Cultura em Anápolis
A arte do grafite
Diferente em todos os sentidos da pichação, o grafitismo espalha um visual moderno e que chama a atenção de muita gente pela cidade.

Sua concepção visual se mescla com a paisagem urbana e é utilizada em locais que vão desde escolas, publicidade até barbearias e restaurantes. Confira reportagem especial do DM Anápolis com Adriano R.A, artista que tem obras espalhadas por vários locais de Anápolis.
Desde 2018, os cento e oitenta metros de muro que circundam a Escola Municipal Clovis Guerra, na Vila Jaiara, chamam a atenção de moradores do bairro por sua beleza e colorido.
Os desenhos antigos e as pichações na estrutura deram lugar a um imenso mural de grafite, trazendo em cores vivas e alegres as belezas da flora e da fauna do cerrado brasileiro.
O mural foi grafitado pelo artista urbano Adriano dos Reis Falleiros.
A obra foi patrocinada por uma construtora que na época desenvolvia uma política de boa vizinhança com a comunidade, visando levar melhorias urbanísticas nas imediações de seus empreendimentos, por meio da revitalização de praças, calçadas, canteiros e outros serviços.
Os muros do colégio, e em diversos outros locais espalhados pela cidade têm sido palco para o talento de Adriano R.A, como ele é conhecido. Nascido em Ribeirão Preto há 49 anos, Adriano se mudou para Anápolis aos 10, acompanhando a mãe que havia se separado em São Paulo e queria ficar junto da família.
Adriano conta que começou a se interessar por arte urbana nos anos 80, quando assistiu a um filme onde um dos personagens era um grafiteiro que pintava roupas e decorava as paredes de uma estação de metrô.
Foi quase um amor à primeira vista. Adriano mergulhou no universo da arte urbana e logo já estava treinando para fazer seus murais, pintando camisetas em acrilex e, pouco tempo depois, já estava manejando o compressor e produzindo pintura artística automotiva. Daí para os sprays e tattoos foi um pulo.
E lá se vão 35 anos com tubos de tinta na mão, às voltas com ideias, muros, pilares e paredes onde possa depositar sua arte. Adriano vive da arte, especialmente do grafite. Só no seu perfil no Instagram, Adriano tem fotos de quase 4 mil trabalhos que já fez. Esperançoso, ele diz que a aceitação desse tipo de arte vem melhorando cada vez mais, e as pessoas tem aberto a mente para a arte urbana.
— Virou mania nacional. Em todo canto tem arte; a televisão mostra, então é uma oportunidade que temos de mostrar que o grafite não é poluição visual mesmo; e muito menos uma forma de disfarçar paredes velhas, mas uma expressão artística que, muitas vezes, quer passar uma mensagem de alerta, educativa ou de otimismo, ou ainda um meio que temos para homenagear as pessoas — diz Adriano.
No caso de homenagens, há um exemplo recente. Morto no mês passado em Anápolis aos 53 anos, o cineasta e ativista cultural Carlos César Santos (Cesinha) foi homenageado dias depois com um mural de grafite no centro da cidade. O mural retrata Cezinha fotografando, uma das suas grandes paixões. No mural, está grafitada ainda a frase “A vida é um sopro”.
Adriano explica que a grafitagem é como qualquer outra arte visual; um trabalho minucioso e que requer muita atenção e planejamento. Segundo o artista, um projeto de médio a grande porte, dependendo da complexidade do que vai ser grafitado, pode demorar até 25 dias para ficar pronto e é feito em três diferentes etapas.
— Quase sempre tudo é feito em equipe. O primeiro passo é montar o projeto dos desenhos, depois estudar o tema central e então esboçar os desenhos. Na segunda etapa são feitos os traços no muro. Na terceira e última etapa é hora de dar cor aos desenhos e fazer o acabamento da obra como um todo — explica.
Adriano não para; entre projetos culturais, fachadas e painéis publicitários, sua arte vai usando as paredes como telas gigantes. As centenas de murais ajudam a abrandar a aspereza da cidade, despejando brilho, poesia e crítica social aguda no horizonte urbano.
A importância desta arte urbana
Há quem se pergunte se o grafite é arte ou se trata de mera pichação. Há diferença; o ato de pichar está intimamente ligado ao vandalismo e à noção de destruição da via pública, enquanto que o grafite está relacionado à uma conotação positiva, pois apresenta-se como forma de intervenção urbana e expressão estética recorrente em cidades do mundo inteiro. Grafite vem da palavra italiana “graffito”, que significa literalmente “escrita feita com carvão”.
Foram os anos 60 e 70 do século passado que trouxeram os ideais do grafite, com temas da transgressão e da contracultura, num movimento que criticava e questionava a cultura determinante de uma cidade. Essas características embasaram e movimento e existem até hoje.
Tal como o conhecemos, a história do grafite remonta ao final dos anos 1960 e início dos anos 1970 em cidades como Paris e Nova York, locais que começaram a mostrar em suas paredes as primeiras obras de artistas anônimos que buscavam se expressar.
No Brasil, o grafite se desenvolveu como arte na década de 1980, com artistas que extraíam inspiração do cenário do hip-hop e punk de Nova York, numa empreitada ainda masculina, alimentada principalmente por artistas de comunidades marginalizadas.
Através das imagens, o grafite propõe outra relação com o entorno urbano, questionando, a partir de um olhar estético, o espaço e a estrutura da cidade e das imagens que nela circulam, assim como os seus problemas coletivos. No silêncio destas conversas urbanas, o grafite vai e vem, na permanência ou no apagamento.
By: Vânio Limiro
Link original da matéria:
https://www.dmanapolis.com.br/noticia/3834/a-arte-do-grafite


