A preocupação politica
Nelson Teich pede demissão; general assume Ministério da Saúde
Médico, que entrou em choque Jair Bolsonaro, ficou menos de um mês na pasta
BRASÍLIA – Menos de um mês após assumir o cargo, o ministro da Saúde, Nelson Teich, pediu demissão nesta sexta-feira após entrar em choque com o presidente Jair Bolsonaro. A informação foi confirmada em nota pela pasta.
O secretário executivo, general Eduardo Pazuello, assume interinamente. Ele será o terceiro a ocupar o posto durante a crise causada pela pandemia do novo coronavírus no País
“O ministro da Saúde, Nelson Teich, pediu exoneração nesta manhã. Uma coletiva de imprensa será marcada nesta tarde”, informou o ministério, em nota. A entrevista será às 15h30. No comunicado, a pasta diz que o “uso de máscara é obrigatório”.
Segundo o Estadão apurou, a auxiliares, o ministro alegou questões técnicas para deixar o cargo.
O ministro se reuniu com o presidente pela manhã. Ele vem travando uma queda de braço com Bolsonaro sobre a recomendação do uso de cloroquina em pacientes de covid-19.
Desde que assumiu o cargo, Teich não conseguiu montar sua própria equipe e vinha sendo tutelado pela ala militar do governo, como revelou o Estadão.
Na última semana, ao menos dez nomes ligados às Forças Armadas assumiram postos estratégicos na pasta.
O Estadão também revelou que o ministro vinha sofrendo resistência por parte de secretários estaduais e municipais. Na segunda-feira, os conselhos de saúde que representam os governos locais rejeitaram a nova diretriz do Ministério da Saúde sobre distanciamento social, principal promessa de Nelson Teich ao assumir a pasta para rever a estratégia de combate a covid-19.
Teich, que é médico oncologista, participou como consultor da área de saúde da campanha de Bolsonaro e foi indicado ao cargo por associações médicas e pelo secretário de Comunicação, Fábio Wajngarten.
Na ocasião, o Palácio do Planalto procurava um nome para substituir o então ministro Luiz Henrique Mandetta, com quem Bolsonaro também divergia sobre a melhor estratégia no enfrentamento da pandemia.
Oremos. Força SUS. Ciência. Paciência. Fé! #FicaEmCasa
— Henrique Mandetta (@mandetta) May 15, 2020
O ex-ministro reagiu, pelas redes sociais, à saída do sucessor: “Oremos. Força SUS. Ciência. Paciência. Fé!”.
Outro ex-ministro de Bolsonaro também foi às redes sociais. O ex-juiz Sérgio Moro, que saiu do governo acusando o presidente de tentar interferir na Polícia Federal, falou em “cenário difícil, em plena pandemia”.
Cenário difícil, em plena pandemia, 13993 mortes até ontem. Números crescentes a cada dia. Cuide-se e cuide dos outros.
— Sergio Moro (@SF_Moro) May 15, 2020
Com a saída de Teich, sobe para nove o número de ministros demitidos por Bolsonaro desde o início do seu governo – cinco deles após divergências com o presidente.
Após a demissão, a médica Nise Yamaguchi, defensora da utilização da cloroquina em pacientes contaminados pelo coronavírus, foi chamada para uma reunião no Palácio do Planalto. Ela é defendida por apoiadores do presidente nas redes sociais.
https://twitter.com/PATRlOTAS/status/1261355903569334274
Outro nome cotado para o cargo é o do deputado Osmar Terra (MDB-RS), ex-ministro da Cidadania, que tem dado declarações contra medidas de isolamento social e a favor da cloroquina, alinhado com o que diz o presidente.
Cloroquina
A saída se dá após pressão de Bolsonaro para que Teich alterasse protocolos do Ministério da Saúde envolvendo o uso de cloroquina em pacientes da covid-19. Atualmente, a recomendação da pasta é a utilização apenas em casos graves e de internação.
Bolsonaro, porém, tem defendido a prescrição ampla da substância, cuja eficácia contra a doença não tem comprovação científica.
Pela manhã, ao deixar o Palácio da Alvorada, Bolsonaro chegou a afirmar que a pasta mudaria ainda hoje o protocolo de uso da cloroquina adotado no sistema de saúde. O chefe do Executivo argumenta que “é direito do paciente” decidir sobre o seu tratamento.
“O protocolo deve ser mudado hoje porque o Conselho Federal de Medicina diz que pode usar desde o começo”, afirmou. “O médico na ponta da linha é escravo do protocolo. Se ele usa algo diferente do que está ali e o paciente tem alguma complicação, ele pode ser processado”, afirmou o presidente.
https://twitter.com/conexaopolitica/status/1261338938758664195
O Conselho Federal de Medicina publicou nota técnica permitindo a prescrição do medicamento mesmo em casos leves da doença, com as ressalvas dos riscos.
https://twitter.com/taoquei1/status/1261353455840460801
Em mensagem no Twitter na terça-feira, Teich foi cauteloso ao falar sobre a droga.
“Um alerta importante: a cloroquina é um medicamento com efeitos colaterais. Então, qualquer prescrição deve ser feita com base em avaliação médica. O paciente deve entender os riscos e assinar o “Termo de Consentimento” antes de iniciar o uso da cloroquina”, escreveu Teich no Twitter.
Ricardo Barros, ex-Ministro da saúde, falou na CNN que usou o protocolo de Cloroquina e foi curado. Uip, ex-coordenador do combate ao COVID-19 em SP usou e receita pros clientes do particular, Dr. Kalil do Sírio tb usou e está salvo. Só quem não pode usar a cloroquina é o pobre.
— Gil Diniz 2️⃣2️⃣ (@carteiroreaca) May 15, 2020
As divergências envolvendo o uso da cloroquina também foi um dos motivos que levaram à saída de Mandetta, há um mês.
Procurador quer uso da cloroquina em toda a rede de saúdehttps://t.co/PH8D9ke2b6 pic.twitter.com/fWmITg65BT
— Brazil Urgente (@BrazilUrgente) May 15, 2020
Monitoramento das redes sociais feitos pela consultoria AP/Exata, que faz análises do comportamento de internautas, já apontava, pela manhã, possível desgaste à imagem do presidente com a saída de Teich do Ministério da Saúde. Internautas demonstravam rejeitar mais uma troca de ministro e questionam a capacidade de Bolsonaro em definir o protocolo para o uso da cloroquina.
Sem respaldo científico, cloroquina também é defendida por Maduro na Venezuela https://t.co/LAkbF1DtMR
— Folha de S.Paulo (@folha) May 15, 2020
Panelaços
Após a divulgação da demissão de Teich, foram registrados panelaços em bairros de São Paulo, Rio de Janeiro e Brasília.
General Pazuello e ex-ministro Osmar Terra são cotados para Saúde no lugar de Teich | Agora Notícias Brasil – Sua fonte de notícias https://t.co/Xx3bXYzrE7
— Rose D Barros (@rosedbarros) May 15, 2020
Colaborou Marla Sabino
https://twitter.com/taoquei1/status/1261348319361503232
By Luci Ribeiro e Tânia Monteiro, O Estado de S.Paulo
E tome biografia https://t.co/1yOTdWDaRX
— Kim D. Paim (@kimpaim) May 15, 2020
Link original da matéria:
https://politica.estadao.com.br/noticias/geral,nelson-teich-pede-demissao,70003304091
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“Um alerta importante: a cloroquina é um medicamento com efeitos colaterais. Então, qualquer prescrição deve ser feita com base em avaliação médica. O paciente deve entender os riscos e assinar o “Termo de Consentimento” antes de iniciar o uso da cloroquina”, escreveu Teich no Twitter. Foto: Ueslei Marcelino/Reuters (22.abr.2020)[/caption]
