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O Quintal em Chamas

A Guerra pelo Controle da América Latina

Há quem pense que a história da guerra ao terrorismo seja apenas um capítulo recente do século XXI.

Mas ela é, na verdade, uma longa narrativa, costurada com fios de ideologia, espionagem e sangue.

Uma história que começa muito antes das torres gêmeas caírem, antes mesmo de Osama bin Laden se tornar um nome maldito nos noticiários.

É a história de como o terror foi moldado, cultivado e exportado como ferramenta política — e de como, agora, ele volta a ser usado como justificativa para um novo redesenho do mapa geopolítico.

O terrorismo, por definição, é o uso sistemático do terror e da violência para fins políticos, buscando a desorganização da sociedade existente e a tomada do poder.

Ele se manifesta em múltiplas formas: de atentados suicidas em mercados lotados a sequestros de aviões, de execuções sumárias transmitidas em vídeo à infiltração de células armadas em comunidades pobres.

Mas por trás da bandeira de cada grupo terrorista, quase sempre há um mentor invisível, um financiador silencioso, um Estado ou organização que manipula o caos para obter vantagem estratégica.

Entre esses mentores, um papel central foi desempenhado pela KGB soviética, que durante a Guerra Fria dominou como poucos a arte da guerra assimétrica.

Ela treinou guerrilheiros na América Latina, forneceu armas, táticas de infiltração e propaganda, e até mesmo inspirou e ajudou a moldar o terrorismo islâmico revolucionário.

Essa conexão, embora pouco divulgada, é confirmada por ex-agentes soviéticos, como Ion Mihai Pacepa, que revelou que a KGB trabalhou na radicalização de líderes muçulmanos, explorando pensadores como Sayyid Qutb — o ideólogo da Irmandade Muçulmana, cujas ideias deram base à Al-Qaeda e ao Estado Islâmico.

Qutb acreditava que a “Jahiliyyah” (ignorância pré-islâmica) havia voltado a dominar o mundo moderno e que somente a jihad armada poderia purificá-lo. Sob a ótica soviética, esse fanatismo religioso podia ser redirecionado para atacar interesses ocidentais.

Enquanto no Oriente Médio os soviéticos incentivavam a jihad contra o “imperialismo americano”, na América Latina o jogo era outro: apoiar grupos de guerrilha marxista que, com o tempo, se fundiriam com o narcotráfico.

Foi assim que nasceram as FARC na Colômbia — uma fusão entre ideologia comunista e negócios de cocaína.

As rotas do pó branco se expandiram, alimentando cartéis como os de Cali e Medellín, de Pablo Escobar, que compreendeu rapidamente que a cocaína era mais do que uma droga: era um instrumento de poder, corrupção e manipulação política.

A plata o plomo”não era apenas um bordão; era a síntese de um método político.

O Brasil não ficou imune a essa teia.

Durante o regime militar, presos políticos de esquerda criaram dentro das cadeias alianças com criminosos comuns, nascendo assim o Comando Vermelho — uma mistura de ideologia revolucionária com o pragmatismo brutal do crime organizado.

Mais tarde, o PCC surgiria com ambições semelhantes: controlar territórios, desafiar o Estado e manter conexões subterrâneas com redes políticas e internacionais.

Tanto PCC quanto CV mantêm vínculos com as FARC e, por consequência, com o Foro de São Paulo — organização criada por Lula e Fidel Castro, com raízes umbilicais na rede de apoio da esquerda latino-americana aos movimentos armados e narco-terroristas.

É nesse cenário que surge a nova estratégia dos Estados Unidos, especialmente sob Donald Trump: classificar narcofacções latino-americanas como grupos terroristas internacionais.

À primeira vista, é um passo lógico na luta contra o crime organizado.

Mas, como sempre na geopolítica, a superfície esconde um oceano de intenções.

Os EUA precisam de um novo “inimigo” oficial para manter a engrenagem de seu complexo militar e de sua política externa em movimento.

Depois de duas décadas de guerra contra o terror islâmico, o público americano está cansado de combates no Oriente Médio.

É hora de olhar para o “quintal” e transformá-lo no novo campo de batalha moral e político.

Essa mudança também tem outro objetivo: reocupar espaços de influência na América Latina que vêm sendo gradualmente tomados por Rússia, China e Irã.

Moscou mantém relações estreitas com Caracas e Havana; Pequim investe em infraestrutura e tecnologia; Teerã cultiva alianças discretas com regimes e grupos radicais. Classificar as narcofacções como terroristas dá aos EUA base legal para ações militares, bloqueios financeiros e operações de inteligência que, na prática, representam uma recolonização geopolítica.

Quem controla o presente controla o passado; quem controla o passado controla o futuro, escreveu Orwell.

Ao assumir o controle narrativo e jurídico sobre a guerra contra o narco-terrorismo, Washington não apenas combate o crime, mas redefine os termos do jogo político na região.

Governos como os de Maduro, Lula, Petro, Boric, Morales e a herança dos irmãos Castro — todos com conexões diretas ou indiretas com essa teia de alianças — passam a ser alvos de pressão constante.

O caminho da cocaína é, nesse contexto, muito mais do que uma rota de tráfico.

Ele é um mapa de poder.

Da Bolívia ao México, passando por Colômbia, Peru, Paraguai e Brasil, cada ponto de passagem é um feudo onde política, crime e ideologia se entrelaçam. Interromper esse fluxo é cortar uma das principais fontes de financiamento do poder paralelo na América Latina.

A história, no entanto, nos lembra que guerras “morais” muitas vezes escondem ambições estratégicas.

Edmund Burke já alertava:

O maior erro que um homem pode cometer é sacrificar seu futuro pela segurança momentânea do presente.

E aqui está o dilema: ao mesmo tempo que enfraquece cartéis e governos aliados ao narco-terrorismo, a estratégia americana pode remodelar a América Latina para se tornar politicamente mais alinhada a Washington, sufocando projetos independentes e impondo novas dependências econômicas e militares.

No fundo, o que está em jogo é a reorganização política de todo um continente.

Os EUA estão cuidando do próprio quintal, e quando o jardineiro é também dono das ferramentas, da água e das sementes, não é difícil imaginar quais plantas florescerão — e quais serão arrancadas pela raiz.

E, para que não reste dúvida, vale lembrar: quando o quintal pega fogo e quem vem apagar o incêndio é o vizinho, ele não se limita a jogar água.

Ele decide, com calma e precisão, o que deve permanecer de pé… e o que é mais conveniente deixar virar cinzas.

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As idéias e opiniões expressas em cada matéria publicada nas colunas ou no conteudo de política, são de exclusiva responsabilidade do JORNALISTA, não refletindo, nescessariamente, as opiniões do editor e do Portal 7Minutos.

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Por: Rodrigo Schirmer Magalhães
Cientista político e Analista de Politica

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  • Gildo Ribeiro

    Gildo Ribeiro é editor do Grupo 7 de Comunicação, liderado pelo Portal 7 Minutos, uma plataforma de notícias online.

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