Opinião Elena Landau by Estadão
É a dívida, Mr. President: sem um verdadeiro cavalo de pau nas despesas, não há saída para o Brasil
Inflação batendo em 5%, juros a 14% e dólar acima de R$ 6 não são obra do acaso: o País é viciado em gastar o que não tem
Tela branca e o desafio de escrever a primeira coluna do ano.
O ano que passou me trouxe muitas alegrias pessoais: netos crescendo, família com saúde e Botafogo campeão de tudo.
Tento pensar em algo positivo para dizer, mas olho em volta e não vejo nada muito auspicioso.
Crime organizado dominando o País.
Crise institucional se agravando, o Brasil de mãos dadas com as piores autocracias no mundo e uma deterioração da economia.
Poderia ver o copo meio cheio:
PIB cresceu além do esperado, desemprego caiu e os níveis de pobreza também.
Mas, já vivi muitos “milagres econômicos”, de Delfim ao Lula 2.
Financiados por dívida, externa ou interna, são de fôlego curto.
Deixam de legado inflação, juros elevados e desvalorização da moeda.
Entro em 2025 com a sensação de estar de volta aos anos 80:
o endividamento elevado gerava grande desconfiança na capacidade de pagamento do Brasil. Passamos por moratória externa e confisco de poupança.
Era comum ver filas nas lojas de câmbio para comprar dólar e se defender da inflação e do calote ao mesmo tempo.
Hoje nem precisa sair de casa.
No final de 24, houve saída recorde de recursos mesmo com dólar acima de R$ 6.
Os leilões realizados pelo Banco Central não vão segurar a desvalorização do real.
Estão enxugando gelo.
Câmbio flutua exatamente para fazer um ajuste, dando sinal de algo errado em outra perna do tripé macroeconômico, na caso, a fiscal.
A crise atual foi contratada na PEC da Transição.
Foi injúria em cima de desaforo.
O País já vinha do desmonte do teto de gastos e políticas eleitoreiras de Bolsonaro.
O arcabouço de Haddad é insuficiente; apenas se propõe a limitar o crescimento de gastos em termos reais.
O resultado primário sempre dependeu da arrecadação.
Nem isso se conseguiu entregar.
O déficit vai ultrapassar o limite da meta, mesmo com crescimento extraordinário de receitas.
É um objetivo muito medíocre.
Equilíbrio ou superávit nunca foi cogitado.
Achando que ninguém ia perceber, o governo abusou das gambiarras parafiscais.
E, por isso mesmo, a meta do arcabouço não é mais levada a sério.
O foco está na dívida pública, que deu um salto no governo Lula, podendo chegar a 85% do PIB.
Inflação batendo em 5%, juros a 14% e dólar acima de R$ 6 não são obra do acaso.
O País é viciado em gastar o que não tem e, sem um choque de credibilidade, um verdadeiro cavalo de pau nas despesas, não vejo saída.
A inflação não caiu de 20% ao mês para 2% por milagre na Argentina.
Fica a dica.
Trinta anos depois, ainda precisamos de FHC.
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Por Elena Landau