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PT se divide sobre rumos do governo Lula e ala do partido pede guinada à esquerda após pesquisa
Levantamento do Datafolha indicou pior índice do presidente em todos os mandatos no momento em que petistas enfrentam dificudades no Congresso.
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Divergem sobre substituto de Gleisi e não têm ‘plano B’ para a sucessão de Lula em 2026
Divergências sobre os rumos do governo e do PT agravaram o racha no partido nesta segunda metade do mandato de Lula.
A disputa promete ficar mais acirrada após pesquisa Datafolha indicar que a aprovação do presidente Luiz Inácio Lula da Silva despencou.
Além disso, a crise ocorre justamente no momento em que a presidente do PT, Gleisi Hoffmann, está prestes a deixar o comando da sigla para assumir um ministério no Palácio do Planalto.
Setores do PT avaliam que o governo precisa dar uma “guinada à esquerda” para se reaproximar dos eleitores perdidos, que se desencantaram com Lula 3, como os pobres, os moradores do Nordeste e as mulheres.
A ideia é defendida até mesmo por uma ala da tendência Construindo um Novo Brasil (CNB), majoritária no PT, que pretende insistir em mudanças na política econômica levada a cabo pelo ministro da Fazenda, Fernando Haddad.
Nos bastidores, dirigentes dessa corrente política – a mesma de Lula, Gleisi e do próprio Haddad – dizem não ser possível ficar na “pauta do ajuste fiscal” entoada pelo mercado, enquanto a “vida real” vai derrotando o governo.
No fim de 2023, a cúpula do PT chegou a aprovar uma resolução que chamava o arcabouço fiscal de “austericídio”.
Lula já afirmou que, se depender dele, não haverá novo corte de gastos, mas não deu aval para qualquer afrouxamento das regras fiscais.
Ao revelar a pior avaliação de Lula desde seu primeiro mandato – superando até mesmo o terremoto que se abateu sobre o governo com o escândalo do mensalão, em 2005 –, a pesquisa Datafolha assustou o partido.
Em dois meses, o índice de satisfação com o presidente caiu de 35% para 24%.
Pior: a maior queda foi registrada entre eleitores do PT, como mulheres, pobres e moradores do Nordeste.
Foram esses segmentos que ajudaram Lula a derrotar Jair Bolsonaro (PL), em 2022.
DIRIGENTES DO PT DIZEM NÃO SER POSSÍVEL FICAR NA PAUTA DO AJUSTE FISCAL
O pior índice do presidente em todos os mandatos no momento em que petistas enfrentam dificuldades no Congresso, divergem sobre substituto de Gleisi e não têm ‘plano B’ para a sucessão de Lula em 2026 pic.twitter.com/4fvMWRo97G
— Fabricio Ramos ⚡ (@Ramos_Btc) February 15, 2025
A crise no governo ficou ainda mais evidente neste mês de fevereiro, quando o PT completou 45 anos, na esteira de discussões acaloradas sobre a renovação do comando do partido.
Gleisi deixará a presidência do PT nos próximos dias para retornar ao Planalto, desta vez na equipe de Lula. De 2011 a 2014, a deputada chefiou a Casa Civil no governo Dilma Rousseff.
Agora, como mostrou o Estadão, o convite foi para ela ser ministra da Secretaria-Geral da Presidência.
A pasta escolhida para Gleisi é a que cuida da relação com os movimentos sociais, hoje nas mãos de Márcio Macêdo. Na dança das cadeiras, Macêdo está cotado para presidir o Ibama.
A partir de março, a presidência do PT terá de ser ocupada por um dirigente com mandato-tampão até julho.
Não sem motivo: somente no dia 6 daquele mês haverá eleições para renovar o comando do PT no âmbito nacional, estadual e municipal.
Pelo estatuto do partido, qualquer integrante do Diretório Nacional pode ser escolhido para substituir Gleisi.
Atualmente, porém, os mais cotados para o período de interinidade à frente do PT são dois vice-presidentes do partido: o deputado José Guimarães (CE) e o senador Humberto Costa (PE).
Após essa etapa, o nome ungido por Lula para comandar o PT é o do ex-prefeito de Araraquara Edinho Silva.
Dono de estilo moderado, Edinho é aliado de Haddad e também foi ministro de Dilma de 2015 até o impeachment, em 2016, quando dirigiu a Secretaria de Comunicação Social (Secom).
Se eleito para presidir o PT, ele representará uma mudança de 180 graus em relação ao estilo de enfrentamento adotado por Gleisi.
Até agora, no entanto, Edinho tem enfrentado resistências do atual núcleo dirigente do PT.
A própria Gleisi teria preferência por um nome que representasse o Nordeste, como Guimarães, hoje líder do governo na Câmara.
A esquerda do partido, por sua vez, vai apresentar no mínimo um desafiante para se contrapor a Edinho e tenta convencer o deputado Rui Falcão (SP), que já presidiu o PT, a entrar no embate.
O secretário de Relações Internacionais, Romênio Pereira, também lançou sua pré-candidatura.
Ainda não há acordo nem mesmo sobre como será o processo de eleições no partido – se com voto direto dos filiados, como prevê o estatuto da sigla, ou por meio de delegados eleitos em encontros.
🚨 VELHA GUARDA DO PT ESTÁ PREOCUPADA COM OS RUMOS DO GOVERNO LULA 3
– A velha-guarda petista acha importante, por exemplo, ressaltar a Lula que a esquerda não ganha eleição, não governa e não transforma o país sozinha. Diante disso, o presidente deveria tomar duas atitudes.… pic.twitter.com/8HDvLA782a
— The Incorrupt (@TheIncorrupt_) June 9, 2024
A disputa é estratégica porque o sucessor de Gleisi conduzirá a campanha do PT em 2026.
Será um ano decisivo para o projeto de poder do partido: ou Lula concorrerá à reeleição ou terá de indicar quem será seu herdeiro político.
A avaliação de interlocutores do presidente é de que, se o governo não reagir rápido para sair das cordas, há risco de vitória da direita no ano que vem, mesmo sem Bolsonaro (PL) no páreo.
Inelegível até 2030, Bolsonaro ainda será alvejado, nos próximos dias, com uma denúncia da Procuradoria-Geral da República, que o acusará de tentativa de golpe.
Lula só entrará na campanha se recuperar a popularidade, mas o agravante para o PT é que, após ser eleito três vezes, ele não construiu nenhum sucessor.
Até hoje, todos os que se apresentaram para a tarefa, como Haddad, José Dirceu e Antônio Palocci, foram fritados.
Haddad continua de pé, mas está chamuscado
. Não há um ‘plano B’ para 2026.
Reverter a situação exigirá, entre outras coisas, dar ‘cavalo de pau em transatlântico,
resumiu o historiador Valter Pomar, dirigente da corrente Articulação de Esquerda e diretor da Fundação Perseu Abramo ao comentar o resultado da pesquisa Datafolha.
Isso, claro, se não quisermos repetir, nas eleições de 2026, o erro do comandante do Titanic, completou ele.
No diagnóstico do ex-deputado José Genoíno, o partido deve se impor para não deixar que seu projeto de País “naufrague na conciliação” dos salões Verde e Azul do Congresso, onde o governo enfrenta dificuldades para aprovar propostas sem o tradicional toma lá, dá cá.
O PT precisa ter autonomia maior em relação ao governo Lula para ser uma força crítica, mas sei que esse meu desejo está longe (de se concretizar),
afirmou Genoíno, ao participar de uma live nesta semana sobre os 45 anos do partido.
O ex-deputado presidiu o PT e renunciou ao cargo após o escândalo do mensalão, em 2005.
Uma reunião do Diretório Nacional petista foi marcada para segunda-feira, 17. Na pauta consta apenas a discussão sobre o modelo que vai vigorar no Processo de Eleição Direta (PED) deste ano, mas, após a divulgação da pesquisa Datafolha, a crise do governo rondará o encontro.
Segmentos da esquerda do PT com assento no Diretório Nacional acusam a corrente de Lula de querer promover eleições das cúpulas partidárias em um único dia para cercear o debate e “ganhar no tapetão”, com o uso da máquina.
Muito ao contrário, reagiu o deputado Reginaldo Lopes (PT-MG), cabo eleitoral de Edinho.
O eleitor do PT que vai votar está fora dessa burocracia encastelada do partido, que não compreende nada do mundo real e não quer largar o poder.
Até o ex-ministro José Dirceu postou nas redes sociais o manifesto “Diretas já! Eu quero votar para presidente (a) do PT”.
“Hoje há um cerco ao governo do presidente Lula para que as coisas não deem certo: do centrão, da extrema direita à Faria Lima, inclusive no Congresso. (…) Não vamos abandonar aquilo que é a essência do PT – um partido voltado para o social”, declarou @jaqueswagner. pic.twitter.com/92uwa1blQl
— PT no Senado (@PTnoSenado) November 17, 2024
Aliado de Edinho, Dirceu voltou à cena política após o ministro do Supremo Tribunal Federal (STF) Gilmar Mendes anular suas condenações na Lava Jato e o Superior Tribunal de Justiça (STJ) extinguir suas penas.
O PT se elegeu com o voto dos mais vulneráveis, mas governa para a Faria Lima. Cortam benefícios, empurram o 'pacote da miséria' e garantem o lucro da elite financeira. Lula traiu exatamente aqueles que mais precisavam dele.
O destino agora coloca @jonesmanoel_PE, @deccache,… pic.twitter.com/7PUbgUKsmy
— Renato Giraldi (@giraldirenato) December 23, 2024
Em 2026, o ex-chefe da Casa Civil de Lula pretende concorrer a deputado federal.
Antes de tudo, nós precisamos começar a organizar a campanha do Lula, montar os palanques nos Estados e ter diálogo mais forte com os movimentos sociais,
avaliou o secretário de Comunicação do PT, Jilmar Tatto, que vê o presidente como “candidatíssimo, apesar dos percalços.
Tatto é um dos que engrossam o coro contra Edinho na corrente CNB.
Na quarta-feira, 12, os dois se reuniram, em Brasília. Não acertaram os ponteiros, mas alinhavaram um pacto de convivência.
O desafio do PT é fazer a defesa enfática do presidente e de suas políticas, mas isso não significa que não possamos sugerir mudanças no andar da carruagem, argumentou Tatto.
Se forem necessárias, vamos insistir, até porque temos um governo de frente ampla em disputa.
Por Vera Rosa
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O Governo LULA simplesmente ACABOU !
Olha o Paulinho da Força Sindical, fiel escudeiro do PT, detonando o Governo LULA. Estão todos pulando do barco enquanto podem.
TCHAU LULA !!!!! pic.twitter.com/fv7Ijw9Q3K— Terra Brasilis (@Terra__Brasilis) February 8, 2025
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