A disputa pelo poder,
Trump, o Jogo de Poder e o Brasil
Entre Estratégia e Ilusão de Soberania

“A política é a disputa pelo poder, e nada além disso”, escreveu Hannah Arendt ao refletir sobre a essência dos conflitos humanos organizados.
E como todo jogo de poder, ela exige etapas precisas: primeiro traçar um objetivo; depois analisar o cenário; em seguida criar estratégias maleáveis às variáveis; buscar os meios; e, por fim, utilizar as ferramentas disponíveis — sejam elas legítimas ou não: chantagem, ameaça, suborno, manipulação emocional ou ideológica.
Como lembrava Maquiavel, os fins justificam os meios.
Com esse mapa em mãos, compreendemos melhor a lógica por trás da estratégia de Donald Trump em relação ao Brasil.
Para Trump, o inimigo central não é um país específico, mas o projeto de governo global que, segundo ele, ameaça a soberania americana.
Organismos como a ONU, fóruns como o Fórum Econômico Mundial, blocos como a União Europeia e até mesmo acordos climáticos são, em sua visão, instrumentos de um “globalismo” que busca diluir a hegemonia dos EUA.
Por isso, Trump aceita um mundo multipolar, desde que haja um centro de gravidade incontestável:
Washington.
O poder nunca é dado; é tomado, dizia Napoleão Bonaparte, e é exatamente isso que Trump busca assegurar.
Dentro desse tabuleiro, o Brasil não é apenas mais um país: é uma peça estratégica.
Com suas vastas reservas de alimentos, grãos, minérios, terras raras e água doce — recursos cada vez mais escassos em escala global —, o Brasil é um ativo cobiçado.
Quem controla sua política e economia, controla também uma das maiores reservas naturais do planeta.
E mais: sua posição geopolítica na América do Sul o torna chave para influenciar todo o hemisfério.
Hoje, porém, Trump enxerga o Brasil como hostil.
Os motivos não são apenas diplomáticos, mas estruturais: a aproximação do governo Lula com China, Rússia e Irã, a participação ativa no BRICS, o crescimento do narcotráfico e as denúncias de ligações políticas com grupos como Hamas e Hezbollah acenderam alertas em Washington.
Além disso, a escalada de censura e violações de direitos humanos por parte do STF, na figura de Alexandre de Moraes, tornou o Brasil um caso paradigmático daquilo que Trump combate em seu discurso: governos que, segundo ele, misturam autoritarismo judicial com inclinações ideológicas globais.
Os homens se governam mais pelas paixões do que pela razão, escreveu Spinoza, e Trump entende isso com clareza.
Por isso, sua estratégia não se limita à diplomacia tradicional.
Ele decidiu usar a figura de Jair Bolsonaro — ou, se necessário, de seu filho Eduardo — como um instrumento político para reposicionar o Brasil.
É um movimento calculado: aplicar pressão econômica (como tarifas de 50% sobre exportações brasileiras), sanções específicas via Lei Magnitsky contra autoridades, retirada de vistos e ataques retóricos.
Tudo isso não apenas como retaliação, mas como ferramenta de reorganização interna, visando criar as condições para que, em 2026, um aliado seu retorne ao poder.
Trump aposta que, com Bolsonaro ou Eduardo, terá um Brasil alinhado até 2027 — e, com ele, maior influência sobre a América do Sul.
O jogo, portanto, é claro: usar instrumentos de coerção para transformar um país hostil em parceiro subordinado.
Ao fazer isso, Trump não rompe com a lógica clássica de poder; pelo contrário, ele a aplica com perfeição.
Como diria Carl Schmitt,
a essência da política está em distinguir amigos e inimigos.
O pano de fundo disso tudo é um redesenho da ordem mundial.
Trump aceita a existência de polos como China e Rússia,
mas apenas desde que fiquem em seus quintais e não interfiram nos interesses americanos.
Nesse sentido, o Brasil sob Lula é um problema a ser resolvido: suas alianças cruzadas com Pequim e Moscou, suas reservas naturais e seu papel crescente no BRICS o transformam num alvo de disputa direta.
Assim, ao sancionar figuras como Alexandre de Moraes, ao ameaçar a economia brasileira e ao articular politicamente com o bolsonarismo, Trump não age por impulsos — mas como quem segue um roteiro lógico das cinco etapas do poder.
Objetivo definido, cenário mapeado, estratégia traçada, meios obtidos e ferramentas aplicadas. Tudo dentro da velha máxima maquiavélica.
E aqui está a reflexão final: a política não é moral, é estrutural.
A noção de soberania é, muitas vezes, uma ficção útil. Países como o Brasil, apesar de seu tamanho e recursos, não escapam às engrenagens das potências que dominam os fluxos econômicos e militares.
A força cria o direito, dizia Hobbes.
No mundo real, não é a justiça que preserva as nações, mas a sua capacidade de jogar bem o jogo do poder.
O que Trump nos mostra é apenas o óbvio que fingimos não ver: não existem nações plenamente soberanas, apenas diferentes graus de dependência e influência.
Hoje, o Brasil é campo de batalha de um jogo maior — um jogo que mistura geopolítica, economia e ideologia.
E, nesse tabuleiro, ou você se torna jogador… ou peça.
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Por: Rodrigo Schirmer Magalhães
Cientista político e Analista de Politica
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