Globo faz é engenharia social
Globo e o Espelho Hipnótico: Quando a Verdade Vira Narrativa
Dias atrás, sentado na sala de espera de um consultório médico, fui obrigado a assistir à Rede Globo.

Há anos não tenho o hábito de ligar a televisão aberta, e a experiência foi como encarar uma velha máquina que nunca parou de funcionar.
Não me chamou a atenção o conteúdo imediato, mas a forma como tudo estava organizado: o enquadramento das notícias, a escolha das palavras, as expressões faciais dos apresentadores, a música de fundo, os cortes de câmera, até a paleta de cores.
Era como ver uma engrenagem de manipulação em movimento, uma espécie de ritual hipnótico.
E lembrei imediatamente do que Walter Lippmann e Edward Bernays escreveram há quase um século.
Lippmann, em Opinião Pública (1922), afirmava:
As pessoas vivem em um mundo que não conseguem ver, compreender ou tocar, mas que lhes é apresentado por meio de símbolos artificiais.
A televisão não mostra a realidade, mas imagens cuidadosamente construídas da realidade.
Bernays, em Propaganda (1928), complementa:
A manipulação consciente e inteligente dos hábitos e opiniões das massas é um elemento importante da sociedade democrática.
O que vi na tela da Globo era exatamente isso: manipulação consciente, mas disfarçada de jornalismo imparcial.
Esse mecanismo ficou ainda mais claro durante a pandemia de covid-19.
A cada edição do Jornal Nacional, o enquadramento era sempre o mesmo: Bolsonaro era o vilão.
Quando ele defendia a liberdade do trabalhador para manter seu sustento, a Globo enquadrava como “negacionismo”.
Quando pedia cautela com medidas autoritárias, era taxado de “inimigo da ciência”.
O uso da cloroquina virou um espetáculo: ridicularizado diariamente, mesmo quando diversos estudos internacionais ainda estavam em andamento.
Já figuras como Mandetta ou governadores alinhados à Globo eram tratados como estadistas, sempre com aura de racionalidade e responsabilidade.
Os números de mortos eram apresentados em contadores dramáticos, acompanhados de imagens de caixões, covas abertas e famílias em pranto.
Era a técnica do choque emocional: não bastava informar, era preciso induzir indignação seletiva.
Quando hospitais de cidades governadas por aliados da Globo entravam em colapso, a ênfase era no “caos global da pandemia”; quando o problema ocorria em estados governados por adversários de Bolsonaro, a culpa era personalizada no presidente.
Nenhuma análise estrutural, nenhum equilíbrio na atribuição de responsabilidades. O framing era sempre: “Bolsonaro mata, a ciência salva.”
Esse tipo de narrativa lembra muito o que Orwell descreveu em 1984:
Se todos aceitassem a mentira imposta pelo Partido, se todos os registros contassem a mesma história, a mentira passava a ser história e, assim, se tornava verdade.
Durante a pandemia, a Globo transformou cada edição em um tribunal diário contra Bolsonaro, martelando a mesma história até que se tornasse a versão “oficial” dos fatos.
Mas esse poder não se limita à pandemia.
Ele atravessa décadas de manipulação.
No debate entre Lula e Collor em 1989, a edição do Jornal Nacional distorceu a percepção dos telespectadores e ajudou a definir a eleição.
No impeachment de Collor, deu palco às “caras-pintadas”, transformando jovens em ícones de uma narrativa moral.
Na Lava Jato, elevou Sérgio Moro à condição de herói, para depois descartá-lo quando o jogo mudou.
A engrenagem é sempre a mesma: fabricar consensos convenientes.
Esse método não atua na razão, mas no inconsciente.
Jung falava de arquétipos que habitam o inconsciente coletivo;
Pavlov mostrou que respostas emocionais podem ser condicionadas por estímulos repetidos;
Fromm descreveu em O Medo à Liberdade a tendência das pessoas a buscar modelos prontos para não encarar o peso da autonomia.
A Globo sintetiza tudo isso: apresenta arquétipos (o “líder autoritário”, o “cientista responsável”, o “cidadão consciente”), reforça respostas automáticas (palavras como “retrocesso” ou “extremismo” já carregam rejeição) e entrega modelos de comportamento prontos (o espectador é ensinado a pensar, a sentir, a se indignar ou aplaudir).
No Brasil, esse poder se torna ainda mais devastador.
Somos um país de analfabetos funcionais e semi letrados.
Milhões não têm acesso à internet, TV a cabo ou qualquer meio alternativo.
Para eles, a Globo é a única janela para o mundo.
Mas mesmo quem usa celular e redes sociais não está livre: falta formação crítica para buscar fontes diversas.
As bolhas digitais fragmentam, mas não libertam.
No momento decisivo de formar uma opinião, muitos recorrem inevitavelmente à “versão oficial” da mídia tradicional.
Assim, a Globo continua moldando o pensamento da massa inteira, enquanto as redes sociais atingem apenas nichos.
Não é por acaso que o dramaturgo Nelson Rodrigues dizia que a unanimidade é burra.
O que temos no Brasil é a tentativa de fabricar unanimidade: uma só narrativa, repetida até parecer inevitável.
O sociólogo Jessé Souza tem insistido que as elites brasileiras manipulam símbolos para manter as classes populares em posição submissa, criando consensos falsos.
Já Gustavo Barroso, décadas atrás, denunciava como a grande imprensa atuava a serviço do capital financeiro internacional, funcionando mais como ferramenta de colonização cultural do que como veículo de informação.
Essas críticas, cada uma a seu modo, convergem para o mesmo ponto: a mídia tradicional não apenas informa, mas molda consciências de acordo com os interesses de quem a financia.
E é impossível não lembrar da frase atribuída a Orwell, que resume o ciclo perverso:
A massa mantém a marca, a marca mantém a mídia e a mídia controla a massa.
No Brasil, a Globo encarna esse ciclo.
A massa consome seus símbolos, reforça seu poder econômico e político, e, em troca, recebe uma narrativa cuidadosamente construída para manter tudo como está.
Sair daquela sala de espera me deixou a sensação de que resistir à televisão aberta não é apenas uma opção pessoal, mas um ato de sobrevivência mental…
Porque o que a Globo faz não é jornalismo, é engenharia social.
E enquanto o brasileiro médio não despertar para essa engrenagem, continuará prisioneiro de uma narrativa única, que não nasce do interesse público, mas da conveniência dos mesmos grupos que sempre controlaram o país.
RESPONSABILIDADE PELO CONTEÚDO
As idéias e opiniões expressas em cada matéria publicada nas colunas ou no conteudo de política, são de exclusiva responsabilidade do JORNALISTA, não refletindo, nescessariamente, as opiniões do editor e do Portal 7Minutos.
Cada opinião tem a responsabilidade jurídica por suas matérias assinadas.
O 7MINUTOS se responsabiliza apenas pelas matérias assinadas por ele.
Por: Rodrigo Schirmer Magalhães
Cientista político e Analista de Politica
Siga o ‘ 7Minutos’ nas redes sociais
X (ex-Twitter)
Instagram
Facebook
Telegram
Truth Social