Economia & Justiça
O Brasil não está na UTI. Mas Armínio Fraga quer colocar o povo lá
Congelar o salário mínimo por seis anos é mais que uma proposta insensível — é uma tentativa perversa de naturalizar a fome.

Armínio Fraga revive um receituário falido, e quem o aplaude em silêncio ajuda a empobrecer ainda mais os brasileiros.
O Brasil não está em colapso.
Mas as ideias de Armínio Fraga podem levá-lo para o abismo.
A proposta de congelar o salário mínimo por seis anos — apresentada sem o menor pudor por Armínio Fraga, ex-presidente do Banco Central e atual gestor de investimentos — não é apenas tecnicamente equivocada.
É socialmente devastadora, moralmente perversa e, acima de tudo, politicamente reveladora.
🧵ALERTA DE THREAD | A farsa dos juros no Brasil exposta em 6 atos.
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📉 Arminio Fraga, ex-presidente do BC, defendeu congelar o salário mínimo por 6 meses para “controlar a inflação”.
O povo aperta o cinto, mas os rentistas seguem com o banquete.
Quem segura essa conta? 👇 pic.twitter.com/njuidUIrj6— The Incorrupt (@TheIncorrupt_) April 14, 2025
O congelamento do salário mínimo é uma receita amarga com gosto de retrocesso.
A proposta do Fraga tem cara de anos 90, cheiro de neoliberalismo requentado e sabor de injustiça social,
digo isso com a segurança de quem já viu essa história antes — e viu ela dar errado.
Fraga tenta vender a ideia de que a origem dos nossos problemas econômicos está na “gastança” e no “aumento do salário mínimo”, como se os R$ 1.412 que o trabalhador recebe fossem o estopim da inflação, da dívida pública e dos juros altos.
É uma tese que desconsidera a realidade brasileira e escancara um viés de classe que não se sustenta nem com a maquiagem dos indicadores.
De acordo com dados divulgados pela Bloomberg, o Brasil ocupa a 13ª posição no ranking dos salários mínimos da América Latina quando convertido para o dólar.
São apenas 244 dólares por mês, enquanto países como Costa Rica (US$ 725), Uruguai (US$ 505) e Chile (US$ 504) garantem pisos bem mais dignos aos seus trabalhadores.
E ainda assim, Fraga considera que o trabalhador brasileiro ganha “demais”.
A fala de Fraga não é um deslize. É um manifesto.
Um posicionamento político disfarçado de tecnicismo. Um projeto de país onde o povo come menos para que o capital preserve sua gordura.
É sempre no lombo do trabalhador que a elite quer aplicar a tesoura,
e Armínio, com sua retórica requentada, não apenas consente — ele conduz.
Se o salário mínimo não é apenas uma remuneração, mas base para benefícios previdenciários, assistenciais, e vetor de redução da desigualdade, congelá-lo significa atacar diretamente o BPC, o abono salarial, o Bolsa Família.
É manter milhões de brasileiros presos num ciclo de miséria programada.
Mais grave ainda é o efeito dominó que essa medida causaria.
Quem ganha salário mínimo gasta tudo o que ganha.
Ao achatar esse poder de compra, derruba-se também o consumo, a demanda futura, o investimento das empresas e, consequentemente, o nível de emprego.
O nome disso não é ajuste — é recessão.
Não dá mais para aceitar esse discurso que joga todos os males da economia no colo do trabalhador,
afirmo com a indignação de quem já viu políticas públicas reduzirem desigualdades e gerarem crescimento quando o povo é colocado no centro da equação —
e não tratado como variável de ajuste.
Enquanto isso, Fraga se cala sobre os juros estratosféricos que engordam os lucros do capital financeiro.
Também não menciona os bilhões perdoados em renúncias fiscais para setores que lucram sem gerar contrapartidas.
Ele prefere mirar no salário mínimo, como se fosse ali, nos R$ 1.412 do trabalhador, que residisse a ameaça fiscal do país.
Como disse com precisão a professora Simone Deos:
Armínio Fraga repete os mesmos chavões há décadas —
que o Brasil está quebrado, que somos um paciente na UTI —
e nada do que ele previu aconteceu.
É isso. O Brasil não está na UTI.
Quem insiste em aplicar soro de austeridade na veia do povo é que precisa ser questionado.
E mais: precisa ser confrontado por quem tem coragem de dizer que esse modelo faliu, que essa lógica adoece o país e que os remédios propostos só servem para manter os ricos saudáveis e os pobres ainda mais exaustos.
A receita do Fraga é indigesta e o diagnóstico está errado.
O paciente não é o Brasil — é o pensamento econômico que insiste em desprezar a dignidade humana.
E para os que aplaudem calados, sorrateiros, por conveniência ideológica ou interesse econômico, deixo um alerta: a omissão é conivência.
E cada voz que se recusa a se levantar diante desse tipo de proposta se torna cúmplice de uma tragédia anunciada.
Por: Luiz Claudio Cavalcante
Jornalista
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