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Brasil responderá “carta agressiva” da UE em até 3 semanas, diz Lula
Presidente voltou a criticar exigências dos europeus sobre questões ambientais e declarou que parceiros discutem com propostas, não com “ameaças”

O presidente Luiz Inácio Lula da Silva (PT) disse na manhã desta 4ª feira (19.jul.2023) que o Brasil responderá à carta adicional da União Europeia no acordo com o Mercosul “em até 3 semanas” e que os europeus devem aceitar “tranquilamente” a contraproposta.
O petista voltou a criticar o documento europeu, definindo-o como uma “carta agressiva” e frisando que uma negociação não pode ter “ameaças” entre parceiros históricos.
Lula falou com jornalistas em Bruxelas, na Bélgica, onde participou da 3ª Cúpula Celac (Comunidade de Estados Latino-Americanos e Caribenhos)–União Europeia, que reuniu 33 países latinos americanos e 27 europeus.
A Europa tinha feito uma carta agressiva. Ameaçava com punição se a gente não cumprisse os requisitos ambientais.
Parceiros não discutem com ameaças, discutem propostas, disse.
Segundo o presidente,
a resposta brasileira está sendo discutida
e será entregue daqui a 2, 3 semanas à União Europeia.
O problema da dificuldade [em fechar o acordo] não é só por conta da América Latina,
falou Lula, enfatizando que Paris quer proteger os seus produtos, mas,
da mesma forma que a França tem essa primazia de defender com unhas e dentes o seu patrimônio produtivo, nós temos interesse de defender o nosso.
A riqueza da negociação é que alguém tem que ceder. Um quer 100%, só vai ficar com 90%.
O outro quer 90%, pode chegar a 95%. É isso que significa negociação, completou.
Em outro momento da entrevista, Lula disse que a carta adicional europeia foi uma tentativa de fazer pressão para que o Brasil cedesse nas negociações, o que, de acordo com ele, não vai acontecer.
Nós não aceitamos a carta adicional da União Europeia. É impossível imaginar que, entre parceiros históricos como nós, alguém faça uma carta com ameaça.
Achamos que a União Europeia vai concordar tranquilamente com a nossa resposta.
Eu acho que a carta adicional da União Europeia foi possivelmente alguém achando que, fazendo pressão, a gente iria ceder. Não, a gente não vai ceder,
disse. Lula também destacou que o Mercosul, especialmente Brasil e Argentina, não desistirão do capítulo sobre compras governamentais.
O presidente rejeita a ideia de ampla abertura do mercado de compras públicas aos europeus. Disse que o mecanismo é importante para a reindustrialização dos países da região.
Fazemos a exigência de reindustrialização para que a gente possa ser exportador de manufaturados, coisas com mais valor agregado, gerar empregos mais qualificados.
É por isso que não abrimos mão das compras governamentais.
As compras governamentais são um instrumento de desenvolvimento interno.
Os Estados Unidos fazem isso, a Europa faz isso, a Alemanha faz isso e o Brasil tem o direito de fazer isso.
É assim que a gente consegue incentivar o pequeno e médio empresário a sobreviver e a crescer,
disse.
O presidente frisou que, pela 1ª vez, está “otimista” com a possibilidade concreta de o acordo entre os 2 blocos econômicos ser concluído até o fim deste ano.
A União Europeia e o Mercosul, bloco formado por Argentina, Brasil, Paraguai e Uruguai, concluíram as negociações em torno do acordo, que já dura mais de 20 anos, em 2019. Ele foi, no entanto, suspenso por preocupações dos europeus com o aumento do desmatamento na Amazônia e outras exigências em relação às mudanças climáticas.
O petista destacou que a reunião da Celac com a UE, realizada na 2ª e na 3ª feira (17 e 18.jul), em Bruxelas, mostrou que o bloco europeu está interessado “de verdade” em investir na América Latina.
Pela 1ª vez, senti a União Europeia interessada em voltar de verdade para a América Latina.
Primeiro, pela questão do clima. Segundo, pela questão energética.
A parte do mundo que pode produzir o hidrogênio verde que a Europa precisa é a nossa América Latina.
Temos que aproveitar,
disse o presidente, afirmando estar
feliz, com o resultado do encontro.
Depois da entrevista, o chefe do Executivo brasileiro segue para Cabo Verde, onde tem uma reunião marcada com o presidente José Maria Neves.
Na sequência, embarca para Brasília.
A chegada ao país está prevista para esta 4ª feira (19.jul) às 18h30.