tem também importância histórica
Furto e vandalismo desativam a centenária Estrada de Ferro Campos do Jordão
A prefeitura, Câmara e moradores de Pindamonhangaba iniciaram um movimento pela reativação da linha férrea.

Furtos e vandalismo levaram à paralisação do tráfego de trens na Estrada de Ferro Campos do Jordão (EFCJ), um dos ícones da história ferroviária no Estado de São Paulo, inaugurada em 1914.
De acordo
com a Secretaria de Transportes Metropolitanos, que opera a
ferrovia, desde maio de 2020, em plena pandemia de covid-19, a
linha férrea foi alvo de mais de 80 ocorrências de furtos,
resultando na subtração de 30 quilômetros de cabos da rede aérea e
na derrubada de mais de cem postes.
Desde então,
a ferrovia está
inoperante em 60% do percurso, entre Pindamonhangaba e Santo
Antônio do Pinhal, no Vale do Paraíba, interior paulista.
A prefeitura,
Câmara e moradores de Pindamonhangaba iniciaram um
movimento pela reativação da linha férrea. Nesta quarta-feira, 30,
será realizada reunião na Câmara Municipal para discutir o tema. A
pasta estadual confirmou a participação.
A estrada de ferro foi
concebida pelo sanitarista Emílio Ribas para facilitar o acesso aos
sanatórios da estância climática da Serra da Mantiqueira. Depois,
se tornou uma das primeiras ferrovias turísticas do país. Nos
últimos anos, antes da desativação, atendia também o transporte de
moradores da zona rural de Pindamonhangaba e de Santo Antônio do
Pinhal.
Em 2019,
antes da pandemia, a ferrovia transportou mais de 160 mil
passageiros. Atualmente, o trem turístico circula apenas no trecho
urbano de Campos do Jordão. No início de março, a Secretaria de
Cultura e Turismo de Pindamonhangaba se reuniu com representantes
da pasta estadual para discutir uma forma de recolocar os trens em
circulação.
A Câmara
Municipal de Pindamonhangaba aprovou a criação
de uma frente parlamentar em defesa da estrada de ferro
Conforme
o secretário de Cultura e Turismo, Alcemir Palma,
integrantes do conselho municipal do patrimônio histórico
manifestaram preocupação com a situação dos prédios ferroviários ao
longo da estrada. “
Os munícipes que moram perto das estações também
nos procuraram, preocupados com a volta dos trens. Assim, foi
sugerida a criação de uma frente parlamentar na Câmara para tornar
oficial a discussão do tema. Pelo que nos foi dito, houve duas
tristes coincidências: a paralisação do transporte durante a
pandemia e, em seguida, uma série de furtos de cabos, afetando a
operação”, disse.
Ainda segundo
o secretário, a expectativa é de que a ferrovia volte
a operar até o fim do ano. “A estrada de ferro tinha o transporte
regular e aos domingos fazia uma viagem especial até Piracuama, que
é em nosso município e tem importantes atrativos turísticos. O
maior trecho da estrada é de Pindamonhangaba, por isso a nossa
preocupação.
A ideia de criar
a frente é no sentido de demonstrar
publicamente o interesse da sociedade na retomada da ferrovia. Tem
também uma associação de ferroviários que briga pela manutenção dos
empregos”, relatou.
O trem turístico
vinha funcionando desde 2004, partindo da estação
de Pindamonhangaba até o núcleo de Piracuama, na zona rural, que
tem várias atrações turísticas. Entre elas, o Parque Reino das
Águas Claras, com esculturas de personagens criados pelo escritor
Monteiro Lobato, como o saci Pererê, tia Anastácia, Emília,
Narizinho, o Visconde de Sabugosa e o Rinoceronte que, com a
desativação dos trens, também ficaram no abandono.
A STM
informou em nota que a Estrada de Ferro Campos do Jordão está
constantemente em contato com representantes do poder público e com
a população local para trazer melhorias para a ferrovia.
“Lamentavelmente, desde maio de 2020, fomos alvos de uma série de
furtos. Foram registrados mais de 80 boletins de ocorrência, com
furtos de aproximadamente 30 km de cabos da rede aérea e mais de
cem postes derrubados. Com isso, está inoperante desde esta data o
tráfego de trens no trecho de 28 km entre Pindamonhangaba e Santo
Antônio do Pinhal”, disse.
A EFCJ
informou que, para evitar novos danos ao seu patrimônio,
realizou a contratação de uma ronda motorizada para vigilância e
segurança, instalando também um sistema de alarme com aviso sonoro
de rompimento da alimentação elétrica. E que oferece suporte às
autoridades policiais que investigam o caso.
Sem informar
datas, a administração disse que está em andamento um projeto para a total
recuperação da rede aérea de cabos no trecho de Pindamonhangaba,
para o retorno dos trens de transporte de passageiros.
A frente
parlamentar vai pedir aos órgãos do patrimônio histórico
estadual e nacional um estudo para o tombamento da Estrada de Ferro
Campos do Jordão.
A ferrovia foi idealizada pelos médicos sanitaristas Emílio Ribas e
Victor Godinho para dar acesso mais rápido e confortável às pessoas
que buscavam os sanatórios de Campos do Jordão para tratamento da
tuberculose.
A construção
foi autorizada em novembro de 1910 pelo
governo estadual e os 47 quilômetros de linha férrea foram
construídos em tempo recorde, permitindo a inauguração em novembro
de 1914.
Dois anos depois,
devido ao início da Primeira Guerra Mundial, os
acionistas enfrentaram problemas financeiros e autorizaram a
encampação da ferrovia pelo governo do Estado. Em 1916, as
locomotivas a vapor foram substituídas por outras à gasolina.
Em 1934,
a eletrificação da linha férrea foi concluída pela English
Electric e os trens passaram a transportar cargas, sobretudo a
produção agrícola da Mantiqueira. Em 1977, a ferrovia voltou a ser
exclusiva para o transporte de passageiros e, em 2011, foi
transferida para a Secretaria dos Transportes Metropolitanos.
O trem partia
da estação ferroviária de Pindamonhangaba (km 0),
fazia a primeira parada no Reino das Águas Claras (km 7) e iniciava
o trecho de serra, parando na vila de Piracuama (km 20). A próxima
parada acontecia na estação de Engenheiro Lefévre (km 28), em Santo
Antônio do Pinhal.
O trem passava
pelo Alto do Lageado, o ponto
culminante ferroviário do Brasil, a uma altitude de 1.743 m. Em
seguida o trem chegava ao Portal de Campos do Jordão (km 40) e
fazia o trajeto urbano até a estação de Abernéssia (km 43), com o
ponto final na estação Emílio Ribas (km 47), no Morro do Elefante.
O arquiteto
Claudio Gimenez Filho lembra com saudades os passeios
que fazia no trem turístico, na década de 1960, quando saía de
Campos de Jordão a bordo do vagão, almoçava em Pindamonhangaba e
retornava ao fim da tarde.
“O trem fazia paradas em mirantes e
locais com atrativos, era uma viagem maravilhosa”, disse. Ele e a
esposa, a atriz e bailarina Mariana Muniz, visitavam nesta terça-
feira, 29, a estação Eugênio Lefévre e lamentaram a longa
paralisação da ferrovia. “Se estivesse funcionando, íamos fazer um
passeio que nunca fiz e que conheço apenas pelas memórias do
Claudio”, disse Mariana.
Próximo da estação
sem trens, mas que mantém os funcionários a
postos, é possível encontrar postes de ferro retorcidos pelos
vândalos.
“Provavelmente, derrubaram os postes para furtar a
fiação. Só não sei porque ainda não foram retirados e substituídos.
Acho essencial que façam o que for preciso para retomar os
passeios. Essa é uma região turística importante, com cenários
deslumbrantes. A gente vem de São Paulo para Santo Antônio de
Pinhal e não perde a oportunidade de rever a estação, que tem
também importância histórica”, disse.
O prédio,
em meio a jardins
de hortênsias e um cenário bucólico, é de 1916 e está bem
preservado.
Estadão Conteúdo
