Educação & Tecnologia
Aplicativo que cria redações provoca polêmica entre educadores
ChatGPT, software de Inteligência Artificial, que pode fazer uma redação com qualidade, tem feito sucesso ao redor do mundo e propiciado debate sobre impacto do uso da tecnologia na educação

Um dos fantasmas do Exame Nacional do Ensino Médio (Enem), entre outros vestibulares, é a redação.
Pois, a disciplina
envolve diversos domínios como da língua portuguesa, a capacidade de argumentação e visão de mundo.
Assim, a inteligência artificial seria capaz de realizar uma redação?
A resposta é sim, mas com ressalvas
. Um aplicativo chamado Chat GPT traz essa possibilidade com eficácia e tem dividido educadores. Tem aqueles que o veem com preocupação, outros como ferramenta de aprendizado.
O ChatGPT,
trata-se de um s’generativa, que foi lançado no final do ano passado e viralizou.
É capaz de compreender e responder pedidos de texto ou voz. E ainda mais: sua tecnologia permite que forneça ao usuário respostas contextualizadas, conteste premissas incorretas, rejeite solicitações inadequadas.
Também pode desempenhar funções, como: resumo de textos longos, anotação de memorandos, redação de ensaios, tradução de idiomas entre outros.
Com essas habilidades,
o usuário poderá pedir a ferramenta para redigir uma redação sobre os
“Desafios para a valorização de comunidades e povos tradicionais no Brasil” –
o tema da redação do Enem do ano passado – e, a tecnologia vai digitar o texto em segundos.
O mais impressionante,
é que a produção textual é parecida com a realizada por humanos.
Por este motivo,
o uso do aplicativo tem sido restringido por autoridades da educação de Nova Iorque.
E aqui no Brasil tem gerado também controvérsias entre os educadores.
Para o professor de Literatura e Redação
em um colégio do ensino médio em Goiânia, Fred Schmaltz, Chat GPT talvez represente o maior “emblema pedagógico” da atualidade.
“A maior preocupação não está na ferramenta utilizada, mas sim no desafio de fazer os estudantes desenvolverem reflexões complexas e entenderem que escrever uma redação é um ato de cidadania”, argumenta.
Isso porque, de acordo
com o professor, sempre que se pede ao aluno para escrever um texto, há um propósito
Logo, aplicativos como estes podem fazer a escrita ficar reducionista, vinculada apenas a um resultado acadêmico, como fazer uma prova de vestibular.
“O estudante pode viciar em um modelo pré-fabricado, fazendo-o perder a sua autonomia”, observa.
Por isso, Fred
acredita que a questão não é se a IA vai substituir a habilidade do aluno na escrita, mas o quanto ela pode tornar o processo de ensino-aprendizagem mais moroso e dissociado de um contexto social.
“Quando surge uma ferramenta dessas, as pessoas criam teorias apocalípticas, mas a máquina ainda é uma máquina e existem marcas pessoais que o robô não será capaz de reproduzir”,
pontua Fred garantindo que o uso da IA será facilmente detectável, porque cada série tem uma habilidade e uma competência linguística em desenvolvimento a serem avaliadas.
Aliado
Já para o também professor de redação do ensino médio e pré-vestibulares, Hércules Souto, a ferramenta não causa muitas preocupações. Como não pode ser usada nas provas, ele acredita que pode tornar-se uma aliada.
“Eu posso utilizar o chat para poder ter noção de repertório de argumentação”.
Dentro das salas de aula
utilizaria o aplicativo como uma atividade.
“Eu falaria para o aluno: você fez sua redação, a sua nota está aqui, mas vamos dar uma olhada em como a inteligência Artificial pode fazer esse texto”
exemplifica ele, completando que os critérios de redação do Enem são bem exigentes e cabe ao aluno se aperfeiçoar para além da máquina.
“O Enem não cobra apenas o domínio da norma culta, analisa também a variação no uso dos recursos gramaticais e linguísticos da língua portuguesa. Então, se a gente não informar para o chat exatamente o que é preciso, a redação vai sair com várias falhas”, pontua.
Falta de transparência
Outro ponto crítico relacionado ao uso dessa tecnologia é a questão da regulamentação do ChatGPT. Nesse sentido, o advogado e professor de Direito Digital, Rafael Maciel, destaca que o algoritmo utilizado pelo aplicativo não apresenta qualquer transparência.
“Muitas vezes, temos uma ânsia de usar determinada inovação tecnológica, sendo que, talvez, ela ainda não tenha sido analisada com os critérios adequados para evitar vieses, por exemplo, como os discriminatórios ou de ilicitudes, como é o plágio”, sublinha.
Maciel explica
que esse é um dos motivos para que o marco regulatório da Inteligência Artificial esteja em vias de ser uma realidade no Brasil. Conforme o advogado, uma equipe foi formada em março de 2022 para subsidiar a elaboração do substitutivo dos Projetos de Lei 5.051/2019 e 872/2021, que têm como finalidade determinar princípios, regras, diretrizes e os fundamentos para regular o desenvolvimento e a aplicação da IA no país.
By: Rariana Pinheiro
Link original da matéria:
https://www.dmanapolis.com.br/noticia/53027/aplicativo-que-cria-redacoes-provoca-polemica-entre-educadores

