Estilo : Comportamento

Recomendado por João Jorge Olodum

Século XX um legado de mudanças

Africanidade: mudanças dentre os rumos das ciências que o Brasil não acompanhou.

A hegemonia europeia e ocidental se foi em nem todos os atores do campo das ciências brasileira entenderam a passagem do fenômeno e muito menos do significado, que implica em mudanças.

A hegemonia ocidental era principalmente representada pelo poder da cultura, das ciências, da produção industrial e dos exércitos. A Europa, centralizada e representada nas sociedades francesa, inglesa, alemã e soviética dominaram o mundo e comandaram os padrões de produção industrias, de consumo industrial, da produção e do consumo da ciência.

Respaldados por um fortíssimo império militar impunha a civilização europeia e ocidental para toda a humanidade. Perderam este poder, os crescimentos populacionais, indústrias e científicos não se fazem mais em torno dos europeus. Os asiáticos produzem tanta ciência quanto os ocidentais e comandam o desenvolvimento industrial. O século XX marca estas transformações.

A Europa passa por um grande processo de desindustrialização, as grandes fazes da mineração e das industrias do metal e mecânica passaram e o pensamente europeu desenvolve a ideia de sociedade pós-industrial que serve apenas para a Europa e algumas partes dos Estados Unidos.

No mundo os capitalismos continuam famintos de energia e de matérias primas. Os capitalismos, no plural, contrariando a teoria marxista, não são todos iguais e não desenvolvem uma só lógica comum. A lógica do lucro é submetida a outras lógicas políticas estratégicas de dominação e existência, China, Japão, Correa e Índia não articulam os mesmos moldes capitalistas, no entanto todos destroem a hegemonia americana.

Os capitalismos não se encontram estagnados em processos de desindustrialização, muito pelo contrario apresentam grande dinamismo. As minerações no continente africano, as indústrias de gás e petróleo no oriente médio e Rússia são exercidas de forma crescente. As noticias da estagnação da produção industrial é apenas europeia e talvez americana. Os europeus perderam o comando da produção do conhecimento e da cultura.

Em termos geográficos a Europa poderia ser considerada uma península da Ásia. A Europa não caracteriza um continente, quando se exclui a Rússia é um espaço geográfico diminuto e saturado, quase todo ocupado desde meados do século XX. A Europa sempre se expandiu sobre outros territórios e esta expansão se encerou com as independências colônias do século XX.

O neo-colonialismo e o imperialismo atual não mais agrega território, apenas as finanças e parte do maquina burocrática. O crescimento líquido da Europa acabou com a hegemonia europeia.

O que ocorre com a Europa, ela se crioliza, usando um conceito de Edouard Glisant. Devido as fortes imigrações realizadas durante quase dois séculos o europeu produziu uma sociedade de convivência com populações dos diversos continentes que modificaram a cultura europeia.

O cristianismo sofreu fortíssima redução em termos populacionais e de importância política. Catedrais e igrejas em muitos países estão vazias, vivem do turismo, transformaram em bibliotecas e mesmo bares, ou clubes sociais. As mesquitas surgem em todos os países europeus. Mesmo os terreiros africanos, cubanos e brasileiros cresceram muito na Europa.

As praticas indianas e chinesas nas medicinas e nas alimentações. As fontes de dinamismo da cultura na sociedade são dinamizadas por estrangeiros. A possibilidade da compreensão cientifica da Europa pela própria Europa mudou de eixo, inclui pautas do combate ao racismo, da diversidade cultural e da pluralidade.

Eixos científicos que comandaram a superação da ciência em termos cartesianos e racionalistas das disciplinas isoladas. Os modelos tradicionais de analise científicas das sociedades pelo capital, estado e classe social tornaram-se superados e insuficientes para explicar a sociedade atual europeia.

A historia, a sociologia, antropologia e a cultura tiveram que confrontar coma a africanidade,não apenas porque ela introduz visões novas para ciência europeia, mas porque boa parte da dinâmica da cultura europeia é pautada por africanos e islâmicos.

A história geral da África produzida pelos africanos foi um grande marco das décadas de 1960 e 1980, quanto ao potencial de africanos em fazerem ciência própria e autônoma com relação aos padrões eurocêntricos.

Em todos os campos das ciências o marxismo era um grande capital cientifico eurocêntrico. Tinha como premissa a superação das culturas e a industrialização da humanidade. O mundo se transformaria em uma copia da Europa e a cultura industrial capitalista europeia seria a cultura da humanidade, produziria a base para mudança para a sociedade socialista na crise do capitalismo mundial.

No século XX como as revoluções soviética, coreana, chinesa, com a guerra da Indochina e algumas independesses africanas os vetores mundiais em 1970 levavam a pensar no crescimento das ditaduras dos proletariados. Houve uma fortíssima mudança, as ditaduras realmente ficaram ditaduras, todas ditaduras com ditadores, militares formando uma classe de ditadores em nome do povo e criaram opressões sobre as populações e fracassaram.

O modelo faliu. A teoria explicava apenas as cidades europeias do século XIX não tinha a dimensão pretendida. Questões da produção, da moeda, da gestão do estado socialistas não são abordadas pelo marxismo e nem foram resolvidas pelos governos e implicaram na falência do modelo.

A africanidade exerceu um grande papel num grande debate realizado entre os anos de 1960 a 1980, porque os africanos falavam em socialismos africanos e rejeitaram o estado ateu e a ditadura do proletariado como forma de governo. No debate se contrapôs o modelo do socialismo africano ao modelo do socialismos europeu.

Sendo que o modelo europeu ficou denominado de socialismo cientifico, baseado na racionalidade e o africano na experiência. Os debates sobre socialismo tinham suporte profundo da retomada da produção de conhecimento africano pelo pan africanismo e que produziu a descolonização do pensamento desde o inicio do século XX.

A proposta de descolonização do pensamento é muito antiga, e foi posta em pratica por diversos atores e autores africanos e da diáspora desde 1900. Os escritores africanos e caribenhos discutiram a produção literária em línguas africanas na década de 1960, como o Caribe discutiu o ensino de alfabetização em criolo.

Para uma grande maioria estava abolida o predomínio do pensamento europeu na produção do conhecimento desde antes dos anos de 1970. A filósofa nigeriana Sophie Oluwole tornou-se a campeã em afirmar que a educação da Nigéria deveria ser em línguas locais e não em inglês.

Junto com a africanidade ressurgiram a importância das filosofias africanas e da base de conhecimento africano. Os africanos redescobriram as culturas escritas africanas e os mananciais de informação e formação contidos nelas. Os países africanos islâmicos muito antes da idade média, tinham forte sistemas educacionais e cultura escrita realizada em letras árabes, e em parte esta tradição passou a ser revista.

Sobre a escrita e sobre a matemática e a filosofia pensavam os europeus que eles que tinham difundido isto pelo mundo. Foi nas revisões entendido que os africanos e asiáticos que ensinaram aos europeus a escrita e os conhecimentos científicos e não ao contrario.

Três livros são fundamentais para compreensão destas verdades.

  • Como o europeu subdesenvolveu a África de Walter Rodney, de 1970 que mostra a destruição da cultura a das sociedades africanas pelos europeus entre os séculos 16 e 20.
  • O livro do George James, a herança roubada, de 1956, que mostra que a cultura grega é realizada a partir da africana, devido aos gregos terem estudado na África.
  • O livro de Ngũgĩ wa Thiong’o, sobre descolonização das mentes, discutindo a política das línguas e das culturas no processo de dominação (Decolonising the Mind: the Politics of Language in African Literature (Heinemann Educational,

Entretanto nisto que se rediscute como se não tivesse um longo e fértil passado que são as teorias pos-colonial ou decolonial, existe uma grande literatura Caribena:

  • Edouard Glisant, nos anos 1960 a 1970,
  • Derec Alcott, premio Nobel de literatura em 1992,
  • o jamaicano Professor Rex Nettleford, um dos maiores teórico da identidade publicado em 1971, do qual Stuart Hall retira muita da sua produção e reinterpreta com uma linguagem marxista.
  • Sendo que as brasileiras Narcimaria Luz e Leda Maria Martins com as suas originais e seminais formas de pensar as culturas negras no Brasil e as suas decorrentes identidades.

Entretanto a hegemonia da cultura, da produção do conhecimento brasileiro parou nos cânones dos anos 70 e 80 da ultrapassada Europa e continua seguindo os ritos da hegemonia europeia, como uma preservação em balsamo do cadáver não enterrado.

As nossas universidades não perceberam nem o grito de angustia europeu da pós – modernidade e nem as inovações oferecidas por africanos e asiáticos. Seguimos negando acreditar que houve a queda do muro de Berlin e as teorias que o sustentavam se tornaram ultrapassadas pela experiência da história.

By Henrique Cunha

Henrique Cunha Jr. nasceu em São Paulo, no bairro do Bexiga, em 1952. Passou a infância no tradicional bairro do Ipiranga, tendo estudado no Colégio Estadual Brasílio Machado. Formou-se em Engenharia Elétrica na USP e em Sociologia na UNESP de Araraquara. Mestre em História, cursou doutorado em Engenharia Elétrica na França. É Livre-docente pela Universidade de São Paulo e Professor Titular da Universidade Federal do Ceará, tendo também lecionado na USP.

Recomendado por João Jorge Olodum. Século XX um legado de mudanças. Africanidade: mudanças dentre os rumos das ciências que o Brasil não acompanhou.

 

 

 

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  • Gildo Ribeiro

    Gildo Ribeiro é editor do Grupo 7 de Comunicação, liderado pelo Portal 7 Minutos, uma plataforma de notícias online.

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