"alguma coisa muito grande"
Donald Trump confirma morte de líder do Estado Islâmico
Presidente americano diz que Baghdadi se matou ao detonar um colete de explosivos durante uma operação de forças especiais americanas; mais cedo, pelo Twitter, Trump já havia dito que 'algo muito grande acaba de acontecer'
Ibrahim Awwad Ibrahim Ali al-Badri al-Samarrai
Conhecido anteriormente como Dr. Ibrahim e Abu Dua, comumente conhecido pelo nome de guerra Abu Bakr al-Baghdadi, e que tenta se afirmar como um descendente … Wikipédia
WASHINGTON – O presidente dos Estados Unidos, Donald Trump, afirmou em um raro pronunciamento na TV na manhã deste domingo, 27, que o líder do grupo jihadista Estado Islâmico, Abu Bakr al-Baghdadi , morreu durante uma operação militar americana na região nordeste da Síria neste fim de semana. Trump descreveu a operação “como um filme”.
O presidente reivindicou a morte do líder terrorista ao mesmo tempo em que os EUA retiram suas tropas dessa mesma região na Síria, onde davam apoio às forças curdas que vinham combatendo o Estado Islâmico.
“Na noite passada, os EUA levaram o terrorista número um do mundo à Justiça”, disse Trump no pronunciamento feito da Casa Branca. “Abu Bakr al-Baghdadi está morto.”
A informação já havia sido divulgada pelos canais CNN e ABC, citando altos funcionários do governo como fontes. No Twitter, na madrugada, Trump anunciou, sem dar mais detalhes, que “alguma coisa muito grande” havia acabado de acontecer. Pela manhã, ele agradeceu à Rússia, Turquia, Síria e Iraque por seu apoio na operação.
ALGO MUITO GRANDE ACABOU DE ACONTECER
Something very big has just happened!
— Donald J. Trump (@realDonaldTrump) October 27, 2019
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A morte de Al-Baghdadi é um marco na luta contra o Estado Islâmico, que brutalizou regiões da Síria e do Iraque e tentou conduzir uma campanha global terrorista de seu autoproclamado “califado”. Nos últimos anos, uma campanha envolvendo americanos, russos e forças aliadas levou à recuperação de territórios que estavam sob o poder do grupo, mas sua ideologia violenta continuou a inspirar ataques pelo mundo.
A operação marca também um sucesso significativo em política externa para o presidente, que enfrenta os menores índices de aprovação ao seu governo e um procedimento de impeachment no Congresso. Trump também foi muito criticado, incluindo por republicanos, por tirar as tropas americanas no nordeste da Síria, onde combatiam o EI ao lado das forças curdas. A medida permitiu uma incursão da Turquia contra as forças curdas.
Trump disse ontem que sua decisão de retirar tropas não teve nada a ver com a operação.
Mais tarde, ao falar com jornalistas por 45 minutos, Trump explicou que a operação foi planejada por duas semanas após os EUA conseguirem obter dados de inteligência sobre a localização de Al-Baghadi. Helicópteros militares voaram sobre territórios controlados por forças russas – com autorização prévia de Moscou – e sírias e pousaram no local, onde foram recebidos com muitos tiros.
A Casa Branca divulgou uma foto de Trump cercado por altos funcionários de segurança e defesa, além do vice, Mike Pence, na Sala de Crise, monitorando a operação contra Al-Baghadi, muito semelhante à imagem do ex- presidente Barack Obama assistindo à operação que resultou na morte do líder da Al-Qaeda, Osama bin Laden, em 2011. De acordo com o New York Times, Trump chegou a sugerir que matar Al-Baghdade foi maior do que matar Bin Laden.
Link original desta matéria:
https://internacional.estadao.com.br/noticias/geral,donald-trump-confirma-morte-de-lider-do-estado-islamico,70003065389
Atualização BBC
Quem é Abu Bakr al-Baghdadi, líder do Estado Islâmico que reapareceu em vídeo após 5 anos
Um homem que se acredita ser o líder do grupo Estado Islâmico fez uma rara aparição em vídeo. Na gravação, o homem promete vingar-se da perda de territórios antes controlados pelo grupo.
Abu Bakr al-Baghdadi não é visto desde 2014, quando apareceu numa gravação feita em Mossul, no Iraque, proclamando a criação de um “califado” em parte dos territórios atuais do Iraque e da Síria.
A declaração foi o estopim para uma onda de terror e violência nos dois países e fora deles, com atentados de autoria reivindicada pelo grupo na Europa, na Ásia e na América do Norte.
Herdeiros de milhões e boa educação: o surpreendente perfil dos autores do massacre no Sri Lanka Jovem que fugiu para se juntar ao EI e agora quer ‘voltar para casa’ perde cidadania britânica.
O nome verdadeiro de al-Baghdadi é Ibrahim Awwad Ibrahim al-Badri. Ele nasceu em 1971 na cidade de Samarra, no Iraque, em uma família sunita de classe média baixa. Quando jovem, Baghdadi adorava recitar trechos do Alcorão, e observava as regras do islamismo de forma rigorosa.
Na nova filmagem, ele reconhece a derrota do grupo em Baghouz, considerada o último bastião do grupo na região. Não está claro ainda quando o vídeo foi gravado. O Estado Islâmico alega que foi filmado neste mês.
O vídeo foi postado pela agência de notícias al-Furqan, controlada pelo Estado Islâmico.
O que Baghdadi diz?
De acordo com informações da agência de notícias Reuters, Baghdadi alega que os atentados em igrejas católicas do domingo de Páscoa (21 de abril), no Sri Lanka, foram uma retaliação à retomada da cidade de Baghouz.
Ele também diz que militantes em Burkina Faso e no Mali juraram lealdade ao Estado Islâmico, e fala sobre os protestos no Sudão e na Argélia – diz que a “jihad” (guerra santa) islâmica é a única solução contra “tiranos”. Ambos os países viram seus antigos governantes depostos este mês.
Apesar disso, a imagem de Baghdadi desaparece no fim da gravação, e o registro segue em frente com uma gravação em áudio dele discutindo o ataque no Sri Lanka – o que sugere que esta parte foi gravada depois da parte principal da filmagem.
A última aparição em áudio de Baghdadi foi em agosto de 2018. Na época, ele parecia estar tentando desviar a atenção de derrotas relevantes sofridas por seu grupo, de acordo com o correspondente da BBC no Oriente Médio, Martin Patience.
Agora, neste vídeo de 18 minutos, ele encara de frente as derrotas.
“A batalha por Baghouz terminou”, diz ele, acrescentando: “Haverá mais depois desta batalha”. Ele também teria
dito que o Estado Islâmico está lutando uma “guerra de exaustão” contra seus inimigos.
O que aconteceu com o ‘califado’?
No auge de seu poder, o Estado Islâmico chegou a controlar quase 88 mil quilômetros quadrados, ao longo da fronteira entre o Iraque e a Síria.
Mas, em 2016, o grupo já estava em retirada. No ano seguinte, perdeu o controle de Mossul, no Iraque – justamente a cidade na qual Baghdadi e seus seguidores declararam a fundação do califado.
Em outubro de 2017, o grupo perdeu o controle de Raqqa, sua “capital” na Síria.
O autoproclamado Estado Islâmico continuou perdendo território ao longo de 2018, culminando com a retirada para Baghouz.
E, em março deste ano, as Forças Democráticas Sírias (FDS), de origem curda, anunciaram a tomada de controle de Baghouz, dando fim ao “califado”, que perdurou por cinco anos.
Como Abu Bakr al-Baghdadi se radicalizou?
Vindo de uma família sunita iraquiana, ele já manifestava interesse pela religião islâmica desde criança.
Quando jovem, sua família o apelidou de “o crente” – ele costumava repreender seus familiares quando estes deixavam de cumprir qualquer preceito islâmico.
Baghdadi teve uma vida acadêmica voltada para os estudos religiosos. Em 1996, concluiu uma graduação em Estudos Islâmicos pela Universidade de Bagdá. Pouco depois, em 1999, concluiu o mestrado em estudos do Alcorão na Universidade Saddam de Estudos Islâmicos do Iraque. E, em 2007, tornou-se doutor no assunto pela mesma instituição.
Até 2004, ele morou em um bairro de Bagdá, Tobchi, com suas duas mulheres e seis filhos. Ele costumava ensinar as crianças do bairro a recitarem o Alcorão em uma mesquita local, e também jogava no time de futebol da mesquita.
Enquanto cursava a graduação, seu tio o convenceu a juntar-se à Irmandade Muçulmana – um grupo político-religioso.
No fim dos anos 2000, al-Baghdadi adotou a doutrina jihadista salafista – e se envolveu com a Al-Qaeda no Iraque (AQI), que mais tarde daria origem ao Estado Islâmico. Desde sua aparição pública em 2014, ele vinha mantendo silêncio na maior parte do tempo. Este silêncio só havia sido rompido por relatos não confirmados de sua morte ou por gravações de áudio sem autoria confirmada.
De ativista a insurgente
Meses depois da invasão do Iraque pelos Estados Unidos, em 2003, al-Baghdadi ajudou a fundar um grupo insurgente chamado Jaysh Ahl al-Sunah wa al-Jamaah (Exército Popular da Sunnah e Solidariedade Comunal).
Em fevereiro de 2004, o Exército dos EUA prendeu Baghdadi na cidade de Falluja e o enviou para a detenção em Camp Bucca, onde ele permaneceu por 10 meses.
Enquanto esteve preso, dedicou-se a atividades religiosas – comandando orações, fazendo as pregações da sexta-feira e dando aulas aos prisioneiros.
Segundo um ex-colega de prisão, Baghdadi era uma pessoa taciturna. Mesmo assim, tinha o dom de se mover entre as facções rivais de Camp Bucca, onde ex-defensores de Saddam Hussein (1937-2006) conviviam com jihadistas islâmicos.
Baghdadi se aproximou de vários deles e manteve contato depois de liberto, o que aconteceu em dezembro de 2004.
Solto, Baghdadi foi procurado por um porta-voz da Al-Qaeda no Iraque (AQI), uma afiliada local da Al-Qaeda dirigida pelo jordaniano Abu Musab al-Zarqawi.
Impressionado com a erudição religiosa de Baghdadi, o porta-voz o convenceu a viajar a Damasco, onde trabalharia para garantir que a propaganda da AQI aderisse aos princípios islâmicos ultraconservadores.
Zarqawi foi morto em junho de 2006 por um ataque aéreo dos EUA e foi sucedido por um egípcio, Abu Ayyub al- Masri.
Naquele mês de outubro, Masri dissolveu a AQI e fundou o Estado Islâmico no Iraque (ISI). O novo grupo continuou a jurar lealdade à Al-Qaeda.
Um novo emir
Por causa das credenciais religiosas de Baghdadi e de sua capacidade de aproximar os estrangeiros que fundaram o ISI e os iraquianos que mais tarde se juntaram ao grupo, Baghdadi acabou subindo na hierarquia do grupo.
Ele foi nomeado supervisor do Comitê da Sharia (a lei islâmica) e depois foi nomeado para o Conselho Shura – uma cúpula de 11 membros que assessorava o emir do ISI, Abu Omar al-Baghdadi.
Baghdadi foi depois nomeado para o Comitê de Coordenação do ISI, que supervisionava a comunicação com os comandantes do grupo no Iraque.
Após as mortes do fundador do ISI e de seu antigo emir, em abril de 2010, o Conselho Shura escolheu Abu Bakr al-Baghdadi como o novo emir da organização.
Baghdadi começou a reconstruir o ISI, que foi dizimado pelas forças de operações especiais dos EUA.
Na esperança de capitalizar a crescente agitação na Síria em 2011, na esteira da chamada Primavera Árabe, Baghdadi ordenou que um de seus agentes sírios estabelecesse um ramo secreto do ISI no país, mais tarde conhecido como Frente al-Nusra.
O surgimento do Daesh
Baghdadi logo se desentendeu com o líder da Al-Nusra, Abu Mohammed al-Julani – ele queria colaborar com os rebeldes sunitas que lutavam pela derrubada do presidente sírio Bashar al-Assad.
Ao invés disso, Baghdadi queria estabelecer seu próprio Estado por meio da força bruta, antes de se confrontar com Assad.
No começo de 2013, Baghdadi anunciou que a Al-Nusra fazia parte do ISI, que ele rebatizou de “Estado Islâmico do Iraque e al-Sham / Levante” (o grupo também é conhecido pelas siglas ISIS, ISIL ou Daesh).
Quando o líder da Al-Qaeda, Ayman al-Zawahiri, ordenou a Baghdadi que reconhecesse a independência da Al- Nusra, Baghdadi recusou-se. Em fevereiro de 2014, Zawahiri expulsou o Estado Islâmico da Al-Qaeda.
O grupo respondeu lutando contra a Al-Nusra e consolidando sua posição no leste da Síria, onde Baghdadi impôs severas leis religiosas.
Com sua fortaleza segura, Baghdadi ordenou que seus homens avançassem para o oeste do Iraque.
O califa
Em junho de 2014, o Estado Islâmico capturou a segunda maior cidade do Iraque, Mossul. Logo depois, o porta- voz do grupo proclamou o retorno do califado.
Dias depois, durante uma pregação de sexta-feira em Mossul, Baghdadi declarou-se califa.
Desde então, relatos de sua morte foram diversas vezes ventilados na imprensa. Mas nunca foram confirmados.
Este texto foi elaborado em partes com informações de William McCants, autor do livro The ISIS Apocalypse: The History, Strategy, and Doomsday Vision of the Islamic State. (O apocalipse do ISIS: a história, a estratégia e a visão do Estado Islâmico sobre o fim dos tempos, em tradução livre). McCants dirige o projeto de Relações dos Estados Unidos com o mundo islâmico da Brookings Institution, e é professor da Universidade Johns Hopkins.
Link original desta atualização:
https://www.bbc.com/portuguese/internacional-48100590
A Casa Branca divulgou uma imagem que seria do presidente Trump, do vice, Mike Pence, e membros do governo acompanhando a operação que teria resultado na morte de Baghdadi Foto: Shealah Craighead/White House via AP[/caption]
Abu Bakr al-Baghdadi, líder do grupo jihadista Estado Islâmico, já foi dado como morto diversas vezes Foto: AP[/caption]
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O fotógrafo captou a apreensão dos líderes americanos na Casa Branca durante a operação para capturar Osama bin Laden, no Paquistão Foto: Pete Souza/Casa Branca[/caption]
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Abu Bakr al-Baghdadi, líder do grupo jihadista Estado Islâmico, já foi dado como morto diversas vezes Foto: AP[/caption]
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A última aparição pública de al-Baghdadi foi em Mossul, em 2014 REUTERS[/caption]



