Conta a Mitologia
O Covid19 e a Síndrome de Cassandra
Passou da hora de responsabilizar as pessoas, as instituições, o complexo médico-industrial e os Governos em torno da Saúde, cada um fazendo sua parte.
Conta a Mitologia que a profetisa Cassandra, filha do Rei Príamo de Troia, conquistou a paixão do deus Apolo, mas não teve seu amor correspondido. Assim, em vingança, Apolo amaldiçoou Cassandra fazendo com que todas as suas profecias, avisos e predições fossem consideradas como mentiras, impossibilitando-a também de comprovar a validade de suas visões.
A Pandemia do Covid19 nos remete diretamente à Síndrome de Cassandra.
Mais de um século depois da pandemia da Gripe Espanhola (entre 1918 a 1920) percebe-se que não houve uma preparação eficiente para o enfrentamento da realidade de o quanto somos frágeis a doenças contagiosas em profusão global.
A Gripe Espanhola, causada pelo vírus H1N1, foi uma das mais mortais da história recente da humanidade, tendo infectado mais de 500 milhões de pessoas e matado entre 17 milhões e 50 milhões, e possivelmente até 100 milhões. No Brasil, 65% da população da época adoeceu, com cerca de 14 mil mortes no Rio de Janeiro e 2000 mortes em São Paulo.
Recentemente, há 15 anos, tivemos a epimedia do SARS causado pelo coronavírus SARS-COVID e, logo depois, o H5N1, o H1N1, o Ebola e por aí vai.
Interessante é notar que, mesmo com as informações sobre o potencial infeccioso do COVID19, e suas consequências para a saúde, já em janeiro de 2020, pouco se fez para a preparação para a pandemia que se anunciava.
No Brasil, as autoridades públicas, mesmo diante dos relatórios sobre a nova doença e mesmo considerando o caráter global da maior festa do planeta, o Carnaval brasileiro, pouco ou nada fizeram para prepararem-se para o impacto da pandemia, pelo contrário.
Os poucos que levantaram suas vozes foram técnicos tidos como Cassandras apregoando a chegada de um dos cavaleiros do Apocalipse.
O fato é que a pandemia revelou que, mesmo com suas precariedades de equipamentos, infraestrutura e profissionais, o Sistema Único de Saúde brasileiro revelou-se um modelo de saúde pública que, apesar de necessitar de aperfeiçoamentos e investimentos, tem funcionado e bem, apesar das ingerências políticas, as “guerras de informações” e a falta de uma integração eficiente das instituições e de informações.
O aproveitamento político e as inúmeras possibilidades de fraudes e atuação corrupta foram apregoadas pelas Cassandras ao redor do mundo. A realidade está sendo revelada, apesar dos pesares. As fases iniciais da emergência foram um teste de estresse político brutal que apenas uns poucos países passaram – aqueles com estados capazes, confiança social e liderança eficaz.
A pandemia do Covid19 não acaba em mais um mês ou mais um ano somente. Enquanto não houver meios de imunização coletiva de toda a sociedade, o perigo sempre irá existir. Sobre isso, então, já se fala de um “novo normal”, ou seja, a adaptação da sociedade mundial para encarar o problema de fato: somos extremamente vulneráveis e as culturas mundiais devem entender isso definitivamente.
O trabalho à frente, nos próximos anos, será árduo e longo, onde a cooperação internacional será colocada em xeque. E a cura para a doença não é isolamento das nações, mas fortalecer conexões mais profundas. Os profissionais de saúde e os cientistas agiram alcançando uns aos outros, reunindo talentos e recursos, é isso que precisamos estimular e aperfeiçoar com urgência.
Enquanto isso é preciso repensar o termo Saúde. Passou da hora de responsabilizar as pessoas, as instituições, o complexo médico-industrial e os Governos em torno da Saúde, cada um fazendo sua parte. Afinal, essa não será a última crise de saúde que enfrentaremos e não podemos matar as Cassandras.
By Carlos Marcelo Cardoso Fernandes
Coronel Intendente da Reserva da Aeronáutica; Administrador de Empresas;
Especialista em Orçamento, Planejamento e Gestão Pública; Especialista em Logística Empresarial, é colaborador do Portal 7Minutos







