Estadão Saúde
Açaí faz bem à saúde: confira os benefícios associados ao alimento
Além de garantir disposição, o fruto apresenta efeitos protetores às artérias e ao cérebro, com impactos no humor; confira dicas de consumo para não colocar tudo a perder
Se, há algumas décadas, o açaí ficava restrito às cuias dos povos ribeirinhos da Amazônia, agora é popular não apenas de norte a sul do Brasil, mas também nos quatro cantos do planeta.
Muitos gringos saboreiam no café da manhã e existem lojas especializadas em cidades como Madri, na Espanha.
Também marca presença em centros de pesquisa mundo afora.
Parte da receita do sucesso é um mix de substâncias protetoras.
A começar pelo básico.
Assim como a maioria dos frutos, o açaí contém vitaminas e sais minerais, comenta a nutricionista Maísa Mota Antunes, professora da Universidade Federal de Minas Gerais (UFMG).
Oferta as vitaminas A, C e E, parceiras da saúde ocular, e da imunidade, além de algumas integrantes do complexo B. Já entre os minerais, vale menção para o magnésio e o potássio, essenciais aos músculos.
A bióloga Ivana Cruz, da Universidade Federal de Santa Maria (UFSM), acrescenta ainda a quantidade de fibras do fruto.
Oferece mais do que a manga, o abacaxi ou a laranja, compara.
Ele fornece gorduras benéficas, diz Cássia Carvalho, nutricionista do Centro Especializado em Oncologia do Hospital Alemão Oswaldo Cruz, em São Paulo
. Trata-se das poli-insaturadas e das monoinsaturadas – as responsáveis pela fama do azeite de oliva. Inclusive aquela textura cremosa, presente no conteúdo servido nas tigelas, seria consequência dessa parcela gordurosa.
Mas o que chama mais a atenção dos cientistas é a soma de compostos conhecidos como polifenóis. Tais substâncias são produzidas pelo vegetal para protegê-lo das mudanças do clima e até de insetos.
E são diversos tipos, entre os quais flavonoides, que somam uma extensa lista de integrantes.
Homoorientina, orientina, taxifolina desoxihexose, isovitexina e escoparina são exemplos, conta a professora Ivana.
No mesmo grupo estão ainda as celebradas antocianinas, que são pigmentos por trás da coloração roxa, quase negra do fruto.
Essa mistura e a sinergia entre eles potencializa os efeitos, sobretudo antioxidantes e anti-inflamatórios. Por isso é que o açaí desponta em tantas pesquisas.
Destacando as evidências
O alimento coleciona indícios de proteção cardiovascular.
Aliás, há mais um ingrediente da fruta que merece ser mencionado por essa função: o fitosterol.
Ele apresenta estrutura química parecida com a do colesterol. E, como ambos são similares, disputam vagas para entrar nas células intestinais.
Assim, o fitosterol ocupa alguns lugares e uma parte do colesterol acaba eliminada durante o processo digestivo, reduzindo seus níveis na circulação.
Já a turma das antocianinas e afins, além de ação antioxidante, tem a capacidade de brecar processos inflamatórios nos vasos sanguíneos, resguardando-os da formação das placas de ateroma.
Outro beneficiado pelos componentes do açaí é o cérebro. Ivana vem investigando os feitos à saúde mental há mais de 15 anos.
Um dos trabalhos, realizado em parceria com a Universidade do Estado do Amazonas (UEA) e a Universidade de Toronto no Canadá, atesta os efeitos neuroprotetores.
O fruto pode ser considerado mood food, conta.
Ela se refere a um grupo de alimentos que contribuem para o bem-estar emocional.
Isso porque tanto nutrientes quanto fitoquímicos podem afetar neurotransmissores e processos cerebrais envolvidos na regulação do humor.
No combo de benefícios atrelados ao consumo, também vale salientar que a composição do fruto é garantia de disposição e muitos esportistas lançam mão do alimento para manter o pique.
Ressalte-se que toda essa riqueza é relacionada ao fruto in natura.
O conteúdo da tigela
Para quem não tem a sorte de tê-lo por perto, como a população amazônica, sobretudo, os que vivem no Pará, o jeito é contentar-se com opções industrializadas. Nesse caso, a dica é redobrar a atenção.
Existem produtos no mercado que contêm xarope de glicose na formulação, avisa Maísa.
Nesse caso, além de muito mais doces, eles podem apresentar o dobro do valor calórico.
A sugestão é observar o rótulo e buscar versões com o menor número de ingredientes e com maior percentual da fruta, ensina Cássia.
Deve-se priorizar a polpa congelada, de preferencia feita exclusivamente de açaí, sem acréscimos de xarope de guaraná, entre outros incrementos.
Há ainda o açaí liofilizado, ou seja, o vegetal desidratado e em forma de pó. Outra vez, olho vivo nos detalhes estampados na embalagem.
Quem consome pertinho da floresta descreve seu gosto como algo terroso e lá é comum saborear nas refeições principais, junto de peixes, farinha de mandioca, entre outros pratos.
Por lá também é comum encontrar um tipo de suco, chamado de vinho, mas sem álcool, que é o fruto misturado com água. Alguns são mais grossos, outros mais diluídos.
Para além das tradições culinárias, o que se vê mais ao sul do Brasil são combinações bastante criativas.
Se mistura com confeitos, leite condensado, paçoca e tantos ingredientes inusitados, comenta Maísa.
Assim, crescem as chances de se anular os benefícios. Sem contar a granola, que, embora seja nutritiva, adiciona mais uma porção de calorias e de açúcar.
Para não botar tudo a perder, a sugestão é combinar com frutas como o morango, o kiwi, a banana, a uva… “Dá para preparar shake proteico com whey protein”, indica Cássia.
E ainda assim, nada de extrapolar na dose.
Mesmo para alimentos repletos de virtudes, o excesso nunca é bem-vindo.
Por Regina Célia Pereira