J.R. Guzzo comenta: Judiciário
Não há mais dúvida: STF deixou de funcionar como uma corte de Justiça
O STF, mais os políticos de esquerda e os jornalistas que hoje servem como juízes auxiliares dos ministros, estão com um problema sem solução.

De demência em demência em suas decisões, nosso tribunal supremo de Justiça conseguiu condenar a 14 anos de prisão uma jovem cabeleireira, mãe de duas crianças, por ter pichado com batom uma estátua da deusa Têmis em Brasília, no quebra-quebra do dia 8 de janeiro de 2023.
Fez uma porção de coisas com o mesmo padrão de insanidade, mas esta acabou crescendo como a mais grotesca de todas – pela presença do batom, claro, e pela pura e simples estupidez que é condenar uma cabeleireira por golpe de Estado, algo que ela manifestamente jamais poderia fazer.
Mas o pior veio agora. O STF e seu sistema de apoio, numa manifestação de fanatismo explícito, se condenaram à obrigação de sustentar que a sentença é tão justa quanto um despacho do Rei Salomão.
Alegar que a cabeleireira tentou derrubar o governo Lula, com as suas três forças armadas, suas polícias e o seu apoio entre os políticos, as elites e o poder econômico, é uma cretinice em estado bruto.
Tudo o que conseguem provar é que o STF, definitivamente, deixou de funcionar como uma corte de Justiça
Trata-se de uma tarefa sem nenhuma esperança, porque é histérica, fútil e não pode ser executada dentro da lógica.
Tudo o que o STF consegue, em sua insistência em dizer que está tomando uma decisão perfeita do ponto de vista legal, é chamar mais atenção para o tamanho da barbaridade moral, política e jurídica que comete neste caso.
É, mais uma vez, a história do sujeito que quer urinar na piscina – mas que em vez de se aliviar dentro d’água, discretamente, sobe no trampolim para exibir ao público o seu comportamento velhaco.
No caso, o grande argumento de Alexandre Moraes e seus jornalistas é sustentar que a moça não está sendo condenada pelo batom, o que até eles percebem que é um absurdo extremo, mas porque quis dar um golpe de Estado em associação armada – o que é mais absurdo ainda.
Seria melhor, talvez, deixar a história só na pichação da estátua – pois pelo menos isso é algo que de fato ocorreu.
Mas alegar, como estão fazendo, que a cabeleireira tentou derrubar o governo Lula, com as suas três forças armadas, suas polícias e o seu apoio entre os políticos, as elites e o poder econômico, é uma cretinice em estado bruto.
Tudo o que conseguem provar, com sua desesperada obsessão em punir a moça do batom, é que o STF, definitivamente, deixou de funcionar como uma corte de Justiça.
É hoje um serviço de polícia política que se dedica a encarcerar, multar e torturar, segundo a própria definição de tortura dada pelo ministro Gilmar Mendes, os adversários do regime – sobretudo proletários sem influência, sem dinheiro e sem amigos para se defender, como a cabeleireira.
Essa missão de justificar o que jamais poderá ser justificado apenas conduz o STF e seus parceiros à repetição em série de sua conduta irracional.
O ministro Gilmar, por exemplo, que deu a si próprio o papel de advogado-chefe de Moraes, chegou a dizer, ainda outro dia, que jamais vai admitir a anistia porque isso seria um estímulo à “impunidade”.
É mesmo?
E a absolvição sistemática dos corruptos pelo ministro Toffoli e outros mais, inclusive com a anulação de confissões por escrito de culpa, não seria impunidade?
Como concordar com o ministro Gilmar quando ele diz que a Lava Jato, o maior esforço para se combater a corrupção jamais feito na história do Brasil, foi uma “ação criminosa”?
Ou quando sustenta que o juiz Sergio Moro era “suspeito” e que o ministro Moraes é um exemplo de imparcialidade?
O sistema de Justiça do Brasil foi para o saco, por culpa direta do STF e de quem lhe presta vassalagem.
Sustentam que dar anistia aos réus do 8 de janeiro seria a mesma coisa que perdoar um bando de indivíduos que entrasse em sua casa para depredar a mobília etc. etc. etc.
Mas acham que é perfeito anistiar os assassinos, assaltantes de banco, sequestradores e outros autores de crimes hediondos cometidos durante a ditadura militar.
É a esse ponto a que chegou a degeneração do Poder Judiciário no Brasil do STF.
Por J.R. Guzzo
J.R.Guzzo é jornalista. Começou sua carreira como repórter em 1961, na Última Hora de São Paulo, passou cinco anos depois para o Jornal da Tarde e foi um dos integrantes da equipe fundadora da revista Veja, em 1968.
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Jornalista escreve semanalmente sobre o cenário político e econômico do País (Felipe Cotim/VEJA.com)