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O que a Folha pensa

Sob Fachin, Supremo precisa buscar a autocontenção

Concluído o julgamento que condenou Bolsonaro, corte deve abandonar ativismo, heterodoxias e excessos

Além de tomar para si tarefas que caberiam à PGR, o STF invadiu a seara do Legislativo, como quando alterou o Marco Civil da Internet

Não é coincidência que o Supremo Tribunal Federal esteja prestes a mudar de presidente pouco depois de concluir o julgamento que condenou, de forma inédita na história do país, um ex-presidente da República e aliados militares por tentativa de golpe de Estado.

Foi perceptível o esforço da corte em dar celeridade ao processo, de forma a encerrá-lo ainda sob o comando do ministro Luís Roberto Barroso e evitar o prolongamento de tensões políticas até o ano eleitoral de 2026.

Espera-se que, com a chegada de Edson Fachin à presidência do STF na segunda-feira (29), o pior de um ciclo difícil e tumultuado tenha sido deixado para trás.

Desde a vitória de Jair Bolsonaro (PL) na disputa pelo Planalto em 2018, as instituições republicanas do país sofreram as pressões mais agudas em quatro décadas de redemocratização.

O Judiciário, com destaque também para o Tribunal Superior Eleitoral (TSE), soube enfrentar o assédio subversivo com altivez e teve papel fundamental na preservação do Estado de Direito.

Esse enfrentamento concentrou as atenções de quatro presidentes do Supremo no período —antes de Barroso, Dias Toffoli, Luiz Fux e Rosa Weber, pela ordem, cada qual com dois anos de mandato— e não se deu sem heterodoxias e excessos por parte de magistrados.

Espera-se que agora seja trilhado o caminho de volta à normalidade.

Não é que as turbulências tenham se dissipado por inteiro, vide as movimentações do bolsonarismo por anistia e o tarifaço aplicado por Donald Trump contra o Brasil.

Mas não há mais motivos para manter medidas que deveriam ser excepcionais.

Entre elas estão, em especial, os intermináveis e opacos inquéritos a cargo do ministro Alexandre de Moraes —como o das milícias digitais, aberto em 2021 e destinado a vigorar em 2026.

Neles se acumulam investigações sem objetivo claramente definido, decisões de inclinação censória e arbitrariedades como ordens monocráticas sigilosas.

Além de tomar para si tarefas que em circunstâncias regulares caberiam à Procuradoria-Geral da República (PGR), o Supremo também invadiu nos últimos anos competências do Legislativo, como quando se arvorou a modificar o Marco Civil da Internet prejudicando a liberdade de expressão e a segurança jurídica.

É fato relevante que Fachin tenha sido um dos três votos vencidos nesse julgamento, tendo se manifestado a favor da preservação das normas democraticamente debatidas e em vigor há mais de uma década.

Também é alvissareiro o perfil discreto do novo presidente do Supremo e sua preocupação, manifestada por meio de poucas e cuidadosas observações, em separar os embates políticos das decisões jurídicas.

É claro que a normalização de procedimentos não depende apenas dele, mas é missão que deveria ser assumida pela corte pelo bem de sua credibilidade.

Por Editoria Folha de São Paulo
editoriais@grupofolha.com.br

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FOLHA DE SÃO PAULO

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  • Gildo Ribeiro

    Gildo Ribeiro é editor do Grupo 7 de Comunicação, liderado pelo Portal 7 Minutos, uma plataforma de notícias online.

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