Política By Estadão
Fachin reage a tuíte de general Villas Bôas sobre o STF: ‘Intolerável e inaceitável’
Ministro reagiu à revelação feita em livro pelo general Eduardo Villas Bôas, no qual ele relata ter articulado com a cúpula do Exército, em 2018, tuítes que faziam ‘alerta’ ao STF antes do julgamento de um habeas corpus de Lula
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BRASÍLIA – O ministro Edson Fachin, do Supremo Tribunal Federal (STF), reagiu nesta segunda-feira, 15, à revelação feita em livro pelo general Eduardo Villas Bôas.
No qual ele relata ter articulado com a cúpula do Exército, em 2018, tuítes que faziam “alerta” ao Supremo, pouco antes de a Corte julgar um habeas corpus do ex-presidente Luiz Inácio Lula da Silva. Em abril daquele ano, o plenário do STF negou, por maioria de votos, um pedido apresentado pela defesa de Lula, do qual Fachin era o relator.
“Anoto ser intolerável e inaceitável qualquer forma ou modo de pressão injurídica sobre o Poder Judiciário”, afirmou o Fachin, por meio de nota. “A declaração de tal intuito, se confirmado, é gravíssima e atenta contra a ordem constitucional. E ao Supremo Tribunal Federal compete a guarda da Constituição”,
completou o ministro, que também é relator, no Supremo Tribunal Federal, dos casos relacionados à Lava Jato.
Fachin lembra que a Constituição brasileira (art. 142) estabelece que
“as Forças Armadas, constituídas pela Marinha, pelo Exército e pela Aeronáutica, são instituições nacionais permanentes e regulares, organizadas com base na hierarquia e na disciplina, sob a autoridade suprema do presidente da República, e destinam-se à defesa da Pátria, à garantia dos poderes constitucionais e, por iniciativa de qualquer destes, da lei e da ordem.”
Fachin diz que é "intolerável e inaceitável pressão sobre o Judiciário" – 15/02/2021 – UOL Notícias. – Intolerável e inaceitável é o padrão do nosso judiciário ! https://t.co/JVlNHDVDIF
— Ricardo Suruagy (@suruagymotta) February 15, 2021
Neste contexto, o ministro mencionou a invasão do Capitólio e a atitude dos militares americanos, que controlaram a situação.
“Frustrou-se o golpe desferido nos Estados Unidos da América do Norte contra o Capitólio pela postura exemplar das Forças Armadas dentro da legalidade constitucional. A grandeza da tarefa, o sadio orgulho na preservação da ordem democrática e do respeito à Constituição não toleram violações ao Estado de Direito democrático”, afirmou.
https://youtu.be/jMfInDBItog
No livro, o general Eduardo Villas Bôas, comandante do Exército nos governos Dilma Rousseff (PT) e Michel Temer (MDB), revela ter planejado o tuíte com o Alto Comando. Na ocasião, um dia antes de a Corte julgar um habeas corpus ajuizado pelo petista, o general primeiro tuitou que a
“Força compartilhava o anseio de todos os cidadãos de bem”.
Depois, divulgou novo tuíte citando as instituições, com tom ainda mais político.
“Nessa situação que vive o Brasil, resta perguntar às instituições e ao povo quem realmente está pensando no bem do País e das gerações futuras e quem está preocupado apenas com interesses pessoais”, dizia a publicação.
O texto foi interpretado como ameaça de golpe, caso Lula fosse libertado pelo Supremo. O ex-presidente cumpria pena estabelecida pelo então juiz Sérgio Moro, no processo do triplex do Guarujá. Sua libertação poderia ter influência na campanha eleitoral. A disputa foi vencida, no segundo turno, pelo atual presidente Jair Bolsonaro, derrotando o petista Fernando Haddad.
A versão está no livro General Villas Bôas:
Conversa com o Comandante, lançado pela Editora FGV a partir de entrevista ao pesquisador Celso Castro. Nela, o militar detalha, do seu ponto de vista, como se deu a construção daquele recado. Para ele, não foi uma ameaça, e sim um “alerta”.
Segundo o general, houve duas motivações para divulgação da mensagem. Uma era o que chamou de “insatisfação da população” com o País. A outra era a demanda que chegava ao Exército por uma intervenção militar – o que afirmou considerar impensável. Além de planejado com o Alto Comando do Exército, o recado, segundo o general, passou por revisão dos comandantes militares de área, seus subordinados.
General é guru do presidente
Com forte influência no Exército, força que comandou por quatro anos – entre os governos Dilma Rousseff e Michel Temer – o general Eduardo Villas Bôas é um dos principais “gurus” do presidente Jair Bolsonaro. E o presidente já deixou isso claro em algumas ocasiões.
Um dia após assumir a Presidência, por exemplo, Bolsonaro lembrou a influência do general ao afirmar que Villas Bôas foi um dos responsáveis por ele ter chegado ao Planalto.
“O que nós já conversamos morrerá entre nós. O senhor é um dos responsáveis por eu estar aqui”, afirmou na ocasião o presidente.
Em agosto de 2019, meses após o tuíte do general interpretado como uma ameaça ao STF por causa do julgamento que poderia tirar o ex-presidente Luiz Inácio Lula da Silva da prisão, Bolsonaro afirmou que o general Villas Bôas “agiu em silêncio durante momento “crítico do Brasil”, quando, segundo ele, teria garantido “liberdade e democracia”. “A história sabe disso”, afirmou Bolsonaro.
By André Borges, O Estado de S.Paulo
Link original da matéria:
https://politica.estadao.com.br/noticias/geral,fachin-reage-a-tuite-de-general-villas-boas-sobre-o-stf-intoleravel-e-inaceitavel,70003617259