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Crítico do NYT chama ‘Ainda Estou Aqui’ de ‘melodrama sem açúcar’ e diz que Oscar está ‘estranho’

Para ele, todos os 10 indicados a melhor filme em 2025 são estranhos.Assumem formas estranhas. As pessoas neles fazem coisas estranhas. Eles induzem estranheza em nós

É bem provável que escândalos, fofocas, política e um senso geral de

Nunca ouvi falar disso antes tenham obscurecido algo óbvio e importante a respeito dos 10 indicados ao Oscar de Melhor Filme deste ano.

  • Eles são estranhos — todos eles.
  • Assumem formas estranhas.
  • As pessoas neles fazem coisas estranhas.
  • Eles induzem estranheza em nós.

Demi Moore se espeta com uma gosma conhecida como A Substância, e de suas costas abertas sai Margaret Qualley, que se recusa a obedecer às regras da gosma e começa a arruinar sua vida.

Paguei para ver este filme em um cinema lotado em uma tarde de sábado, quando rimos, gritamos e quase vomitamos.

Acredite ou não, este filme é um conto de fadas, um conto engraçado.

Anora também é.

Neste, a futura princesa é uma stripper do Brooklyn que se casa com um idiota russo cujo pai oligarca envia um esquadrão de capangas para obter uma anulação da união.

Se eu dissesse que O Brutalista durou mais de três horas e colocou um sobrevivente recente do Holocausto contra seu empregador endinheirado, talvez alguém perguntasse qual laboratório do Oscar inventou essa coisa.

Então eu teria que responder que a escala dessa coisa é tão estranhamente íntima, de uma fragrância tão pessoal, que parece tanto uma bisbilhotice quanto sua premissa soa familiarmente épica.

‘Ainda Estou Aqui: melodrama sem açúcar’
Um melodrama brasileiro sem açúcar envolvendo uma ditadura (Ainda Estou Aqui) está na disputa contra um musical americano muito açucarado envolvendo uma ditadura (Wicked). Conclave, suspense do tipo escolha um papa, depende tanto de facadas que parece um filme de prisão, e mostra mais arrogância de refeitório do que Meninas Malvadas.

Por um período, o favorito foi Emilia Pérez, um conto de fadas musical cujas canções desrespeitam o ritmo e a melodia, e cujo senhor do cartel mexicano confunde sua transgeneridade com santidade.

Então, os antigos comentários preconceituosos de sua estrela no Twitter e alguns comentários ásperos de seu poderoso diretor francês (sobre mexicanos e o espanhol que eles falam) transformaram a corrida do Oscar em um Conclave da vida real.

Então, temos Duna: Parte Dois, um filme de aparência tão cara, tão bem-acabado, de bom gosto, tão artisticamente feito que é fácil manter-se passivo diante de tudo o que há de estranho nele.

Mas vejam!

É Stellan Skarsgard, imenso, cheio de dobras e fumando um narguilé, como um barão cuja perversão, em parte, é despertada por gladiadores lutando em um estádio colossal.

Quando esta série estiver completa, muitas horas terão sido gastas assistindo Timothée Chalamet como o Escolhido em meio a uma guerra por temperos.

É um “Lawrence dos Condimentos”, “Temperados no Espaço”.

A disputa oferece Chalamet em dupla exibição.

Em Um Completo Desconhecido, ele corajosamente reimagina Bob Dylan como uma figura de tremenda petulância.

Caso contrário, pode ser a coisa mais convencional que poderíamos esperar ver retratando a vida de um esquisitão único; e isso conta como meio esquisito.

Nickel Boys se desenrola durante a ascensão de Dylan, mas na Flórida das leis de segregação Jim Crow, em oposição a Greenwich Village, então, essencialmente, em um planeta diferente.

Colson Whitehead escreveu um romance com o mesmo nome, mas este filme é menos um feito de adaptação do que um sonho geral do que Whitehead compôs.

Ele foi filmado para que víssemos apenas o que seus dois protagonistas vivenciam, através de seus olhos — amizade, abuso, autoestranhamento.

Essa escolha simples — personificar a câmera — pode ser o mais próximo de “vanguarda” que um indicado a Melhor Filme chegou desde a última vez que Terrence Malick esteve envolvido em alguma premiação.

‘O Quinto Filme’
Antes de 2009, quando a Academia de Artes e Ciências Cinematográficas cometeu o erro de expandir o total de indicados de cinco para até 10, e depois simplesmente para 10, os quintetos geralmente incluíam o que eu encarava como o Quinto Filme.

Era mais artístico ou pop, mais indie e mais de outro lugar (como México ou Sundance) do que seus colegas indicados, menos um sucesso, ou apenas um autêntico sucesso de bilheteria, mais provavelmente dirigido por, digamos, Robert Altman ou Paul Thomas Anderson.

Seria aquele sem indicação para o Oscar de melhor diretor?

Posso provar que, digamos, Crash foi o Quinto Filme entre os indicados de 2006?

Não posso (talvez esse filme tenha sido Capote).

Crash conseguiu um feito de azarão.

O filme ganhou.

Mas é uma surpresa entre os ganhadores de Melhor Filme porque parece ter vencido por uma margem mínima (além de ser ruim).

‘Arte complexa e humana que Hollywood costumava fazer foi terceirizada’

Há outras coisa a respeito dos personagens desses filmes.

Apesar de tudo o que é jogado contra eles, optaram por resistir, viver, às vezes ridiculamente, como vingança, mas especialmente como uma questão de mera sobrevivência.

Estão nos mostrando nós mesmos.

Mas o espelho está embaçando.

A arte complexa e humana que Hollywood costumava fazer, mesmo que apenas para se elogiar por tê-la feito, foi terceirizada e importada.

Costumava fazer um filme forte de chororô baseado em princípios como Ainda Estou Aqui uma ou duas vezes por ano (desde 2010, a maioria dos vencedores do Oscar de direção vem de fora dos Estados Unidos: do México e da França, da Coreia do Sul e de Taiwan).

Então, o que está acontecendo nos EUA?

Um campo expandido e uma academia mais jovem e menos americana significam que classes excluídas (atores não brancos, filmes de outros países) estão ganhando mais?

Claro.

Mas os artistas que fizeram a maior parte dos indicados deste ano não aspiram uniformemente a fazer Duna ou Wicked, com todo o devido respeito a Duna e Wicked.

Eles querem fazer sua travessura do Brooklyn sobre uma trabalhadora do sexo sequestrada que se casa precipitadamente.

Eles também não querem ser punidos por seguir o que os faz felizes.

No recente Spirit Awards, o prêmio de direção foi para Sean Baker por Anora.

E ele usou a ocasião para destacar os prejuízos da nossa atual era digital e fazer um apelo sincero por uma compensação mais humana, que é o que seria de se esperar dos raros cineastas americanos cujo trabalho prefere imaginar a vida dos miseráveis do país.

Ele estava pedindo um salário digno para si e seus colegas na produção cinematográfica independente.

É uma ironia amarga.

Muitos de nós lamentamos que os filmes de antigamente nunca seriam feitos agora.

Eles são sombrios demais, originais demais, alegres demais e ainda assim brilhantes para obter o sinal verde de um estúdio atualmente.

Os filmes desta turma de 2025 são os filmes que eles jamais fariam agora.

Se esses outsiders são tudo o que a indústria tem para manter o interesse na sua maior noite e são cineastas de relativa subsistência,

talvez seja o caso de transformar o Oscar em uma arena de mérito mais nobre: algo como, não sei, a Fundação MacArthur, a organização das bolsas para gênios.

Conceder aos indicados o orçamento e as despesas de subsistência para realizar seu próximo filme.

Normalmente, isso seria chamado de fazer um acordo (ou “Projeto Greenlight”).

Mas que luxo.

Agora, seria estranho se nem mesmo considerássemos uma tentativa nesse sentido.

Em vez da premiação Academy Awards, a recompensa do primeiro Academy Rewards. / TRADUÇÃO DE AUGUSTO CALIL

Por Wesley Morris (The New York Times)
*Wesley Morris é crítico do jornal norte-americano The New York Times e escreve sobre arte e cultura popular.

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Fernanda Torres e Luiza Kosovski em ‘Ainda Estou Aqui’. Foto: Sony Pictures/Divulgação
Demi Moore se espeta com uma gosma conhecida como A Substância,   Foto: BBC NEWS   Divulgação
Estátua do Oscar é limpa próxima ao tapete vermelho na parte de fora do Teatro Dolby em Hollywood, Los Angeles, nos Estados Unidos, em 28 de fevereiro de 2025. Foto: Jutharat Pinyodoonyachet/The New York Times
Filme Emilia Pérez com Karla Sofía Gascón. Foto: Getty Imagens
Estátuas do Oscar na frente do Dolby Theatre em 1.º de março de 2025 Foto: Angela Weiss/AFP

 

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  • Gildo Ribeiro

    Gildo Ribeiro é editor do Grupo 7 de Comunicação, liderado pelo Portal 7 Minutos, uma plataforma de notícias online.

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