Vai se tornar o beijo do afogado
Os “prefeitos icebergs” que afundarão projetos para 2027-2030
Enquanto pré-candidatos a governadores desenham seus mapas para 2026, com alianças, marketing e discursos, um perigo mortal se avoluma não no horizonte, mas dentro de seus próprios portos.
Ignoram, os “prefeitos icebergs” que eles mesmos ajudaram a atracar: prefeitos aliados, cujas gestões desastrosas são o prenúncio de um naufrágio eleitoral inevitável.
O abraço desses aliados poderá se tornar o beijo do afogado.
A política, em sua essência, é a arte de perceber as correntes subterrâneas da sociedade.
Por décadas, a maré era ditada por máquinas partidárias e caciques regionais, capazes de transferir votos como quem move peças em um tabuleiro.
Esse tempo acabou. O eleitor de hoje, armado com a informação na palma da mão e a indignação na ponta da língua, julga um projeto de poder não pelo que ele promete para o futuro, mas pelo que ele entrega no presente.
E a face mais visível do poder no cotidiano não é a do governador, mas a do prefeito.
É o buraco na rua, a demora no posto de saúde, a escuridão de uma via mal iluminada e, acima de tudo, a sensação de ser ludibriado por quem deveria servir.
Cada falha administrativa municipal não é mais um problema local; é uma rachadura no casco do navio principal.
Os estrategistas que ainda acreditam que um palanque forte e um padrinho poderoso são suficientes para blindar um candidato estão lendo um mapa náutico antigo, ignorando a nova topografia do poder, onde a insatisfação popular é um recife traiçoeiro.
Observemos o que ocorre em uma certa capital no coração do Brasil.
Ali, um gestor com índices de aprovação que fariam qualquer analista político soar o alarme, decide, em uma manobra de bastidores, onerar ainda mais a população.
Sob o pretexto de modernizar a segurança com videomonitoramento, aprova a inclusão de mais essa conta em uma taxa já existente, a da iluminação pública.
O cidadão, que já arca com o custo de uma das energias mais caras do país, agora pagará mais para um serviço que deveria ser custeado com os impostos gerais.
Os números revelam a profundidade da crise.
Segundo o Ranking dos Prefeitos das Capitais Brasileiras 2025, divulgado pela Atlas/Intel em dezembro, apenas 38% dos goianienses aprovam a gestão municipal, enquanto 47% desaprovam.
Mais grave ainda: quando perguntados sobre a qualidade geral do governo, apenas 19% classificam a administração como ótima ou boa, ao passo que 26% a avaliam como ruim ou péssima.
A maioria absoluta, 53%, considera a gestão meramente regular.
Essa é a assinatura de uma administração que falha em sua missão fundamental: servir com competência e dignidade.
No ranking nacional, esse prefeito ocupa a 22ª posição entre as 26 capitais brasileiras em aprovação, mantendo a mesma posição que ocupava em 2024.
Não é uma queda recente; é uma estagnação em um patamar baixo.
Acima dele, apenas quatro prefeitos têm avaliações ainda piores:
- Adriane Lopes em Campo Grande, com 14% de aprovação;
- David .Almeida em Manaus, com 23%;
- Álvaro Damião em Belo Horizonte, com 28%; e
- Sebastião Melo em Porto Alegre, empatado com ele em 38%
- Esse é o clube dos fracassados.
A forma como a medida foi imposta revela o desprezo pela inteligência do eleitor.
Em sessão extraordinária realizada em 29 de dezembro, a Câmara Municipal aprovou em votação final o Projeto de Lei 44/2025, de autoria do Executivo, que altera a Lei Complementar 344/2021 relativa ao Código Tributário do Município.
A proposta amplia a utilização dos recursos da Contribuição para o Custeio da Iluminação Pública (COSIP), permitindo agora que a contribuição seja utilizada também para implantação e manutenção de câmeras de segurança, centrais de vigilância e equipamentos tecnológicos de prevenção e resposta a ocorrências.
O debate foi intenso.
Vereadores da oposição e até mesmo da base questionaram a medida.
Kátia, do PT, Aava Santiago, do PSDB, Fabrício Rosa, do PT, Coronel Urzêda, do PL, Lucas Vergílio, do MDB, Major Vitor Hugo, do PL, e Sanches da Federal, do PP, fizeram uso da tribuna e se posicionaram contrários à matéria.
Major Vitor Hugo chegou a apresentar uma emenda para evitar que houvesse aumento da tarifa, mas ela foi rejeitada pela base governista.
A rejeição dessa emenda é o retrato perfeito de uma maioria que não quer ouvir. Não quer diálogo. Quer apenas impor.
A base governista, por sua vez, afirmou que o valor da contribuição continuará sendo feito por meio de rateio e que não haverá aumento para o contribuinte.
Mas essa é uma promessa vazia.
A COSIP funciona por rateio do custo total do serviço.
Se há uma nova despesa, há um novo custo.
Se há um novo custo, há um novo rateio.
Matemática simples.
Lógica elementar.
A população não é tão ingênua quanto parecem imaginar.
Parabéns aos eleitores.
Vocês não elegeram apenas um prefeito, elegeram a conta.
Agora ela chega todo mês, religiosamente, na fatura.
Democracia funciona assim mesmo: o voto é secreto, mas a cobrança é pública e coletiva.
O prefeito só está cumprindo o que sempre foi.
Quem prometeu “gestão”, “eficiência” e “modernidade” agora entrega taxa.
Quem vendeu discurso empresarial governa como síndico de condomínio de luxo, onde o morador paga tudo e ainda agradece pela câmera no poste.
Não adianta fingir surpresa.
Isso não caiu do céu, não é acidente, não é desvio de rota.
É projeto.
O aumento da COSIP não nasce na Câmara, nasce na urna.
O resto é consequência administrativa de uma escolha política mal feita.
E antes que alguém diga que é por segurança, vale lembrar: segurança pública é dever do Estado, não um produto parcelado em algum tributo municipal.
Mas para quem confundiu prefeito com CEO e cidade com planilha, faz todo sentido transformar direito em tarifa.
Portanto, menos indignação seletiva e mais responsabilidade eleitoral.
O prefeito é ruim, sim.
Mas ele não brotou do nada.
Ele foi escolhido.
E quem escolhe mal governa a própria frustração por quatro anos, pagando juros, correção monetária e agora, pelo visto, videomonitoramento.
Cada cidadão que olhar para suas contas e ver os valores aumentando se lembrará não apenas do prefeito, mas de todo o grupo político que o sustenta na Câmara Municipal.
O candidato a governador precisa tomar cuidado com o capital político desse prefeito.
Analisar se estaria herdando um ativo ou herdando um passivo ruim.
Cada promessa não cumprida, cada taxa aumentada, cada serviço que falha, cada esperança frustrada, tudo isso será transferido para a campanha estadual.
O eleitor, mais consciente e menos tolerante, não hesitará em usar seu voto como um torpedo contra toda a frota, afundando não apenas o “prefeito-âncora”, mas também o transatlântico que ele pretendia levar a reboque.
A resposta, dura e implacável, virá nas urnas.
Este é um artigo de opinião, de responsabilidade do autor, e não reflete a opinião do 7Minutos
Por: Luiz Cláudio Cavalcante
É jornalista, escritor e servidor público. Atua há mais de uma década na comunicação institucional e produção de conteúdo jornalístico com foco em política, direitos sociais e serviço público.
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