Com certeza a Dubai Brasileira
Turismo de luxo em Balneário Camboriú empurra trabalhadores para cidades vizinhas
Cidade do litoral norte de Santa Catarina conhecida pelos prédios altíssimos à beira do mar enfrenta desafios

Balneário Camboriú, no litoral norte de Santa Catarina, é conhecida pelo turismo de luxo, com seus altíssimos prédios à beira do mar, alguns com uma espécie de estacionamento para moto aquática, e não é difícil encontrar trabalhadores locais que dormem na cidade ao lado.
A empresa disponibiliza uma casa para os funcionários lá em Camboriú.
Para pessoas que vêm de fora.
Então eu trabalho aqui em Balneário Camboriú, mas moro em Camboriú, diz o paulista Keven Iuri, 27, que integra uma equipe de marketing de uma empresa ligada ao turismo.
Conheço gente que paga R$ 4.000 para morar sozinho numa kitnet em Balneário, conta ele.
Segunda menor cidade de SC em área territorial, Balneário Camboriú foi criada a partir do desmembrado de Camboriú na década de 1960 e não há uma divisa evidente entre as duas cidades para quem está passando pela região —grosso modo, as pessoas acabam usando a BR-101 para dividir um município do outro.
Assim, Balneário estaria à direita de quem vai em direção a São Paulo pela rodovia— mas, na verdade, algumas poucas quadras à esquerda ainda pertencem a Balneário.
Apesar da proximidade, há problemas de trânsito e de transporte público no deslocamento dos trabalhadores entre as cidades.
Transporte aqui nesta região tem que ser intercidades.
Mas cada cidade quer ter seu transporte.
Em Balneário, criaram a tarifa zero, mas são poucos ônibus, só rodam em dias de semana e nas principais avenidas.
É limitadíssimo.
E o trânsito é um problema sério,
diz Rodrigo Vieira, à frente do Sindisol (Sindicato de Hotéis, Restaurantes, Bares e Similares de Balneário Camboriú e Região).
De acordo com a Prefeitura de Camboriú, cerca de 35 mil pessoas que residem na cidade seguem para trabalhar em Balneário.
A PM mais fraca de Balneário Camboriú. Aqui até a policial é diferenciada. Por isso a petezada fedorenta odeia BC! pic.twitter.com/Vj0kNOAsS1
— Joaquin Teixeira (@JoaquinTeixeira) January 4, 2025
Outras cidades vizinhas, como Itajaí, também são moradias de trabalhadores de Balneário.
Em final de mandato, o prefeito de Balneário,
Fabrício Oliveira (PL), diz que a especulação imobiliária é legítima e se refere aos altos prédios como um arrojo que ajudou a cidade.
Ele afirma, contudo, que é possível modificar o Plano Diretor para permitir
que algumas áreas possam ter verticalização desde que os trabalhadores tenham acesso a esta moradia.
Como o metro quadrado ficou muito valorizado, precisamos vocacionar algumas áreas para receber as moradias mais populares, explica Oliveira.
Hoje Balneário tem emprego sobrando, mas precisamos melhorar esse emprego, a partir do momento que a pessoa consiga morar e viver na cidade, afirma.
Prefeita eleita em outubro, Juliana Pavan (PSD) diz que vai investir em programas de aluguel social e buscar parcerias com o município vizinho.
É um problema de caráter regional, diz ela.
Em Camboriú, o prefeito eleito é o ex-senador e também ex-prefeito de Balneário Leonel Pavan (PSD), pai de Juliana.
Para o atual secretário de Desenvolvimento Econômico de Camboriú, Ângelo César Gervásio, a cidade tem ficado apenas com o ônus da fama de Balneário.
Moradores daqui saem para trabalhar em Balneário em serviços diversos, são pessimamente remunerados lá e utilizam a saúde pública de Camboriú, os serviços de educação de Camboriú.
Então Balneário se beneficia desta exploração, declara ele.
Balneário tem um orçamento anual próximo de R$ 2 bilhões, contra menos de R$ 500 milhões de Camboriú.
Fale o que quiser mas isso é administração pública com eficiência.
Balneário Camboriú as 05h da manhã. Nem parece que a 5 horas atrás haviam 2 milhões de pessoas na praia.É por isso que a esquerda chora. Não tem lixo porque o lixo não veio. pic.twitter.com/18xn0Lkgw0
— Tumulto BR (@TumultoBR) January 1, 2025
Vereador de oposição ao atual prefeito, Eduardo Zanatta (PT) chama o alto orçamento de Balneário de “máquina de arrecadação”.
Você vai ver estes prédios de alto padrão e não vai encontrar 30% dos apartamentos com a luz ligada.
Para a prefeitura é o paraíso.
Essas pessoas não demandam educação pública, não demandam saúde pública, e estão pagando IPTU, ITBI,
diz ele, em referência aos imóveis de uso ocasional, na época do verão, por exemplo, ou que foram comprados a título de investimento.
O prefeito se orgulha de falar que Balneário tem o metro quadrado mais caro do Brasil, como se isso fosse desenvolvimento humano.
Mas isso está causando um esvaziamento da cidade, uma segregação socioespacial, diz o vereador.
Para o professor de economia da Univali (Universidade do Vale do Itajaí) Daniel da Cunda Corrêa da Silva, o próprio desmembramento de Balneário da década de 1960 pode ser considerado uma espécie de marco de um processo de gentrificação.
Foi ele que delineou mais o perfil de quem mora em cada cidade.
Camboriú ainda é uma cidade de produção agrícola, que abastece de hortaliças a região,
e Balneário, até pelo próprio nome, indica este perfil para o turismo, para o veraneio, explica.
A repórter baiana descrevendo Balneário Camboriú, a cidade mais "Bolsonarista" do Brasil…
💚💛🇧🇷O Nordeste brasileiro era pra ser um dos lugares mais PRÓSPERO do mundo por sua beleza natural, MAS, a presença da esquerda e a falta de cultura da maioria do povo não deixa!😤 pic.twitter.com/CJz2Y2EBnv
— Nice Xave 🇧🇷🇺🇲🇧🇷 (@nice_xave) January 2, 2025
Itajaí [cidade vizinha] é referência como cidade portuária e Balneário acabou buscando outro perfil, para que não ficasse essencialmente na dependência das atividades e dos serviços da economia portuária da cidade vizinha.
Apostou-se no crescimento imobiliário como principal motor de arrecadação, de expansão da economia, explica ele.
Principalmente a partir do ano 2000, o professor conta que a verticalização se acentuou em Balneário, com compradores do agronegócio brasileiro, do interior de Paraná, Mato Grosso, Mato Grosso do Sul, Goiás e uma parte de São Paulo.
Com apartamentos muitas vezes comprados à vista com o dinheiro da safra, comenta ele.
Em paralelo, continua o professor, também surgiram empresários do mercado financeiro, sobretudo de São Paulo e do Rio de Janeiro.
Os trabalhadores assalariados de fato não conseguem viver naquela realidade, diz o professor.
Parece que a ideia é que a cidade tenha um perfil de fato muito descolado da vida de um brasileiro médio, avalia
Santa Catarina – Balneário Camboriú pic.twitter.com/JN4XpXM09N
— Maria P (@damadanoite14) January 1, 2025
Junte-se aos grupos de WhatsApp do Portal 7MINUTOS e fique por dentro das principais notícias de ANÁPOLIS, do BRASIL e do MUNDO .
Por: Catarina Scortecci
Link original da matéria:
FOLHA DE SÃO PAULO
Até a funerária de Balneário Camboriú é DIFERENCIADA. Chora petralhada, chora… pic.twitter.com/L0DQV9CoWJ
— Joaquin Teixeira (@JoaquinTeixeira) January 2, 2025

