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Opinião Estadão

Como perdemos nosso lastro como sociedade

Sociedade americana perdeu filtros que evitavam comportamentos tóxicos e o extremismo e estimulavam comunidades saudáveis

O senso comum diz que o julgamento de Donald Trump por seus supostos esforços para comprar o silêncio de uma estrela pornográfica às vésperas das eleições de 2016 é o menos importante dos casos contra ele.

Politicamente, pode ser verdade.

Mas, mais do que qualquer outro caso, este revela uma tendência que afeta os Estados Unidos hoje: o quanto perdemos nosso lastro como sociedade.

Como assim?

O meio ambiente oferece uma boa resposta. Há quase 30 anos, visitei a Mata Atlântica no Brasil com uma equipe da Conservação Internacional, e seus membros me ensinaram todas as funções incríveis que os manguezais – aqueles bosques de árvores que muitas vezes vivem debaixo d’água ao longo da costa – desempenham na natureza.

Os manguezais filtram toxinas e poluentes por meio de suas extensas raízes, fornecem amortecimento contra ondas gigantes desencadeadas por furacões e tsunamis, formam criadouros para o amadurecimento dos peixes jovens com segurança porque suas raízes trançadas impedem a entrada de grandes predadores e, literalmente, ajudam a manter o litoral no lugar.

Na minha opinião, uma das coisas mais tristes que aconteceu aos EUA durante a minha vida foi o quanto perdemos tantos dos nossos manguezais.

Hoje, estão ameaçados de extinção em todo lugar – e não apenas na natureza.

A própria sociedade também perdeu muitos dos seus manguezais sociais, normativos e políticos – tudo aquilo que costumava filtrar comportamentos tóxicos, amortecer o extremismo político e nutrir comunidades saudáveis e instituições confiáveis para os jovens crescerem e que sustentam a união da nossa sociedade.

Veja só, a vergonha costumava ser um manguezal.

Antigamente, se você fosse candidato à presidência dos Estados Unidos e fosse alegado – com muitas evidências – que você falsificou registros comerciais para encobrir sexo com uma estrela pornô logo após sua esposa ter dado à luz um filho, você abaixaria a cabeça de vergonha, desistiria da corrida e se esconderia debaixo da cama.

Esse manguezal da vergonha foi completamente arrancado por Trump.

As pessoas se sentiam envergonhadas porque sentiam fidelidade a certas normas – o que fazia suas bochechas ficarem vermelhas quando sabiam que haviam falhado, explicou Dov Seidman, autor do livro “How: Why HOW We Do Anything Means Everything” [”Como: por que COMO fazemos as coisas é tão importante”] e fundador do How Institute for Society and LRN.

Mas, no tipo de mundo sem normas em que entramos, onde as normas sociais, institucionais e de liderança estão sendo enfraquecidas, disse-me Seidman,

ninguém mais precisa sentir vergonha por causa da violação de alguma norma.

Por Thomas Friedman (The New York Times)

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  • Gildo Ribeiro

    Gildo Ribeiro é editor do Grupo 7 de Comunicação, liderado pelo Portal 7 Minutos, uma plataforma de notícias online.

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