Cel Marcelo Cardoso Fernandes
Controladores de Tráfego Aéreo: Os Guardiões Invisíveis dos Céus
Poucas profissões exigem tanta precisão, serenidade e senso de responsabilidade quanto a de controlador de tráfego aéreo.
São esses profissionais que coordenam o fluxo de aeronaves nos céus e nos aeroportos, garantindo que milhares de voos ocorram de forma segura, eficiente e ordenada.
No Brasil, o sistema de controle aéreo abrange cerca de 22 milhões de km² de espaço aéreo, incluindo parte do Atlântico Sul.
Essa estrutura é operada pelo DECEA – Departamento de Controle do Espaço Aéreo, órgão do Força Aérea Brasileira, em parceria com a Agência Nacional de Aviação Civil (ANAC) e a NAV Brasil Serviços de Navegação Aérea S.A.
A principal porta de entrada para a carreira é o Curso de Formação de Sargentos – Especialista em Controle de Tráfego Aéreo (GBCT), ministrado pela Escola de Especialistas de Aeronáutica (EEAR), em Guaratinguetá (SP).
O ingresso é feito por concurso público, com exigência de ensino médio completo e idade entre 17 e 25 anos.
Durante aproximadamente 18 meses de formação intensiva, os alunos recebem instruções teóricas e práticas em:
Teoria de voo e navegação aérea;
- Meteorologia aeronáutica;
- Inglês técnico e fraseologia padronizada pela Organização da Aviação Civil Internacional (OACI);
- Procedimentos radar e não-radar;
- Telecomunicações aeronáuticas;
- Coordenação entre órgãos de controle.
Após a formatura, o profissional é designado para uma Torre de Controle (TWR), ou para um Centro de Controle de Aproximação (APP) ou para um Centro de Controle de Área (ACC), integrando o Sistema de Controle do Espaço Aéreo Brasileiro (SISCEAB).
Além do efetivo militar, o Brasil conta com controladores civis que atuam em torres e centros de controle vinculados à NAV Brasil e em aeroportos administrados por concessionárias privadas (Infraero, GRU Airport, RIOgaleão etc.).
A formação é feita pelo Instituto de Controle do Espaço Aéreo (ICEA), em São José dos Campos (SP), o principal centro nacional de ensino, pesquisa e certificação de procedimentos de controle aéreo.
O ICEA é responsável por:
- Oferecer cursos de capacitação, atualização e certificação técnica para controladores civis e militares;
- Desenvolver e validar novas tecnologias de navegação e vigilância;
- Apoiar a padronização internacional de procedimentos de controle aéreo;
- Realizar ensaios e simulações operacionais, em parceria com o DECEA e a NAV Brasil.
A NAV Brasil, criada em 2021, e vinculada ao Ministério da Defesa, é uma empresa pública federal encarregada de operar, manter e modernizar os serviços de navegação aérea civil.
O DECEA possui aproximadamente 12 000 colaboradores, entre militares e civis, distribuídos em torres, ACCs, APPs e outros setores operacionais.
O número de controladores de tráfego aéreo (ATCOs) registrados gira em torno de 4000 no Brasil.
Comparativamente, no âmbito internacional:
Nos Estados Unidos (Federal Aviation Administration – FAA): são cerca de 14 000 controladores;
Na Europa (EUROCONTROL): cerca de 9 000 controladores;
No Canadá (NAV CANADA): aproximadamente 2 500 controladores;
Média global estimada: mais de 60 000 controladores de tráfego aéreo.
Esses profissionais supervisionam diariamente mais de 120 mil voos comerciais em todo o mundo, sem contar as operações militares, de carga e aviação geral.
A rotina de um controlador é caracterizada por alta complexidade cognitiva e decisões em tempo real.
A segurança de cada voo depende da análise constante de dados de
radar, clima, performance das aeronaves e tráfego local.
O fator humano continua sendo essencial:
estudos da OACI indicam que até 90 % dos eventos críticos na aviação são evitados graças à ação humana qualificada — e o controlador de tráfego aéreo figura como um dos principais elos dessa cadeia.
Por isso, o DECEA e a NAV Brasil investem em simuladores avançados, treinamento contínuo, capacitação linguística e acompanhamento psicológico periódico, garantindo que o profissional mantenha alto nível de desempenho mesmo sob intensa pressão operacional.
Com a implantação de sistemas CNS/ATM (Comunicação, Navegação, Vigilância e Gerenciamento de Tráfego Aéreo), o controle aéreo brasileiro tornou-se um dos mais modernos do hemisfério sul.
Entre os principais programas do DECEA estão:
SIRIUS – integração de informações aeronáuticas e automatização de fluxos de controle;
SAGITARIO – sistema de gerenciamento radar com comunicação digital e coordenação entre setores;
ADS-B e CPDLC – vigilância por satélite e comunicação via dados em áreas remotas e oceânicas.
O futuro aponta para a integração entre aeronaves tripuladas e não tripuladas (drones/UAS) no mesmo espaço aéreo, sob o conceito de UTM (Unmanned Traffic Management).
Nesse cenário, o controlador do futuro será também um gestor digital do espaço aéreo, operando em ambientes de alta automação e inteligência artificial.
Teremos ainda, em breve, o ecossistema que vai permitir o uso do espaço aéreo urbano por aeronaves e-VTOL, o Advanced Air Mobility, que será uma evolução gigante para a navegação aérea mundial.
Assim, o Dia do Controlador de Tráfego Aéreo, celebrado em 20 de outubro, homenageia esses profissionais que, com disciplina e precisão, tornam possível o voo seguro de milhões de passageiros.
Embora raramente vistos, os controladores são os maestros do espaço aéreo, guiando aeronaves com serenidade, precisão e senso de dever.
Entre as emissões do rádio e o silêncio do céu, há uma voz que guia os destinos com serenidade.
Essa voz é do controlador de tráfego aéreo — o guardião invisível da aviação.
Por: Carlos Marcelo Cardoso Fernandes
Cel Int R1 FAB
Controlador de Voo pela EEAR
Siga o ‘ 7Minutos’ nas redes sociais
X (ex-Twitter)
Instagram
Facebook
Telegram
Truth Social









