Política By J.R. Guzzo,
Sem limites
O ministro Alexandre de Moraes criou um regime de exceção informal no Brasil

A multa de R$ 22 milhões que o ministro Alexandre de Moraes socou em cima do PL, pelo crime de ter apresentado uma reclamação à Justiça Eleitoral, é mais que um ato ilegal, ou um momento de insânia na vertigem que envolve hoje a atividade pública no Brasil.
É uma agressão direta ao processo democrático
— a pior e mais viciosa de todas as que vem sendo praticadas pelo ministro e por seus colegas do STF contra o Estado de Direito neste país. Moraes, com o pleno apoio do Supremo e da esquerda nacional, criou um regime de exceção informal no Brasil; a cada dia, com os seus atos, ele e os colegas tratam de avançar mais, o máximo que sentem possível, no fortalecimento e na expansão da ditadura judiciária que hoje governa a sociedade brasileira.
Quem tem a obrigação
constitucional de defender o país das ditaduras não faz nada; só olha e deixa o ministro crescer, isso quando não lhe presta apoio aberto.
É natural, assim, que ele continue crescendo.
Até onde?
Aparentemente, até onde quiser.
O assalto às leis,
às liberdades e aos diretos civis que acaba de ser cometido contra o PL, um partido político de existência legal e dono da maior bancada eleita para compor a próxima Câmara de Deputados, é uma declaração de guerra;
“Quem discordar do sistema STF-TSE é inimigo, e será destruído por nós”.
O partido
não fez absolutamente nada de errado.
Apenas exerceu o seu direito de recorrer à Justiça em busca de atendimento para uma reclamação.
Se tem ou não razão em seu pedido não vem ao caso;
é isso, justamente, o que a Justiça tem de resolver.
O que não pode acontecer,
em nenhuma hipótese, é punir-se alguém pelo simples fato de fazer uma petição legal.
O PL alegou a existência de irregularidades em 280 mil urnas nas últimas eleições, e pediu anulação do segundo turno.
E daí?
Qual é o crime em se fazer isso?
O TSE não tem nenhuma obrigação de concordar com a pretensão de quem faz a queixa. Mas, obviamente, tem de examinar as razões do queixoso. Punir alguém por recorrer à Justiça é uma pura e simples aberração.
O ministro Alexandre de Moraes
não fez investigação nenhuma sobre as alegações do PL, para examinar se tinham ou não tinham procedência; em vez disso, 24 horas depois de receber a demanda condenou o autor da queixa e meteu-lhe uma multa absurda de R$ 23 milhões.
Não houve processo legal.
Não foram ouvidas testemunhas.
Não foram ouvidos peritos.
Os advogados do PL não puderam abrir a boca.
Não se apurou absolutamente nenhum fato.
Tudo o que se fez foi dizer que a
“área técnica” do TSE, que não se sabe o que possa ser, achou que as observações do PL eram “inequivocamente falsas”.
Pior: o único culpado, na história toda, era o autor da queixa.
Não apenas o TSE
se recusou a investigar qualquer de suas reclamações:
decidiu, também sem o mínimo vestígio de processo legal, que o PL havia cometido o delito de “litigância de má fé”.
O partido não teve o direito de se defender — foi multado, e bloquearam sua cota no Fundo Partidário
para garantir o pagamento da multa.
Fim de conversa.
E a quem o PL poderia recorrer contra essa demência?
Ao próprio Alexandre de Moraes, ou ao STF.
É uma piada.
É esse o estado de direito no Brasil de hoje;
são essas as garantias do cidadão.
A mídia aplaude com entusiasmo;
diz que recorrer à Justiça é um “ato antidemocrático”.
A maior parte do mundo político se curva,
na obsessão de aliar-se ao novo governo Lula-STF.
As Forças Armadas concordam com tudo.
É obvio que o ministro Moraes não tem nenhum limite pela frente.
By J.R. Guzzo,
publicado no jornal Gazeta do Povo em 24 de novembro de 2022
Link original da matéria:
https://revistaoeste.com/politica/sem-limites/
OESTE SEM FILTRO – 24/11/2022
