Eles querem a garantia do governo
Lira manda recados sobre verba, ‘disputa’ com Lula em eleição municipal
E sucessão do poder na Câmara. Em discurso, presidente da câmara disse que que os membros da Casa não foram eleitos para serem carimbadores. 'Não é isso que o povo brasileiro espera de nós'.
Não subestimem esta mesa diretora,
não subestimem os membros do Parlamento e dessa legislatura.
Assim Arthur Lira (PP-AL) abriu o discurso inaugural do legislativo de seu último ano na presidência da Câmara dos Deputados.
Errará grosseiramente qualquer um que aposte numa suposta inércia desta Câmara dos Deputados
neste ano de 2024 em razão, sejam por causa das eleições municipais, que se a avizinham, seja ainda em
razão de especulações sobre eleições para a próxima mesa diretora a ocorrerem apenas no próximo ano, complementou.
Para Maria Cristina Frias,
colunista do jornal Valor Econômico e comentarista da CBN, foi um
discurso em que ele se lançou praticamente na disputa com o Presidente da República.
Pelo apoio dos prefeitos nas demandas pela liberação de emendas, pela liberação de recursos,
pela ocupação de cargos. Ele lançou um apoio aí aos prefeitos para que o Congresso não seja mais esse carimbador de recursos, né, como ele como ele dominou, disse ela.
Em seu discurso, Lira disse que que os membros da Casa não foram eleitos para serem carimbadores. “Não é isso que o povo brasileiro espera de nós”.
Na avaliação de Maria Cristina, em entrevista ao podcast O Assunto desta terça-feira (6), “é uma diferença gigante entre carimbar e recursos e ter 53 milhões para gastar ao céu e a terra, mas foi assim que ele definiu.”
E eu acho que ele se lança pedindo pressão dos prefeitos, p
orque ele também viu que o presidente Lula vai entrar na eleição municipal, disse Maria Cristina.
Para Maria Cristina, entretanto, o discurso de Lira revelou três fatores a mais de estresse,
nas suas palavras: as eleições municipais; a disputa pelas Mesas Diretoras da Câmara e do Senado, e também o futuro político de Lira e de Rodrigo Pacheco, atuais presidentes das duas Casas;
as eleições municipais, que são as eleições em que os deputados formam as bases para para recondução dos seus mandatos e o Congresso precisa liberar esses recursos até abril;
o ano da campanha pela renovação das mesas diretores da Câmara e do Senado,
tanto do Pacheco, quanto Lira que querem a garantia de que o governo apoiará seus candidatos;
e finalmente, apesar dele negar, ele nega essa coisa das mesas […], no discurso ele fez isso […] eles dependem dessa eleição das mesas para garantir o seu futuro eleitoral
(Pacheco quer ser governador de Minas e Lira senador), […]
e eles dependem de eleger os seus sucessores na mesa e também do apoio do governo para isso.
Para Maria Cristina, os deputados federais tomaram espaço dos governadores nessa relação institucional. E, agora, os parlamentares não dependem mais dos governadores para executar recursos nas suas bases eleitorais.
Então, os governadores passaram a estreitar muito a relação com o governo federal,
porque não podem mais se valer tanto assim dos deputados federais. […]
Então a eleição também traz, ao governo, um novo espaço aí de atuação que deixa o presidente,
não deixa a Esplanada tão refém assim do Congresso.
Maria Cristina também avalia o tom do discurso de Lira.
Na política, quando a gente sobe o tom é porque a gente talvez não esteja com a força toda que aparenta ter.
Na política, o tom elevado não é sinal de força. […] E eu acho que é um discurso de quem […]
está com menos tinta na caneta do que tinha no ano passado.