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Será se o TSE vai ver isso

O TSE deveria tratar pesquisas escandalosamente erradas

Com mesmo rigor que aplica às fake news da tia do zap

As empresas não reconheceram as mancadas, mas correram a dizer que acertaram porque erraram.

 

Isso não é nada bom para a democracia

Três professores de estatística foram caçar lebres na floresta. Ao chegarem, logo viram uma.

O primeiro professor dispara um tiro… um metro à direita da lebre.

O segundo dispara um tiro… um metro à esquerda da lebre.

O terceiro, então, exclama:

 “Nós a pegamos”.

Lembrei da piada italiana ao comparar os resultados das urnas no primeiro turno da eleição presidencial e os de pleitos estaduais com os números das empresas de pesquisa divulgados na véspera (vamos tratar como empresas, não como institutos, que é o que elas são). As que se autoproclamam as mais confiáveis, mas não apenas elas, erraram escandalosamente.

 

O Datafolha mostrava Lula com 50% e Jair Bolsonaro com 36%,

uma diferença de 14 pontos – 14 pontos, enfatize-se –, com margem de erro de 2 pontos. O Ipec apontava o petista com 51% e o atual presidente com 37%, dentro da margem de erro idêntica à do Datafolha.

 

Ao final da apuração, Lula tinha 48% e Jair Bolsonaro, 43%.

A diferença de 14 pontos era, na verdade, de apenas 5. Uma das que erraram menos foi justamente a mais atacada pelos antibolsonaristas: Paraná Pesquisas, que dava o petista com 47% e o atual presidente com 40%.

Em estados como São Paulo, Rio Grande do Sul e Rio de Janeiro, a vergonha se repetiu.

 

O que deveriam ter feito as empresas de pesquisa?

Reconhecido o erro. Não foi o que ocorreu.

Elas correram a dizer que acertaram a lebre, porque, sabe, pesquisa é retrato do momento, eleição é filme – e que, afinal de contas mal feitas, não há do que reclamar, visto que as pesquisas deram Lula em primeiro, Jair Bolsonaro em segundo, Simone Tebet em terceiro e Ciro Gomes em quarto.

 

Mas e quanto aos números absurdamente díspares de Jair Bolsonaro?

Vieram com a história de que houve uma súbita migração de votos em massa em 24 horas, porque os eleitores de direita ou apenas antipetistas, ao serem confrontados com a possibilidade de Lula ser eleito em primeiro turno, fizeram “voto útil”, antecipando o voto em Jair Bolsonaro e desidratando as candidaturas de Simone Tebet e Ciro Gomes.

 

Mais: as empresas deram a entender que,

como também os seus números teriam movido os indecisos a se decidirem pelo “voto útil”, elas até contribuíram com boa informação para o resultado de domingo. O argumento foi replicado para explicar os absurdos nos estados.

 

Ou seja, acertaram porque erraram.

 

O aspecto que deveria acender o alerta no TSE

é que, se é verdade que as pesquisas anteciparam o “voto útil” em Jair Bolsonaro, prejudicando Simone Tebet e Ciro Gomes, e se o fenômeno ocorreu também em votações para governador e senador, isso significa que as empresas exerceram uma influência indevida no processo eleitoral.

 

E, diante da explicação das empresas,

como garantir que não pudesse acontecer o oposto, o de dar um empurrão em Lula? O primeiro turno de uma eleição serve para que os eleitores expressem as suas convicções ou simples simpatias, o que permite a candidatos e partidos verificarem a sua real representatividade.

Se os cidadãos se veem compelidos a deixar as suas convicções de lado por causa de pesquisas, há uma distorção no tempo e no espaço que prejudica a democracia.

 

O leitor pode perguntar-se:

mas como é que as pesquisas seriam capazes de detectar o voto envergonhado?

Não sou estatístico caçador de lebres, mas afirmo que, se as empresas não têm como montar um questionário que possa verificar se a declaração de intenção de voto bate com o perfil ideológico do sujeito, para descartar aquelas que não coincidem, é melhor mudar de negócio.

 

É uma ideia de jerico criminalizar empresas

que divulgam pesquisas eleitorais que, confrontadas com os resultados das urnas, apresentem resultados fora da margem de erro previamente estabelecida.

Não é ideia de jerico, contudo, o TSE

tratar as pesquisas com o mesmo rigor com que lida com as fake news da tia do zap. Seria importante que o tribunal dissecasse as metodologias e definisse, juntamente com as empresas, padrões de procedimento comuns para pesquisas presenciais, telefônicas e telemáticas, a fim de diminuir a chance de cometimento de erros clamorosos.

 

Também seria aconselhável proibir a divulgação de levantamentos

na véspera da data da eleição, como faz a França, que conta ainda com uma comissão – escolhida pelos três poderes – encarregada de fiscalizar o andamento das pesquisas eleitorais.

 

Menos estridência implica mais consciência.

A difusão de números errados interfere nas escolhas dos eleitores, desencoraja o financiamento de candidatos prejudicados por elas, enquanto encoraja os beneficiados e desanima comandantes de campanhas e os seus cabos eleitorais.

Além de propiciar, é claro, a propagação de teorias conspiratórias, como a de que as grandes empresas de pesquisa brasileiras sempre pendem em favor dos candidatos de esquerda (o que, imagino, deve ser só coincidência).

Tudo isso é muito ruim para a democracia.

Só é bom para algumas lebres.

 

By: Mario Sabino

Link original da matéria:
https://www.metropoles.com/colunas/mario-sabino/o-tse-deveria-tratar-pesquisas-escandalosamente-erradas-com-mesmo-rigor-que-aplica-as-fake-news-da-tia-do-zap

[caption id="attachment_125759" align="alignnone" width="1024"] Lula e Bolsonaro Arte/Metrópoles[/caption]
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  • Gildo Ribeiro

    Gildo Ribeiro é editor do Grupo 7 de Comunicação, liderado pelo Portal 7 Minutos, uma plataforma de notícias online.

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