Após reunião com Putin, Trump diz que ‘ainda não estamos lá sobre um acordo’

ANCHORAGE, ALASCA – O histórico encontro entre Donald Trump e Vladimir Putin no Alasca nesta sexta-feira, 15, terminou sem qualquer acordo sobre o futuro da Ucrânia, como queria o republicano, além de dar ao russo a imagem diplomática que queria mostrar ao mundo.

Se esperava que ao menos um cessar-fogo fosse discutido e alívio de sanções a Moscou.

O presidente americano disse que ainda irá comunicar Volodmir Zelenski e demais líderes europeus sobre o teor da reunião.

QUE IMAGEM, bicho. VTNC pic.twitter.com/9CbruHieZ6

— Rafael Gloves (@rafaelgloves) August 15, 2025

Depois de uma recepção calorosa por Trump em Anchorage, Putin abriu a coletiva de imprensa, o que foge ao padrão de encontros nos Estados Unidos. Ele começou dando um “bom dia, queridos vizinhos”, citando a proximidade geográfica e histórica do Alasca.

Ele disse que haviam chegado a um acordo para “pavimentar o caminho para a paz na Ucrânia”, sem dizer qual era realmente o teor.

Logo em seguida, Trump disse que ainda não chegamos lá, mas já avançamos.

Não há acordo até que haja um acordo.

No fim, não se concordou com um cessar-fogo na Ucrânia como desejava Kiev.

Putin chamou a Ucrânia de “nação irmã, por mais que isso possa soar estranho agora” ao dizer que deseja ver uma solução para o conflito, mas enfatizou que as “raízes” das preocupações russas na Ucrânia precisam ser eliminadas antes que um acordo de paz completo possa ser alcançado.

Ao utilizar o termo “raiz”, Putin utiliza sua forma usual de se referir a uma lista de demandas que foram categoricamente rejeitadas pela Ucrânia e pela Europa. Isso sugere que ele mantém sua posição linha-dura sobre a solução.

O russo começou a invasão em 2022 alegando “desnazificar” a Ucrânia.

Ele deseja congelar as linhas de frente no formato que possuem agora de ocupação russa, o que significaria a Ucrânia abrir mão da Crimeia – depois de mais de 10 anos da anexação ilegal pela Rússia – e de todo o Donbas, no leste.

Proposta inaceitável para os ucranianos.

Em suas palavras de hoje, Putin não deu nenhuma indicação de concessões nesse sentido.

Além disso, uma das preocupações de Putin é a própria remoção do governo de Zelenski, o que representa um desafio elevado.

Ele também advoga para que a Ucrânia se desarme e renuncie à adesão à Otan.

O russo usou grande parte do seu discurso para citar as relações históricas entre Estados Unidos e Rússia, teceu longos elogios a Trump e criticou o antecessor Joe Biden.

Nas palavras de Putin,

a guerra não teria começado se Trump fosse o presidente,

uma frase que o republicano repete desde a campanha eleitoral.

O americano falou logo em seguida e em um tempo muito mais curto.

Ele disse que falará com os líderes da Otan e com o presidente da Ucrânia para informá-los sobre suas conversas com Putin. Em seguida, ele fala imediatamente sobre seu “ótimo relacionamento” com Putin.

UKRAINE: Trump’s security would have never let him ride in Putin’s car. Interesting Putin got right into the Beast. pic.twitter.com/bTp9Hlhmup

— @amuse (@amuse) August 15, 2025

 

Eles terminaram a coletiva sem responder a perguntas dos repórteres, o que é incomum para Trump.

Ao fim,

Putin falou em inglês ao agradecer Trump e convidá-lo para uma próxima cúpula em Moscou.

Essa é interessante, respondeu Trump.

Vou receber algumas críticas, mas acho que pode acontecer.

Putin saiu da reunião com algumas vitórias.

Ele recebeu uma visita aos Estados Unidos depois de mais de 10 anos e imagens de uma saudação calorosa de Trump, além de mais um adiamento das sanções secundárias contra a Rússia.

Já Trump saiu sem o acordo de cessar-fogo pelo qual havia ameaçado duramente a Rússia de sanções caso não aceitasse.

Na declaração à imprensa, o americano quase não mencionou o tema. Em vez disso, voltou aos seus jargões habituais — gabando-se de seu relacionamento de longa data com “Vladmir”, lamentando que ambos tenham sido alvo da “farsa da Rússia” de 2016 e dizendo que talvez haja um acordo na próxima vez que se falarem.

Mais cedo, a bordo do Força Aérea Um a caminho do Alasca,

Trump disse aos repórteres:

Quero ver um cessar-fogo rapidamente. Não sei se será hoje. Mas não ficarei feliz se não for hoje.

A reunião terminou várias horas antes do previsto, bem aquém das seis ou sete horas de discussão que os assessores de Putin disseram esperar para as negociações.

THE FUTURE IS LOOKING BRIGHT!!!🇺🇸⚡️🇷🇺 pic.twitter.com/zHB4inlWzW

— il Donaldo Trumpo (@PapiTrumpo) August 15, 2025

 

Autoridades ucranianas em Kiev acompanhavam ansiosamente a coletiva de imprensa em busca de pistas sobre o destino de seu país.

Mas, com o fim da reunião inconclusiva, agora acreditam que a guerra continuará inabalável, pelo menos por enquanto.

“Acho que foi um fracasso porque Putin voltou a falar sobre questões de segurança e usou sua retórica habitual, disse Oleksandr Merezhko, político ucraniano.

Não vejo nenhuma mudança.

Tapete vermelho para Putin

Putin foi recebido no Alasca, um território americano que já foi russo, com vigor. Trump foi o primeiro a pousar em Anchorage, mas esperou alguns minutos para desembarcar ao menos tempo com o seu homólogo russo.

O americano exibiu diversos aparatos de boas-vindas a Putin: um sobrevoo militar, um tapete vermelho, um aperto de mão presidencial e um passeio particular com Trump na limusine presidencial.

O republicano chegou a aplaudir Putin quando ele se aproximou no tapete vermelho.

Eles desembarcaram simultaneamente na Base Conjunta Elmendorf-Richardson, em Anchorage, por volta das 11h09 do horário local (16h09 de Brasília).

O Alasca é território americano, embora tenha sido russo no passado. Esta é a primeira vez em uma década que Putin vai aos Estados Unidos.

Os dois presidentes desceram os degraus de suas aeronaves e apertaram as mãos, sorrindo largamente. A coreografia foi feita para que eles se encontrassem no meio de um tapete vermelho.

Então caminharam pelo tapete e pararam para posar para uma foto, ignorando as perguntas gritadas dos repórteres. Um bombardeiro B2 sobrevoou os dois líderes mundiais quando caminhavam pelo tapete.

Jornalistas gritaram perguntas a Putin, mas foram ignorados. Quando um repórter perguntou a Putin se ele pararia de matar civis, Putin sorriu e apontou para o ouvido.

Apertaram as mãos novamente no fim da caminhada e entraram na limusine presidencial de Trump, sentados lado a lado sem tradutor.

É altamente incomum ver os líderes de duas superpotências — e, neste caso, adversários — viajarem na mesma limusine.

Putin fala inglês o suficiente para manter uma conversa. Isso pode aumentar o mistério sobre o que os dois líderes discutem em particular nesta visita, assim como uma conversa que tiveram em Hamburgo em 2017, no início do primeiro mandato de Trump.

Após chegarem ao local onde ocorre a reunião, Trump e Putin permaneceram em silêncio enquanto os fotógrafos tiravam fotos. Eles ignoraram as perguntas gritadas dos jornalistas em uma sala na base aérea.

Agora, a pequena reunião começará, seguida por uma reunião em grupo maior. Trump estava com o Secretário de Estado Marco Rubio e seu enviado especial, Steve Witkoff, ao seu lado. Putin estava com o Ministro das Relações Exteriores da Rússia, Sergei Lavrov, e um assessor de política externa, Yuri Ushakov, ao seu lado.

Vladimir Putin parecia feliz e genuinamente entusiasmado ao sair do avião e cumprimentar Trump.

E tinha todos os motivos para se sentir assim.

Trump is meeting Putin at ‘Quarters One’ AKA ‘Q1’ ⚠️

THAT IS NOT BY ACCIDENT‼️ pic.twitter.com/Qxd8zBlxra

— Matt Wallace (@MattWallace888) August 15, 2025

 

Após três anos de isolamento diplomático, sanções e a emissão de um mandado de prisão por crimes de guerra, ele acabara de pousar no território daquela que talvez seja a nação mais poderosa do mundo e líder da Otan, e foi calorosamente recebido pelo presidente americano em um tapete vermelho.

Era exatamente a imagem visual que Putin buscava, e isso explica por que ele aceitou com entusiasmo a ideia de realizar esta reunião no Alasca.

Mesmo que a sessão em si tenha pouco ou nenhum progresso, Putin está de volta à companhia de interlocutores de superpotências./NYT

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