– Tem leite?
– Disculpa?
– Leite?
– Não entendi.
– Lei-te.
– No, so. Solamente coca cola.

Este diálogo aconteceu a bordo de um voo da Latam de Salvador para Guarulhos.

Isso, com staff brasileiro.

Podia ter sucedido noutras partes do Brasil.

Cá em baixo na terra, sem a pressão atmosférica a complicar a conversa.

Muito boa gente, durante as duas semanas em terras de Vera Cruz, tomou-me por Argentino que “fala português com o seu sotaque”.

Uma novidade nas minhas andanças, em que tendo a ser tido por Turco na Europa e na própria Turquia, e Israelita nos States.

Claro que podia ter pronunciado “lei-tchi”.

Ou cumprimentar o pessoal com um “bom dJia”.

Na verdade, muito “abrasileiro” eu as minhas frases e vocabulário, dando por mim a ouvir-me dizer ‘esse salgado daí é galinha?” ou “ tem como me trazer outra caipirinha?”.

Mas sempre com sotaque português.

Forcar os sons parece-me demasiado.

O que interessa – ensinamento que aprendi a viver fora – é que me consiga fazer entender.

E que tenho a bênção de poder viajar por toda a América, incluindo a Hispânica e a que eu chamo de América alfa, e comunicar-me com todo o mundo.

Quem me dera que o Brasil ficasse a uma distância de fim de semana prolongado da Europa.

De nenhum outro pais me despeço com um beijo de língua portuguesa e coração tão apertado.

Por: Vitor Vicente
Escritor português e vive na Irlanda. Publicou no Brasil os títulos “Israel, Jezebel”, “Bravo, Brasil”, “Sobre Vivências em Barcelona” e “À Beira do Danúbio”. E escreve artigos para o 7Minutos

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