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Budismo

Reencarnar? Só com autorização do governo!

Recentemente, o governo chinês reafirmou que o processo de reencarnação do Dalai Lama – sim, reencarnação – deve “obedecer às leis do Estado”.

Em tempos de confusão entre fé e poder, a China nos oferece mais um exemplo de tudo o que a laicidade não deve ser.

Recentemente,

o governo chinês reafirmou que o processo de reencarnação do Dalai Lama – sim, reencarnação –

deve obedecer às leis do Estado.

Em outras palavras, o regime comunista pretende ditar não apenas o futuro político do Tibete, mas também o destino espiritual de seu principal líder religioso.

Permitir que o Estado regule a sucessão espiritual de uma fé é o mesmo que aceitar que a burocracia determine o que Deus pode ou não fazer.

É o totalitarismo aplicado ao invisível.

No Brasil, apesar de todas as tensões, temos um modelo constitucional de laicidade que caminha em outra direção.

A laicidade colaborativa reconhece que o Estado é separado das religiões, mas não é seu adversário.

Ele não impõe silêncio às igrejas, nem interfere em seus dogmas, liturgias ou crenças.

Nossa Constituição entende que a fé não é um capricho individual, mas expressão legítima da dignidade da pessoa humana.

Religião não é assunto privado.

É realidade pública – e protegida.

Toda civilização livre nasce de um pacto implícito: o Estado não legisla sobre o sagrado, e o sagrado não tenta usurpar o poder do Estado

Não por acaso,

imaginar por aqui que o governo teria algo a dizer sobre a escolha de um papa,

o chamado de um pastor, a sucessão de um babalorixá ou – por que não? –

a reencarnação de um líder espiritual seria uma ideia recebida como piada ou delírio autoritário.

No entanto, quando olhamos para modelos de Estado como o chinês, percebemos que esse tipo de interferência é tudo menos uma caricatura.

É projeto de poder, é controle total da subjetividade, é subjugação da consciência humana.

O que está em jogo, no fundo, é a pretensão de certos Estados modernos de se colocarem no lugar de Deus.

A religião, em sua essência, afirma a existência de uma instância superior à autoridade do poder político.

E é justamente essa transcendência que incomoda os regimes totalitários.

Eles não temem a religião apenas porque ela mobiliza pessoas, mas porque ela nega ao Estado o monopólio do sentido.

O tirano não tolera concorrência – nem mesmo metafísica.

A lição que precisamos aprender é que a liberdade religiosa não se protege apenas com declarações constitucionais, mas com vigilância cultural.

A teologia pode parecer inofensiva aos olhos dos céticos, mas é ela que delimita, silenciosamente, onde termina a mão do Estado.

Quando o Estado começa a se interessar pelo destino eterno das almas, o cidadão precisa se preocupar com o destino imediato de sua liberdade.

Não é coincidência que as piores ditaduras do século 20 tenham tentado domesticar ou eliminar a religião.

Por fim, a história nos ensina que toda civilização livre nasce de um pacto implícito: o Estado não legisla sobre o sagrado, e o sagrado não tenta usurpar o poder do Estado.

Essa tensão – que exige maturidade institucional, compromisso democrático e respeito mútuo – é o que chamamos de laicidade.

Quando bem compreendida, ela é menos uma separação hostil e mais um equilíbrio generoso.

E é justamente por isso que, no Brasil, a reencarnação de um líder espiritual continuará sendo um mistério da fé – e não um processo administrativo.

Por Jean Marques Regina
Jean Marques Regina é mestre em Direito Político e Econômico (Mackenzie), pós-graduado em Liberdade Religiosa (Mackenzie com estudos em Oxford e Coimbra)

 

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  • Gildo Ribeiro

    Gildo Ribeiro é editor do Grupo 7 de Comunicação, liderado pelo Portal 7 Minutos, uma plataforma de notícias online.

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