Estados Unidos x Venezuela
Governo Trump dá carta branca à CIA para agir pela queda de Maduro na Venezuela
Operações letais, bombardeios contra o país e até mesmo plano para capturar ditador estariam sendo considerados

EUA aumentaram consideravelmente presença militar no Caribe nos últimos meses, e Caracas teme invasão
O governo Donald Trump autorizou oficialmente a CIA, a agência de espionagem dos Estados Unidos com longo histórico de interferência na América Latina, a realizar operações secretas e letais dentro da Venezuela com o objetivo de derrubar o ditador Nicolás Maduro do poder.
A informação foi antecipada pelo jornal The New York Times nesta quarta-feira (15) e confirmada por Trump horas depois. Em conversa com a imprensa na Casa Branca, o republicano disse que a Venezuela “está sentindo a pressão” e não descartou operações em terra.
Horas mais tarde, Maduro reagiu.
Não à guerra no Caribe.
Não à mudança de regime, que nos lembra tanto as eternas guerras fracassadas no Afeganistão, no Irã, no Iraque.
Não aos golpes de Estado dados pela CIA, disse em um discurso.
A América Latina não os quer, não precisa deles e os repudia.
Dois americanos ligados a discussões sobre Venezuela no governo Trump disseram à Folha que o presidente tem em mãos uma série de planos de como asfixiar o regime de Maduro.
A estratégia seria alinhavada com o general Dan Caine, presidente do Estado-Maior Conjunto dos EUA, em quem Trump teria grande confiança.
A ideia seria ampliar a pressão nas próximas semanas com operações militares nos arredores da Venezuela, sem invadir o país, e trabalhar com a inteligência americana para capturar Maduro.
Um desses interlocutores ligados à ala linha-dura do governo comparou a operação à mesma que levou ao assassinato do major-general Qassim Suleimani, chefe da máquina de segurança do Irã morto por um ataque de drone dos EUA perto do aeroporto de Bagdá em 2020, no primeiro mandato de Trump.
Essa estratégia de ampliar a pressão com o intuito de mudar o regime tem o apoio do secretário de Estado, Marco Rubio, e se sobrepõe, ao menos por ora, à de Richard Grenell, enviado para missões especiais de Trump, que defende uma abordagem mais focada em negociar com Maduro.
Além da mudança no regime, a operação contra a Venezuela teria ainda outros objetivos, como mandar sinais a toda a América Latina, incluindo o Brasil, de que se não houver controle da atuação do crime organizado latino-americano em território dos EUA, a reação será dura.
O principal destinatário do recado seria o México.
Outro objetivo seria mostrar também a característica do rebatizado Departamento de Defesa, renomeado por Trump de Departamento de Guerra, e enviar o sinal de que os EUA agem na ofensiva.
A autorização formal dada por Trump significa que a CIA tem agora permissão de agir com autonomia na Venezuela ou em conjunto com uma operação militar de larga escala —isto é, uma invasão, cenário extremo temido por Caracas.
O New York Times afirma que Trump decidiu autorizar as operações secretas depois de abandonar esforços diplomáticos, avaliando que pouco progresso foi feito nesse sentido.
A Casa Branca chegou a recusar um acordo que daria aos EUA participação dominante na indústria de petróleo da Venezuela, país com as maiores reservas petrolíferas do mundo, em favor de perseguir uma estratégia de derrubar Maduro do poder por meio da força.
Essa seria a opção preferida por Rubio e pelo diretor da CIA, John Ratcliffe.
O secretário de Estado, filho de cubanos exilados, fez carreira política como forte opositor de regimes de esquerda na América Latina e defende há tempos a retirada de Maduro do poder.
Recentemente, Rubio chamou o ditador de governante ilegítimo e narcoterrorista —Maduro diz ter sido reeleito em 2024 em pleito repleto de acusações de fraude.
Ainda não há informações indicando que Trump tenha tomado a decisão de invadir o país sul-americano.
Nos últimos meses, seu governo aumentou consideravelmente a presença militar no Caribe, e o país hoje conta com mais de 10 mil soldados, oito navios de guerra e um submarino mobilizados na região.
No total, é mais poder de fogo do que toda a Venezuela.
O governo Trump considera autorizar também bombardeios, ataques aéreos e operações terrestres em território venezuelano, o que quase certamente significaria um estado de guerra aberta contra o país.
Mas essa possibilidade pode esbarrar em questões jurídicas.
A Constituição americana estabelece que o poder de declarar guerra é exclusivo do Congresso, o que exigiria apoio do Partido Democrata.
Também por essa razão, a Casa Branca busca justificar ações contra a Venezuela afirmando que são parte de uma campanha contra o narcotráfico —como os ataques que mataram 27 pessoas nas águas internacionais próximas ao país desde setembro.
Recentemente, de acordo com a imprensa americana, o governo Trump comunicou formalmente ao Congresso que os EUA estão “em situação de conflito armado” com narcotraficantes latino-americanos.
Essa notificação permitiria ataques unilaterais em contextos em que não há perigo para forças americanas, como é o caso dos barcos destruídos.
Nesta quarta, Trump disse que, se as embarcações estão carregando drogas, elas são “alvos legítimos”, mas o Pentágono não apresentou provas de que os barcos estavam levando substâncias ilícitas aos EUA.
A principal rota do tráfico de cocaína em direção à América do Norte passa pelo Oceano Pacífico e pela fronteira com o México, não pelo Caribe.
Também como parte da pressão exercida contra a Venezuela, o governo Trump diz que Maduro é o chefe do suposto Cartel de los Soles, que especialistas afirmam não existir, e sustenta que o ditador teria ligações com a facção Tren de Aragua, uma hipótese questionada por relatórios da própria inteligência americana.
Além disso, em agosto, o Departamento de Justiça dos EUA dobrou a recompensa por informações que levem à captura de Maduro, oferecendo agora US$ 50 milhões (R$ 272 milhões) e classificando o ditador de um dos maiores narcotraficantes do mundo e ameaça à segurança americana.
A CIA e o governo dos EUA têm longo histórico de interferência e patrocínio a golpes na América Latina, incluindo aquele que removeu João Goulart da Presidência em 1964 e instalou a ditadura militar no Brasil, período marcado por tortura, assassinatos e desaparecimentos contra dissidentes políticos.
Por Julia Chaib e Victor Lacombe
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