“O Homem das Portas”:
Xavier das Portas: quando o lixo vira protesto e a cidade é obrigada a ouvir
Portas velhas, recados diretos e uma cobrança que a Prefeitura não consegue ignorar
Em Salvador, o silêncio da burocracia ganhou um inimigo improvável: portas de madeira abandonadas.
Espalhadas por avenidas, postes e calçadas, elas carregam mensagens pintadas à mão, com endereço certo , o gabinete do prefeito Bruno Reis.
O autor dessa intervenção urbana que virou símbolo de resistência popular atende pelo nome de Paulo Xavier, conhecido nas ruas e nas redes como Xavier Informa ou Xavier Faz.
Cansado de abrir protocolos e receber silêncio como resposta, ele decidiu escancarar o problema.
Literalmente.
Do entulho ao grito público
Xavier recolhe portas, tampos de mesa e pedaços de madeira descartados no lixo.
Com tinta e pincel, transforma o entulho em verdadeiros “outdoors da cobrança”.
Em cada placa improvisada, uma denúncia clara: buracos nas vias, iluminação precária, postos de saúde esquecidos — tudo acompanhado do número do protocolo oficial já registrado e ignorado.
É a burocracia exposta à luz do dia.
Um recado simples e impossível de fingir que não foi visto.
Eles tiram, eu coloco de novo.
Estão lenhado.
Tenho mais portas guardadas, dispara Xavier, sem rodeios, sobre as operações da Prefeitura para recolher as placas.
Uma pedra no sapato do poder
O que começou no bairro da Federação rapidamente se espalhou por toda Salvador.
As portas surgem em pontos estratégicos, onde o fluxo de pessoas garante visibilidade — e constrangimento político.
Para muitos moradores, as mensagens funcionam como um “Diário Oficial do Povo”: ali está a data do pedido, o número do protocolo e o tempo exato de abandono.
Uma contagem pública do descaso.
Quando a criatividade vira arma social
Em tempos de protestos digitais e hashtags que duram 24 horas, Xavier faz o caminho inverso.
Seu protesto é analógico, físico, impossível de ser silenciado com um clique.
Justamente por isso, viraliza.
Fotos das portas circulam nas redes sociais, transformando a intervenção em símbolo do cansaço coletivo.
Moradores de outros bairros já disputam a atenção do “Homem das Portas”, pedindo que ele leve suas placas para novas regiões.
A ação virou folclore político — e, mais do que isso, virou pressão real.
Enquanto a Prefeitura recolhe madeira, Xavier recolhe mais portas.
Para ele, cada placa retirada sem solução é apenas um convite para a próxima instalação.
Em Salvador, a mensagem está clara: quando o poder fecha as portas, o povo encontra um jeito de abri-las à força — nem que seja com tinta, madeira e coragem.
Por Gildo Ribeiro
Redação 7Minutos — Brasília
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