Federal.

Tendo a vitória dada como certa há meses, ele se consagrou numa eleição sem grande concorrência neste sábado, 1.º, e ficará na cadeira pelos próximos dois anos.

Com 73 votos, o parlamentar do Amapá retornou ao cargo que ocupou entre 2019 e 2021. Os adversários Eduardo Girão (Novo-CE) e Marcos Pontes (PL-SP) tiveram quatro votos, cada.

No primeiro discurso após a vitória, Alcolumbre afirmou que o Congresso deve ser “porta-voz” do sentimento dos brasileiros.

Para o novo presidente do Senado, o objetivo dos parlamentares em facilitar a vida do cidadão exigirá por vezes um posicionamento corajoso perante o governo, o Judiciário, a mídia ou o mercado.

Nem sempre agradaremos a todos, afirmou.

O céu sob o qual Alcolumbre vai comandar a Casa desta vez, entretanto, está mais tempestuoso do que antes.

Se durante o seu primeiro mandato (2019-2021) o orçamento secreto revelado pelo Estadão vingou e se estabeleceu, agora as mesmas emendas sem transparência estão sob investigação regida pelo ministro do Supremo Tribunal Federal (STF) Flávio Dino – um temor que paira sobre políticos em Brasília.

Enquanto as emendas de relator (RP9) transmutaram nas emendas de comissão (RP8) após serem consideradas inconstitucionais pela então ministra Rosa Weber em 2022, Alcolumbre também se adaptou e conseguiu manter sua influência mesmo fora da presidência.

Passou os últimos dois anos na chefia do colegiado mais importante do Parlamento, a Comissão de Constituição e Justiça (CCJ), pavimentando o caminho de volta depois de eleger o seu sucessor, Rodrigo Pacheco (PSD-MG).

A relação de Alcolumbre com as emendas parlamentares é tamanha que seus aliados atribuem a ele a “nova era” vivida em seu Estado, o Amapá.

A enxurrada de repasses viabilizada por articulação do senador levou a uma goleada nas eleições municipais em sua terra natal.

Com dinheiro em caixa sem precedentes, 14 dos 16 prefeitos (87,5%) ou se reelegeram ou conduziram os seus sucessores à vitória.

Mesmo antes do pleito, candidatos da oposição reconheciam ser difícil competir contra os incumbentes.

O escoamento de verba pública nas prefeituras amapaenses – e de todo o Brasil – provocou um fenômeno de popularidade aos gestores municipais, que conseguiram convertê-la em obras em meio às suspeitas de irregularidades.

Um relatório elaborado pela Controladoria-Geral da União (CGU) enviada ao STF em setembro colocou uma lupa sobre o potencial escândalo.

Entre os dez municípios mais beneficiados por emendas parlamentares por número de habitantes entre 2020 e 2023, cinco são do Amapá – o pódio todo é do Estado de Alcolumbre.

A gente diz aqui no Estado que existe um Amapá antes do senador Davi Alcolumbre na presidência do Senado,

e existe outro Amapá depois, disse à época ao Estadão o deputado estadual Rodolfo Vale (PCdoB-AP), aliado de Alcolumbre.

O poderio de Alcolumbre gerou uma corrida para se colar ao senador, o que pôde ser visto na movimentação partidária no Amapá para o pleito de 2024.

O União Brasil, sigla que ele comanda, elegeu seis prefeituras em 2020 (37% do Estado). Hoje, são nove entre 16, ou 56%.

Governismo

Se há dúvidas hoje se o mesmo cenário vai prosperar no próximo mandato de Alcolumbre, aliados de Lula esperam que uma das características do senador vá se manter: o governismo.

Há precedentes. Em 2019, surfando a onda da “nova política” que havia invadido as eleições do ano anterior, o amapaense foi alçado à presidência da Casa ao derrotar o símbolo-mor do tradicionalismo político, Renan Calheiros (MDB-AL), um dos poucos sobreviventes da terra arrasada deixada pela Operação Lava Jato.

O que se viu nos anos seguintes, porém, foi um alinhamento de Alcolumbre ao governo Bolsonaro.

Durante o terceiro mandato de Lula, a dinâmica se mantém. Alcolumbre acompanhou o líder do governo, Jaques Wagner (PT-BA), em mais de 80% das votações no Senado em 2023 e 2024, segundo levantamento do Estadão.

De outro lado, ele se posicionou igual ao líder da oposição, Rogério Marinho (PL-RN), entre 48% e 63% das vezes no biênio.

A influência de Alcolumbre extrapola o Senado e deságua no Executivo. As indicações de Juscelino Filho (União-MA) ao Ministério das Comunicações e de Waldez Góes (PDT-AP) na Integração e do Desenvolvimento Regional são atribuídas ao senador.

Mesmo assim, para bolsonaristas, agora será diferente.

Eles dizem esperar que Alcolumbre, desta vez, atue como um árbitro, e não como um líder do governo como foi o Pacheco.

Afirmam não querer tratamento especial, mas “respeito à proporcionalidade da bancada do PL” – o que não houve no último biênio, quando o partido de Bolsonaro foi derrotado na eleição à presidência e ficou alijado dos principais cargos da Casa.

Para além do crédito político, preocupações também cercam o senador.

A Operação Overclean da Polícia Federal tem mirado um esquema de desvio de emendas parlamentares que pode atingir em cheio seu partido, o União Brasil.

O empresário José Marcos Moura, conhecido como “Rei do Lixo”, e outros dez investigados chegaram a ser presos na esteira do caso, que agora foi encaminhada ao STF por causa de uma citação ao deputado Elmar Nascimento (BA), que tem foro privilegiado e é aliado de Alcolumbre.

Perfil parlamentar
Os senadores definem Alcolumbre como “intuitivo, ameno, alegre, receptivo”, “profundo conhecedor do regimento interno” e “um clássico político generalista”, em referência ao fato de o amapaense não demonstrar ser especialista em tema algum, seja infraestrutura, economia, saúde.

Sua produção legislativa é escassa.

É autor de cinco projetos de lei no Senado desde 2019.

Um deles rebatiza o hospital da Universidade Federal do Amapá com o nome de Papaléo Paes, ex-governador e ex-senador do Estado.

Uma das poucas vozes opositoras a Alcolumbre, o senador Eduardo Girão (Novo-CE) tinha esperanças que um movimento de última hora pudesse derrubar o Davi,

assim como Davi derrubou o Golias em 2019, em referência a Calheiros. Antes da votação, criticava o que chamou de continuísmo  na troca da presidência, e pedia um Senado menos alinhado ao Palácio do Planalto.

 

Sob Davi, o Senado nunca se rebaixou tanto.

A derrocada continuou com Pacheco.

O povo quer um Senado independente, altivo.

O Davi já teve a sua chance, precisamos oxigenar, afirmou ao Estadão.

De ascendência marroquina e sobrenome judaico, Alcolumbre nasceu em 1977 em Macapá.

Estudou Direito, e foi eleito vereador em 1999, aos 22 anos.

Depois alcançou a Câmara dos Deputados, onde permaneceu por três mandatos até atravessar definitivamente o Salão Verde do Congresso.

Depois de um conturbado governo Bolsonaro com ataques à democracia e pandemia de covid-19, Alcolumbre retoma a cadeira num cenário que indica uma mudança de ventos em Brasília, com maior escrutínio sobre as verbas do Congresso.

E as nuvens escuras agora vêm do outro lado da Praça dos Três Poderes.

Por Guilherme Caetano

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ESTADÃO

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  • Gildo Ribeiro

    Gildo Ribeiro é editor do Grupo 7 de Comunicação, liderado pelo Portal 7 Minutos, uma plataforma de notícias online.

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