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Opinião Traduzindo a política

Métodos ultrapassados de Lula impulsionam impopularidade gerada pelos dramas diários do brasileiro

Estratégia de vazar informações para testar a repercussão ou adiar decisões indefinidamente não funciona mais em um mundo em que tudo acontece muito mais rápido

A histórica impopularidade do governo do presidente Luiz Inácio Lula da Silva, sobretudo em um momento de bastante polarização, não foi construída com um só motivo.

 

Tem a ver com resultados ruins no campo econômico, na gestão da segurança e saúde, mas também com métodos cultivados pelo presidente em seus mandatos anteriores e que, na conjuntura atual, não funcionam mais e ajudam a agravar a desconfiança no Executivo.

É claro que a inflação que assola a vida do trabalhador brasileiro tem papel relevante, como mostrou a pesquisa Genial/Quaest divulgada na quarta-feira.

O índice dos que identificaram subida dos preços em oito Estados pesquisados variou de 92% a 96%.

 

Dado que outra pesquisa, a da CNT, reforçou quando apontou que 68,9% dos brasileiros sentem preços subindo acentuadamente e acima dos índices oficiais.

As más gestões na segurança e na saúde, compartilhadas com outros entes, também.

A mesma pesquisa indica que 31,8% dos eleitores citam a economia como principal problema, 19,9% indicam a segurança e, 12,8%, a saúde.

Na pesquisa Genial/Quaest, a questão da violência lidera as preocupações de eleitores do Rio de Janeiro, São Paulo, Bahia e Pernambuco.

A saúde lidera em Minas, Paraná, Rio Grande do Sul e Goiás.

Diante deste quadro, é raso culpar a comunicação do governo pelo problema.

Mas é razoável entender que os métodos de decisão do próprio presidente, que incluem também a comunicação, contribuem para piorar o quadro ao abrir oportunidades para a oposição.

Lula sempre foi conhecido em seu entorno por produzir balões de ensaio e adiar decisões para que sejam tomadas a seu próprio tempo. É assim com o anúncio de medidas de impacto ou com a troca de ministros.

Isso o diferencia de Dilma Rousseff, por exemplo, que sempre teve horror a vazamentos de suas ideias.

Com Lula isso sempre foi estimulado. Solta-se um nome ou uma ideia aqui, outra dali e a repercussão é usada para confirmá-la ou descartá-la.

Entrega-se uma responsabilidade a um burocrata de segundo ou terceiro escalão para depois condená-la nos escalões superiores quando se percebe que vai pegar mal.

Assim, o que não agradou nunca foi intenção de ministro ou presidente, foi ideia de um voluntarioso qualquer, e o que pareceu funcionar é implementado.

Mas os tempos mudaram. Agora, o vazamento de uma ideia ou proposta faz, por si só, um estrago danado.

A velocidade com que a informação circula e a capacidade de ganhar proporções gigantes no intervalo de algumas horas interdita esse tipo de atuação.

Quando o governo vai desmentir a existência de determinada proposta, ela já se tornou verdade.

E o anúncio de que aquilo não será implementado não é identificado como um desmentido, mas um recuo.

O que mina a credibilidade da gestão. O governo, com seu método analógico, é engolido por um trabalho implacável da oposição – dentro ou fora das regras – e só consegue reagir para minimizar seus impactos.

A paciência de Lula para lidar com decisões importantes também é vista como fraqueza e desnorteamento do governo.

 

Em um momento em que tudo acontece mais rápido e os índices de ansiedade estão nas alturas, ninguém quer esperar meses até que a isenção de imposto de renda seja apresentada, que a PEC da Segurança seja aprovada ou que um ministro que não entrega resultados seja demitido.

Sobretudo pelo fato de que o Brasil pintado na campanha eleitoral era muito mais bonito do que a realidade oferece.

E as próprias intervenções públicas de Lula são enxergadas como mais do mesmo.

A mesma pesquisa CNT indicou que 60,1% consideram seus discursos desatualizados e repetitivos.

Leia-se: ‘já deu o que tinha que dar’.

Também a busca por fazer a contraposição com a oposição, o chamado “nós contra eles”, técnica histórica do PT e de Lula, parece ter esgotado um pouco seu efeito diante do flagrante incômodo da população com a polarização exacerbada. Não é por outro motivo que 35,1% pedem um nome que não seja ligado nem a Lula nem a Bolsonaro em 2026, segundo a pesquisa.

E é exatamente por isso que 13,7% apontam que o presidente exagera na briga com a oposição, enquanto 14,2% o colocam como alguém preocupado apenas com a reeleição. Esses dois índices só são superados pela atribuição “desonesto”, citada por 21,7% na pesquisa, possível herança das investigações da Lava Jato.

Não se pode subestimar a capacidade de recuperação de Lula, vista e revista tantas vezes em sua vida pública. O fato de a oposição estar interditada por um ex-presidente que é tão impopular quanto e que força seus adversários a gastarem capital político defendendo-o de encrencas pessoais ajuda. A força da máquina e o tamanho do orçamento à disposição para bondades inconsequentes daqui até a eleição também.

Mas um Congresso hostil – e vai se tornar ainda mais com a popularidade do presidente derretendo – e o isolamento do presidente em uma bolha que não permite que chegue até ele essa compreensão de que o mundo mudou tendem a tornar o caminho muito mais árido.

Parece cada vez mais próxima a constatação de que se cristalizou a imagem de que há no País um governo sem ideias para resolver os dramas diários do brasileiro e sem capacidade de dialogar.

E isso é fatal para qualquer força política.

Opinião por Ricardo Corrêa
Coordenador de política em São Paulo no Estadão e comentarista na rádio Eldorado. Escreve às quintas

 

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  • Gildo Ribeiro

    Gildo Ribeiro é editor do Grupo 7 de Comunicação, liderado pelo Portal 7 Minutos, uma plataforma de notícias online.

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