além da Afipe, foram criadas outras
Auditoria analisará documentos e contas da Afipe
Desde quando foi criada por padre Robson. Nova diretoria da associação contratou auditores independentes após investigação que apura supostos desvios de R$ 120 milhões doados por fiéis.
A informação foi divulgada nesta terça-feira (29).
As movimentações financeiras da Associação Filhos do Pai Eterno (Afipe), desde a entrada até a saída de recursos e as notas fiscais de todas aquisições, passarão pelas mãos de auditores independentes contratados pelo novo presidente da entidade, padre André Ricardo de Melo, depois que o Ministério Público de Goiás (MP) começou a investigar a administração do padre Robson de Oliveira por suspeita de desviar R$ 120 milhões de doações de fiéis.
A associação é responsável pela administração do Santuário Basílica de Trindade, na Região Metropolitana de Goiânia. Padre Robson fundou a Afipe e sempre negou irregularidades.
O advogado Pedro Paulo de Medeiros informa que o próprio padre Robson, ainda na condição de presidente da Afipe, havia contratado auditoria independente, “reconhecida internacionalmente”.
A defesa ressalta que ele é o maior interessado que a verdade prevaleça o quanto antes.
“A verdade é uma só, o que o beneficia, e, até então, não foi permitido ao padre Robson contá-la ao Ministério Público do Estado de Goiás. Ele ainda insiste para ser ouvido pelo MP”, destaca o advogado.
O MP apura, por meio da Operação Vendilhões, se a Afipe gastou esse dinheiro de maneira irregular na compra de loteamentos, de uma casa luxuosa na beira da praia, de fazendas, de um avião e emissoras de rádio e televisão, por não condizer com a finalidade da associação de propagar a fé aos devotos do Divino Pai Eterno.
Os crimes investigados são de apropriação indébita, lavagem de dinheiro, falsificação de documentos, sonegação fiscal e associação criminosa.
A empresa de auditoria começa a trabalhar na quinta-feira (1º) e prevê apresentar o relatório final em maio de 2021, segundo a diretoria da Afipe.
Um dos trabalhos dos auditores, inclusive, é analisar a real necessidade dos gastos em relação aos objetivos da associação e seu estatuto social, além de verificar possível fraude e desvios nos processos de pagamentos.
“Será feita uma análise profunda. É isso o que queremos e precisamos para entender todos os processos da Afipe e podermos corrigir o que for necessário. Nossa intenção é dar total transparência a todos os atos e, para isso, precisamos contar com uma análise independente”,
explica em nota o padre André Ricardo de Melo, que preside a Afipe.
Conheça a trajetória do padre Robson e entenda a investigação do MP
O valor que a entidade vai pagar para a empresa não foi divulgado. O trabalho dos auditores vai começar pela análise dos dados de 2020 e, na sequência, nos anos anteriores até chegar a 2004, data de fundação da entidade pela padre Robson.
Os auditores terão como objetivo analisar a vida financeira da Afipe no que tange ao ciclo de entradas e saídas dos recursos, as origens e aplicações.
Veja o que será auditado na Afipe:
Auditoria financeira inerente aos documentos: registros financeiros, livros contábeis, além de realização e inspeções e obtenção de informações de fontes internas e externas, tudo relacionado com o controle do patrimônio e transações financeiras da entidade auditada, mapeando a origem e aplicações dos recursos.
- Análise dos procedimentos da entidade, e mapeamento das rotinas dos processos do ciclo de pagamentos (compra, aprovação, conciliação, pagamento, contratação de serviços);
- Análise das atas de assembleias existentes;
- Auditoria e revisão dos contratos de prestação de serviços;
- Verificação da existência de pedido e compras, mapa de cotação, aprovação;
- Verificação evidência de autorização (vistos e aprovação) por pessoas responsáveis para pagamento dos gastos;
- Inspeção dos controles internos (nota e avaliação);
- Análise da documentação suporte (nota fiscal/recibos), quanto a respectiva adequação;
- Verificação da evidência de quitação para os pagamentos efetuados;
- Análise da real necessidade do gasto para com os objetivos da associação e estatuto social;
- Análise inerente a compra de ativo, bens que compõem o ativo permanecente, investimentos e participações em outras entidades;
- Revisão e rastreabilidade das operações de repasses a outras instituições e empresas;
- Auditoria das transações consideradas a título de adiantamento a fornecedores;
- Análise dos adiantamentos de viagens e prestação de contas;
- Verificação de evidência de que as mercadorias compradas foram realmente entregues;
- Verificação de fraude e desvios nos processos de pagamento;
- Avaliação dos critérios e alçadas para limite de pagamento;
- Inspeção física dos ativos;
- Avaliação dos gastos com a obra (novo santuário);
- Análise das propriedades (cartórios e registros) e das sociedades (Junta Comercial);
- Análise de pessoas ligadas (funcionários, parentes, políticos, etc).
Suspeita de desvio de doações
Robson de Oliveira pediu afastamento de suas funções na presidência da entidade e na reitoria da Basílica de Trindade, em 21 de agosto, pouco tempo depois que a operação do MP cumpriu mandados de busca e apreensão na casa dele e em endereços ligados à associação. Segundo o pároco, o objetivo é colaborar com a investigação.
De acordo com as investigações, a Afipe chegava a receber mensalmente R$ 20 milhões de fiéis e, nos últimos nove anos, movimentou mais de R$ 2 bilhões.
Parte do dinheiro deveria ser usado na construção da nova basílica, que foi avaliada inicialmente em R$ 100 milhões, mas que, atualmente, tem previsão de custar R$ 1,4 bilhão. O Ministério Público revelou que só o sino comprado para a nova igreja custou R$ 17 milhões.
Segundo os promotores, entre os bens comprados com o dinheiro desviado estão uma casa na praia em Guarajuba (BA) no valor de R$ 2 milhões e mais de 50 fazendas, uma delas avaliada em mais de R$ 90 milhões.
Padre nega irregularidades
Em um vídeo gravado um dia após a operação do MP, o padre disse que todas as doações foram “empregadas na própria associação Afipe em favor da evangelização”.
À época, ele pediu afastamento da reitoria do Santuário Basílica do Divino Pai Eterno e da direção da Afipe.
Os advogados de defesa do religioso apontam ainda que todos os negócios feitos tiveram o objetivo de aumentar os lucros da associação.
Para isso, além da Afipe, foram criadas outras filiais com nomes semelhantes para gerir todo o dinheiro.
Padre André Melo assumiu funções do padre Robson na Afipe em Goiás — Foto: Afipe/Divulgação[/caption]
Padre Robson Oliveira Pereira Associação Filhos do Pai Eterno Afipe Trindade Goiás — Foto: Reprodução/Instagram[/caption]
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Avião vendido para a Afipe por uma das rádios de Celestina Bueno — Foto: Reprodução/TV Globo[/caption]
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Casa de praia vendida para a Afipe por uma das rádios da Celestina — Foto: Reprodução/TV Globo[/caption]



