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Você sabe o que é ‘doomscrolling’? Entenda o fenômeno e saiba como evitar

Círculo vicioso alimentado por algoritmos reforça atração por conteúdos negativos; reconhecer padrão é primeiro passo para romper o ciclo

Rolar sem parar o feed das redes sociais, em busca de notícias ruins, se tornou um comportamento comum na era dos smartphones.

O fenômeno, batizado de ‘doomscrolling’, combina design de plataformas, algoritmos e uma tendência humana evolutiva de vigilância constante para formar um hábito que especialistas alertam ser prejudicial ao bem-estar psicológico.

Estamos programados para monitorar ameaças.
Isso está no nosso DNA,

explicou Angelica Mari, especialista em cyberpsicologia, em entrevista ao Estadão.

Consumir informação sobre desastres ou notícias ruins dá uma falsa sensação

de preparação e controle frente a essas ameaças.

Segundo ela, essa tendência natural é hiperativada no ambiente digital, que opera por meio de estímulos constantes e recompensas intermitentes.

O design das plataformas, com rolagem infinita,

notificações e métricas de engajamento, favorece a permanência do usuário e,

consequentemente, a exposição prolongada a conteúdos de teor negativo

É um ambiente muito propício ao doomscrolling, afirma Angelica.

Em um ambiente digital que amplifica o viés negativo, o ‘doomscrolling’ se torna um fenômeno difícil de evitar.

Os algoritmos das redes sociais reforçam esse viés porque tendem a dar mais atenção à informação negativa.

Isso cria um ciclo de feedback: conteúdo negativo engaja mais, o que leva a mais conteúdo negativo, diz a especialista.

Embora não haja dados conclusivos sobre os grupos mais afetados, a especialista apontou que pessoas em contextos vulneráveis tendem a sentir os efeitos de forma mais intensa.

Se você já vive uma situação de ameaça real e entra num ambiente digital que amplia essa programação,

parece razoável que o doomscrolling  seja mais presente.

Como identificar que está imerso no ‘doomscrolling’

Os sinais de que a prática se tornou excessiva nem sempre são claros, mas podem incluir comportamentos como a procrastinação digital e a sensação de perda de tempo.

A pessoa passa três, quatro horas no celular e nem percebe.

Fica lendo sobre tarifaço, emergência climática, as várias facetas do apocalipse,

entre outras notícias ruins, afirma Angelica.

Não que devamos nos alienar, mas há um ponto em que isso paralisa.

Outro indicativo seria o envolvimento em comportamentos digitais automáticos,

como encher carrinhos de compras virtuais sem intenção real de adquirir os produtos.

O algoritmo entende aquilo como interesse, e o ciclo se retroalimenta.

O indivíduo se envolve em comportamentos digitais que reforçam o nefasto.

De acordo com Angelica, há uma ligação entre o ‘doomscrolling’ e a nomofobia, o medo irracional de ficar sem o celular

Ela anda de mãos dadas com o doomscrolling, porque o celular é a principal via para essa prática.

A pessoa sente que não consegue ficar sem o aparelho, nem sem acessar esses conteúdos.

O Brasil, segundo a especialista, é particularmente vulnerável a esse tipo de comportamento.

É um dos países com maior índice de vício em celular.

Isso nos torna uma população altamente suscetível ao vício em padrões destrutivos dentro do aparelho, explicou.

Efeitos emocionais do ‘doomscrolling’

A exposição contínua a notícias ruins não é apenas desgastante, ela pode gerar efeitos psicológicos profundos.

Psicologicamente, o  oomscrolling é um confronto com a sombra coletiva da humanidade,

explicou a ciberpsicóloga.

Consumir essas notícias desastrosas o tempo todo é se envolver,

ainda que inconscientemente, com o lado sombrio do que é ser humano.

Ela também explicou que existe uma atração paradoxal por aquilo que é perturbador, como uma tentativa de lidar com os aspectos sombrios da realidade.

A prática também tem algo de ritual coletivo. A gente está absorvendo,

e sendo absorvido, por essa ansiedade coletiva.

Com o tempo, esse ciclo pode distorcer a percepção de realidade e comprometer a saúde emocional.

Quem está preso a essas dinâmicas está preso ao mundo do simulacro,

vivendo negação de si mesmo, do outro, e se afastando da realidade.

É preocupante, pontuou a especialista.

Como sair do ciclo?
O caminho para sair do ‘doomscrolling’ começa pela conscientização.

Fora do escopo técnico, o primeiro passo é reconhecer o padrão.

Pensar sobre o que esses aspectos sombrios representam.

Muitas vezes, o ‘doomscrolling’ é uma tentativa de compreender a realidade, disse Angelica.

Para romper com o ciclo, a especialista recomenda práticas que reorientem a atenção para o interior.

Meditação, caminhar no parque, ler um livro, essas coisas parecem utópicas diante da realidade,

mas não se trata de alienação. É sobre equilíbrio.

E talvez transformar essa energia do ‘doomscrolling’ em ação significativa no mundo.

Ela destacou também a importância da chamada “higiene digital”.

Existem ferramentas: o Instagram, por exemplo, permite limitar o tempo de uso diário.

E quando atingir esse limite, não estenda.

Respeite os limites que você mesmo definiu.

Para definir um limite de tempo de uso no Instagram,

o usuário deve abrir o aplicativo, tocar no menu de três linhas no canto superior direito do perfil e selecionar a opção

Sua atividade.

Em seguida, basta acessar Tempo de uso e tocar em Definir lembrete diário.

É possível escolher o tempo máximo que deseja passar na plataforma por dia, ao atingir esse limite, o Instagram envia uma notificação lembrando o usuário de fazer uma pausa.

No TikTok, o processo é parecido.

O usuário deve tocar em Perfil, depois no menu de três linhas no canto superior e selecionar

Configurações e privacidade.

Em Bem-estar digital, é possível ativar o Tempo de tela diário e escolher um limite personalizado.

O app também oferece recursos extras, como resumos semanais de uso e a possibilidade de proteger as configurações com senha, em casos de controle parental.

Se necessário, vale considerar medidas mais radicais,

como a desinstalação temporária de aplicativos ou a mudança do eletrônico que costuma utilizar

A experiência no desktop é diferente e pode inibir o uso excessivo, afirmou a ciberpsicóloga.

Mas a mudança depende de disposição genuína para alterar o comportamento.

Muitas pessoas têm letramento digital suficiente para buscar formas de conter isso.

A questão é: será que elas realmente querem?

É preciso se perguntar: quanto tempo você está deixando de dedicar ao que realmente importa?

Esse é o X da questão, concluiu.

Por Alice Labate

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  • Gildo Ribeiro

    Gildo Ribeiro é editor do Grupo 7 de Comunicação, liderado pelo Portal 7 Minutos, uma plataforma de notícias online.

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