POLÍTICA AMARGA
Quem nunca comeu melado, quando come se lambuza.
A frase popular que abre este texto nunca foi tão apropriada para descrever a atual administração municipal de Goiânia.

Como um doce que se transforma em sabor amargo na boca do eleitor, assistimos à metamorfose de um candidato que, ao provar o poder, parece ter esquecido o gosto das próprias rosquinhas que o tornaram famoso.
Entre promessas de campanha e a realidade administrativa, o abismo só aumenta, enquanto os goianienses observam, dia após dia, o surgimento de um prefeito muito diferente daquele que escolheram nas urnas.
Ao longo dos últimos meses, presenciamos um Sandro Mabel completamente diferente daquele do período eleitoral ou pós-eleitoral, quando ainda pairava a possibilidade de perder o mandato por ações questionáveis durante a campanha.
Superado esse período turbulento, testemunhamos o nascimento de um novo gestor municipal.
É como se alguém tivesse alterado a receita das tradicionais rosquinhas Mabel.
O sabor adocicado transformou-se em algo amargo e rançoso, deixando um gosto desagradável na boca de quem confiou seu voto nele.
Em seu perfil nas redes sociais, o prefeito demonstra uma desenvoltura digital que poderia fazer inveja a influenciadores profissionais como Virgínia Fonseca.
Vídeos bem produzidos, cuidadosamente editados e com roteiros envolventes povoam suas páginas.
Se Virgínia vende com maestria o polêmico jogo do Tigrinho, Mabel comercializa com igual eficiência sua imagem de prefeito exemplar.
E tal qual os seguidores da influenciadora, que perderam dinheiro com apostas questionáveis (fato esse discutido em uma CPI do Senado), o goianiense também perde com seu prefeito-influencer.
A cada novo vídeo publicado, fica mais evidente que elegemos um candidato e recebemos outro completamente diferente.
E nem podemos reclamar, pois a decisão estava literalmente em nossas mãos, na ponta de nossos dedos – assim como os jogadores do Tigrinho, nossos dedos nos fazem perder diariamente, seja em apostas virtuais ou nas escolhas que fazemos nas urnas.
Recentemente, Sandro Mabel expressou publicamente sua insatisfação com uma matéria veiculada pelo jornal O Popular.
Permitam-me usar o ambiente digital para fazer uma analogia pertinente:
quem nunca viu aquele meme do Tino Marcos com o Galvão Bueno?
Galvão? – Fala, Tino.
– Sentiu!.
Sim, ficou evidente que o prefeito sentiu o peso do algoritmo jornalístico que expôs aquilo que talvez o empresário Sandro Mabel preferisse manter nas sombras.
O jornalismo tem essa característica fundamental: não se alimenta apenas de dancinhas de TikTok, mas também da verdade que o leitor merece conhecer.
O vídeo do prefeito tentando deslegitimar O Popular assemelhou-se àquelas manifestações de personalidades midiáticas que, quando confrontadas com fatos inconvenientes, reclamam de interpretações equivocadas e conteúdos supostamente descontextualizados. Ah, O Popular, que texto certeiro!
O que realmente diferencia Sandro Mabel de Rogério Cruz?
Permito-me aqui fazer um elogio ao ex-prefeito Cruz, que foi literalmente a cruz dos goianienses durante sua gestão.
Sempre que duramente questionado, demonstrava uma humildade peculiar e ironia sutil, mas de forma respeitosa, como bom conterrâneo que é.
Esbanjava o característico “S” em sua fala, mas jamais se mostrou desrespeitoso, agressivo ou arrogante.
Irônico muitas vezes o Cruz se portou, mas quão diferente se porta Mabel todas as vezes que suas decisões são questionadas! Já prometeu fechar um Centro Municipal de Educação Infantil (CMEI), que classificou com todas as letras como um “Ninho de Ratos”.
Também ameaçou deixar na escuridão a região de atuação dos vereadores Aava Santiago e Fabrício Rosa, por ousarem questionar o uso de recursos públicos para iluminar áreas próximas à sua própria residência com o programa “Brilha Goiânia”.
Minha sugestão construtiva seria instalar um poste desse mesmo programa na sala do prefeito, para iluminar sua mente, clarear suas ideias e evitar que sua administração se transforme em um arrependimento semelhante ao que os eleitores ainda amargam pela escolha de Rogério Cruz.
E por falar no antecessor, em quase nada Mabel se diferencia dele. A base na Câmara Municipal permanece praticamente idêntica.
Abstenho-me de comentar sobre seus auxiliares de primeira linha, mas posso garantir (com evidências que não apresentarei publicamente, mas que compartilho em círculos mais restritos) que muitos de seus atuais colaboradores e assessores falam sobre sua atuação de maneira que frequentemente beira o exagero.
Imagino o clima organizacional agradabilíssimo que deve ser trabalhar com um empresário que aparentemente confunde a administração municipal com uma empresa privada, ignorando as diferenças fundamentais entre os setores público e privado.
Que pena!
Quando finalmente aceitar essa realidade incontornável, provavelmente terá que reconsiderar muitas, senão todas, as suas decisões administrativas.
Durante o período eleitoral, enfrentamos um adversário que, mesmo com uma equipe de campanha reduzida, conseguiu fazer Mabel suar a camisa.
Por muito pouco, realmente por muito pouco, ele não perdeu a eleição. Penso que o atual prefeito deveria recordar-se constantemente desse fato.
Pois no momento mais crítico da campanha, quando os custos aumentavam vertiginosamente e uma legião de profissionais se desdobrava para vender a imagem do “Mabel do povo”, do “Mabel das Rosquinhas”, do “Mabel do Skiny” – aquela pessoa aparentemente simples que merecia derrotar Fred Rodrigues nas urnas – a realidade era outra.
Que ironia!
Se listássemos nominalmente todos os profissionais que planejaram e trabalharam na campanha de Fred, incluindo apoiadores diretos e indiretos do candidato alinhado ao bolsonarismo, não chegaríamos a um quarto da quantidade de profissionais que trabalharam para Mabel.
Até mesmo eu, que apoiava um candidato do União Brasil à reeleição, acabei envolvido indiretamente na campanha de Mabel por solicitação de assessorados.
Foi uma disputa árdua e, por muito pouco, a metafórica rosca não caiu na xícara de café frio que já aguardava sobre a mesa.
E por falar em Fred Rodrigues, onde estará o ex-candidato agora?
Provavelmente rindo de nossa situação atual.
Consigo imaginar sua figura irônica e sarcástica zombando de nós, goianienses.
Fred, um respeitoso cumprimento para você que, embora não fosse minha opção de voto, merece reconhecimento.
Encaminhando-me para a conclusão deste artigo, receio que Mabel possa transformar-se em uma figura caricata semelhante àqueles profissionais de escolas particulares que educadamente chamamos de “bedel”, passando a exigir diariamente que secretários e auxiliares entreguem as chaves de seus departamentos ao final do expediente e as solicitem novamente ao chegar para trabalhar.
Um verdadeiro guardião das chaves da Prefeitura de Goiânia.
Poderia estender-me mais, mas reservarei para outro momento a análise sobre a controversa Taxa de Lixo, que para muitos cidadãos representará um aumento superior a 50% nos valores atualmente pagos em suas contas.
E não ouse, senhor prefeito, contestar essa afirmação – disponho de pelo menos doze casos documentados onde os imóveis ultrapassam o valor máximo para isenção, apesar de utilizarem minimamente os serviços de água fornecidos pela SANEAGO.
Para diversos contribuintes, a Taxa de Lixo significará um aumento na conta de água variando entre 32% e 53%.
Mesmo que venha discriminada como Taxa de Lixo, para muitos representará, na prática, um aumento substancial na tarifa de água da SANEAGO.
Goiânia não é um sistema operacional, não tem “S” no nome. E seus cidadãos merecem mais do que promessas adocicadas que se transformam em amargas realidades administrativas.
Por: Adriano Saldanha
Cidadão goianiense simples mas observador dos rumos que a cidade esta tomando nesta nova administração
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