Análise:
Presidente eleito da Argentina despertou fantasmas de calote a duas semanas da posse
Alberto Fernández anunciou que seu governo não quer receber os US$ 11 bilhões que ainda restam do empréstimo do FMI
RIO – O fantasma de um novo calote da dívida pública voltou a pairar sobre a Argentina desde que seu presidente eleito, Alberto Fernández , anunciou, na última terça-feira, que seu governo não quer receber os US$ 11 bilhões que ainda restam do empréstimo de US$ 57 bilhões que o Fundo Monetário Internacional ( FMI ) concedeu a quem ainda governa o país, Mauricio Macri .
E como poderia ser diferente se economistas estimam que as reservas líquidas do Banco Central alcançam atualmente entre US$ 13 e US$ 15 bilhões e as necessidades de financiamento de 2020 totalizam US$ 29 bilhões? Impossível não perguntar-se como fará Fernández para pagar as dívidas do país sem acesso ao crédito internacional e com uma economia em recessão.
A sensação entre analistas é de que o futuro presidente dos argentinos, que será empossado no próximo dia 10 de dezembro, já está negociando. Com o Fundo e com os credores privados.
Fernández fez a primeira jogada e agora está aguardando uma reação do organismo, dos mercados e dos credores.
O dirigente peronista sabe, pensam esses analistas, que não pode chutar o balde e arriscar ainda mais uma economia que este ano deverá sofrer retração de 3%. Uma economia que praticamente não cresceu nos últimos dez anos.
O Fundo pediu viabilidade fiscal ao presidente eleito e o presidente eleito respondeu que não quer receber mais dinheiro do organismo. Fernández insiste sempre no mesmo argumento: não existe margem para mais ajuste. E, como se ainda estivesse em campanha eleitoral, usa as redes sociais para reforçar sua posição.
Mensagem no Twitter
Nesta quarta-feira publicou uma mensagem em sua conta no Twitter questionando a redução de recursos para o programa nacional de vacinas e anunciou a confirmação de 61 casos de sarampo em todo país.
“Estes são os efeitos de cumprir o programa do FMI a qualquer preço. Devemos corrigir isso com urgência”, escreveu o futuro presidente argentino.
Fernández pede suspender os desembolsos e mais tempo para pagar o que já foi desembolsado.
Diz que só poderá honrar os compromissos do país se conseguir reativar a economia.
Mas analistas alertam que mudar o programa poderia implicar novos condicionamentos. Cada tipo de empréstimo no Fundo tem suas características específicas.
Resumindo, o presidente eleito promete voltar a colocar dinheiro no bolso dos argentinos num país sem crédito, com uma das inflações mais altas do mundo e em recessão.
Paralelamente, pretende negociar com o Fundo e credores privados, mas diz não aceitar imposições que signifiquem cortar despesas internas.
Então, como chegar a um novo entendimento com o organismo sem apresentar um programa econômico que seja considerado viável por seus membros?
A mesma pergunta vale para credores particulares. E, ao mesmo tempo, como cumprir suas promessas de recuperação sem recuperar a confiança externa?
Verdadeira encruzilhada
Fernández ainda não explicou seu plano de voo e suas declarações geraram incerteza num país que vive às voltas com desvalorizações de sua moeda e num continente conturbado e em permanente tensão.
Falta pouco para a sua posse e para iniciar, formalmente, conversas com o FMI. Por enquanto, Fernández fala e alimenta fantasmas do passado.
By Janaína Figueiredo
Link original da matéria:
https://oglobo.globo.com/economia/analise-presidente-eleito-da-argentina-despertou-fantasmas-de-calote-duas-semanas-da-posse-24103644
Presidente eleito da Argentina, Alberto Fernández, durante discurso na Cidade do México Foto: Luis Cortes / Reuters[/caption]



