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By: David Nasser janeiro64

O GRANDE MUDO

Enganam-se agueles que vêem no Exército Brasileiro - cerne das Forças Armadas simples massas de manobra.

Janeiro de 1964 –  Três meses antes, este artigo de David Nasser profetizava o que iria acontecer no Brasil.

Mais de uma vez tenho dito que, no momento certo, o grande mudo falará.

DAÍ

o meu desacordo aos apelos oposicionistas – e quem vos escreve é maciçamente um homem de oposição, para que os civis democratas se armem e enfrentem as legiões sindicalistas mobilizadas pelos desordeiros, os grandes e os pequenos.

 

A aceitar tranquilamente

a tese do nobre o lúcido brasileiro que é o Deputado Bilac Pinto, de que temos de nos armar para a luta nas cidades, nas ruas, nas fazendas, nas casas – estaríamos retirando das Forças Armadas brasileiras o crédito de confiança que elas nunca nos desmereceram.

É PRECISO admitir – e aceitar – o fato de que o conceito de legalidade não é o mesmo para todos.

 

Os militares têm deveres

capitulados, muito bem definidos em regulamentos simples, claros e rígidos.
Não se parecem, esses freios, com as linhas fluidas da legalidade civil.

Isto é a legalidade como nós, civis, a vemos e a interpretamos.

ENTENDEM,

os militares, que não compete a eles a dissecação dos atos governamentais nem o exame de sua constitucionalidade.

È tarefa para o Parlamento e o Judiciário e so se omitem ou negaceiam em face da inconstitucionalidade de certos atos ou de certas tendências do Executivo, o Exército não lhes pode tomar a vez.

Competiria, em última análise, ao próprio Parlamento declarar a nulidade desses atos, coibir essas tendências – e recorrer dramaticamente – numa atitude histórica – ao único remédio legal.

Ante o silêncio de um, não há de estranhar-se a omissão do outro.

O EXERCITO

(e como exército se aceite a principal força militar) é o defensor, o executor e o mantenedor da legalidade, não o seu intérprete, o seu jurista.

 

Os democratas brasileiros

podem confiar nas Forças Armadas que não se condicionam à vontade unipessoal de um Ministro, por mais honrado que ele seja, nem aos caprichos de um almirante, por mal-intencionado que ele seja.

NINGUEM

pode talar em nome do Exército Brasileiro, da Marinha Brasileira, ou da Força Aérea Brasileira, se a sua fala é antidemocrática.

 

Tenho repetido que os militares são simples civis

de uniforme, são cidadãos da classe média que enfrentam os mesmos problemas, sofrem as
mesmas angústias, sentem as mesmas depressões, os mesmos temores, as dificuldades Iguais às de todos os brasileiros.

Dispam, imaginariamente,

o General Jair Dantas Ribeiro do seu uniforme – e o coloquem dentro de um pijama burguês.

Ninguém poderia admitir que um general de longo curso, vindo de uma carreira de melo século a serviço da Pátria, a pudesse entregar cegamente aos extremistas.

 

Não devem estar longe dos ouvidos do cabo-de-guerra
aquela espantosa declaração de Luiz Carlos Prestes de que lutaria ao lado da União Soviética
se esta entrasse em guerra com o Brasil.

 

E hoje são muitos, entre os civis, os nacionalistas
impatrióticos, mas, entre os militares, constituem uma minoria irrisória, porém, atuante.

TODOS nós, democratas,

devemos considerar as Forças Armadas como a base de uma santa aliança contra a invasão comunista do Brasil.

Não importa que se imagine o contrário.

Não importa que este ou aquele general, este ou aquele coronel, pareçam engajados na mesma
aventura de destruição da nacionalidade.

 

No momento exato, veremos que não será

necessário recorrer ao velho fuzil ou à garrucha enferrujada do civil assustado, do fazendeiro
que defende a terra dos seus pais como quem defende os sete palmos de seu destino.

Na hora absoluta da decisão,

eles, os militares, não estarão defendendo apenas as propriedades rurais e urbanas, as liberdades públicas, os alicerces democráticos da Pátria:

 

Eles, os militares, estarão defendendo,

contra o comunismo, que não é mais uma utopia, mas uma realidade brutal, as suas carreiras, pois sabem que, vencidos, serão trocados por milícias operárias ou  camponesas, como na terra de Fidel.

O GRANDE MUDO

– o Exército Brasileiro – a tudo assiste, como um leão reumático, um velho leão do circo brasileiro, dentro da jaula, onde prenderam a democracia.

Catucam-no, os Brizolas et caterva.

 

Os falsos domadores

se animam, julgando que o Rei perdeu a sua força.

 

Súbito,

ele eriça a juba, o pelo se eletriza – e num instante, o corpo de pé, prepara-se para a reação.

E daquele animal soberbo, que parecia emudecido para sempre, sai um urro de fogo.

O urro democrático.

Assim será com a Marinha.
Assim será com a FAB.
Assim será principalmente, com o Exército Brasileiro.

0 grande mudo.

Porque o velho leão – preso e espezinhado na jaula da legalidade – não está morto, embora o pareça.

By: David Nasser
Revista Cruzeiro – Janeiro de 1964.

David Nasser, letrista, jornalista e escritor, nasceu em Jaú SP, em 1/1/1917 e faleceu no Rio de Janeiro RJ em 10/12/1980. Passou a infância em São Lourenço MG, trabalhando como charreteiro e entregador de pão para pagar os estudos. Deus vida a grandes matérias na Revista Cruzeiro nos  anos  60, 70. 

Qualquer semelhança com o GRANDE MUDO de 2022, pode ser uma repetição da regra….

[caption id="attachment_129123" align="alignnone" width="1024"] “Milagre econômico” -Ao longo da ditadura, o Brasil foi governado por 5 generais (e, por um breve período, em 1969, também por uma Junta Militar). Foto: Wikimedia Commons Reprodução/Wikimedia Commons[/caption]
[caption id="attachment_129124" align="alignnone" width="1024"] Os anos após o AI-5 foram os mais violentos da ditadura militar[/caption] [caption id="attachment_129125" align="alignnone" width="1024"] Deposição_do_Governo_João_Goulart_–_Golpe_de_1964_32.tif.jpg[/caption] [caption id="attachment_129126" align="alignnone" width="1024"] Ernesto Beckmann Geisel Bento Gonçalves, 3 de agosto de 1907 — Rio de Janeiro, 12 de setembro de 1996) foi um político e militar brasileiro, tendo sido 29º Presidente do Brasil (4º no regime militar brasileiro) de 1974 a 1979[/caption] [caption id="attachment_129127" align="alignnone" width="1024"] RevolucoesBrasil-31-de-marco-de-1964-Golpe[/caption] [caption id="attachment_129128" align="alignnone" width="1024"] Edição da Revista Cruzeiro de Janeiro de 1964[/caption] [caption id="attachment_129129" align="alignnone" width="1024"] David Nasser, letrista, jornalista e escritor, nasceu em Jaú SP, em 1/1/1917 e faleceu no Rio de Janeiro RJ em 10/12/1980.[/caption]
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  • Gildo Ribeiro

    Gildo Ribeiro é editor do Grupo 7 de Comunicação, liderado pelo Portal 7 Minutos, uma plataforma de notícias online.

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