Política do Pt - Arrozgate
Quem é Neri Geller, o secretário da Agricultura demitido em meio à anulação do leilão de arroz
Uma das empresas vencedoras do leilão promovido pela Conab pertence a um ex-assessor de Geller e sócio de um dos filhos do ex-deputado
Depois de anular o leilão de arroz importado por suspeitas de irregularidades, o governo federal também comunicou a demissão do ex-deputado federal Neri Geller (PP) da Secretaria de Política Agrícola do Ministério da Agricultura.
O anúncio foi feito a jornalistas pelo ministro Carlos Fávaro nesta terça-feira 11.
A exoneração foi solicitada por Geller na manhã desta terça-feira, segundo o ministro. Uma das empresas vencedoras do leilão promovido pela Conab pertence a Robson Almeida de França, ex-assessor do então secretário na Câmara e sócio de Marcello Geller, filho do ex-deputado, em alguns negócios.
Durante a conversa com Fávaro,
Geller ainda explicou que, quando seu filho estabeleceu a sociedade com a corretora,
ele não era secretário e, portanto, não tinha conflito ali.
De fato gerou um transtorno e por isso ele colocou hoje de manhã o cargo à disposição, acrescentou o ministro.
O ex-deputado, de 55 anos, foi alçado a uma secretaria do Ministério da Agricultura uma semana depois de obter uma vitória no Tribunal Superior Eleitoral, em dezembro passado.
À época, a Corte reverteu uma cassação contra Geller por captação irregular de recursos nas eleições de 2018. Ele tentou ser candidato ao Senado em 2022, mas teve a candidatura barrada.
A escolha do ruralista para o cargo aconteceu à luz da necessidade do governo Lula (PT) em estabelecer pontes de diálogos com a Frente Parlamentar da Agropecuária no Congresso.
Essa missão já havia sido conferida ao ex-deputado durante a disputa presidencial de 2022, quando ele atuou para neutralizar o apoio de parte do agronegócio a Jair Bolsonaro (PL).
Esta não foi a primeira vez que Geller passa pelo Ministério da Agricultura.
O ex-deputado já foi chefe da pasta, ao fim do primeiro mandato da ex-presidenta Dilma Rousseff. No segundo mandato de Lula, ele esteve à frente da área de política agrícola.
No início de 2023, Geller indicou o diretor de Abastecimento da Conab, Thiago dos Santos, responsável pelo leilão.
Com as suspeitas de irregularidade no leilão, o presidente da companhia, Edegar Pretto, afirmou que fará uma avaliação em relação à permanência dele no cargo.
A decisão de anular o certame foi tomada durante reunião no Palácio do Planalto, nesta terça-feira.
O leilão para a importação de 263 mil toneladas arroz havia sido uma iniciativa para amenizar uma potencial alta nos preços do grão, em virtude da catástrofe climática no Rio Grande do Sul.
Das quatro empresas que venceram a disputa, a maior compradora é dona de um estabelecimento em Macapá (AP) que tem como atividade principal a venda de leite e laticínios.
Outra é de um empresário de Brasília que afirmou ter pago propina para conseguir um contrato com a Secretaria de Transportes do Distrito Federal.
A jornalistas, Pretto disse que o governo decidiu anular o certame porque algumas das empresas vencedoras apresentaram “fragilidade” e não demonstraram “capacidade financeira de operar” um volume tão elevado de recursos.
Agora, segundo ele, há a expectativa de que os mecanismos para eventuais leilões sejam revisados com ajuda da Controladoria-Geral da União, da Advocacia-Geral da União e da Receita Federal.
A ideia é avaliar se as empresas habilitadas têm condições técnicas e financeiras de executar os contratos antes do pregão.
Por Wendal Carmo
Repórter do site de CartaCapital.