A escolha por itens de segunda mão já não é mais vista como alternativa limitada a quem busca economizar.

No Brasil, ela passou a refletir um estilo de vida mais consciente, impulsionado pela preocupação ambiental e pelo cenário econômico.

E quem tem liderado este movimento são os consumidores mais jovens, especialmente os que nasceram a partir dos anos 1990.

Um estudo divulgado em abril de 2024 pela Mobills, plataforma de gestão financeira pessoal, mostrou que 73% dos brasileiros com até 30 anos compraram ao menos um item usado nos últimos 12 meses.

A pesquisa, realizada com 2.000 pessoas em todas as regiões do país, identificou ainda que o principal motivo apontado foi a busca por preços mais acessíveis (68%), seguida pela preocupação com o desperdício (44%) e a sustentabilidade ambiental (39%).

A força desse comportamento também foi apontada pela Fecomercio-SP, em uma análise de tendências de varejo feita em 2023, que revelou que 52% dos consumidores de 18 a 29 anos preferem adquirir produtos usados ou recondicionados quando isso ajuda a diminuir o impacto ambiental.

Esta escolha, antes associada à precariedade, agora carrega outros significados.

Comprar algo já utilizado virou um gesto que une economia, consciência ecológica e até mesmo estilo.

Roupas vintage, livros com história, móveis reformados e eletrônicos recondicionados ocupam espaço nas preferências de quem busca um consumo mais ético e menos descartável.

Dados do relatório Quem Vai Salvar o Futuro?, lançado pela Globo Gente, em 2023, apontam que 71% dos jovens brasileiros se sentem diretamente responsáveis pelas mudanças climáticas e afirmam que seu comportamento de consumo é uma forma de agir diante da crise ambiental.

Itens como o iPhone 14 Pro usado usado, por exemplo, ilustram bem este novo tipo de escolha.

Com o alto custo de aparelhos novos e a rápida obsolescência dos modelos, muitos consumidores têm optado por versões recondicionadas, que oferecem desempenho de ponta por um preço mais baixo e com menor impacto ambiental.

Além disso, o crescimento das plataformas digitais facilitou o acesso a este tipo de consumo.

Marketplaces, aplicativos de revenda, grupos online e até lojas físicas especializadas oferecem alternativas a quem deseja comprar (ou vender) produtos usados com segurança.

Segundo dados divulgados pela OLX, em seu Relatório de Economia Circular 2023, foram mais de 20 milhões de anúncios de itens usados ao longo do ano, com destaque para móveis, roupas, celulares e livros.

A tendência não é exclusiva das grandes cidades. Em regiões menores, brechós de bairro, feiras de troca e mercados informais também têm ganhado novo fôlego, apoiados por campanhas de educação ambiental e por uma cultura cada vez mais crítica ao consumo excessivo.

O Junho Verde, campanha de mobilização promovida por órgãos públicos e organizações ambientais, vem ajudando a ampliar o debate.

Em 2025, o foco foi justamente o dilema do consumo consciente em um país no qual ainda há insegurança alimentar, como discutido em reportagem do portal O Hoje.

A iniciativa reforça que a reutilização de produtos não é apenas um ato sustentável, mas também uma forma de resistência social.

Com o crescimento do mercado de segunda mão e o engajamento cada vez maior de diferentes faixas etárias, o consumo consciente se firma como prática comum, e não apenas como tendência passageira.

É um reflexo direto de uma sociedade que, mesmo em meio a desigualdades e desafios econômicos, começa a repensar suas escolhas e buscar alternativas mais equilibradas entre o desejo de consumir e a responsabilidade de preservar.

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