CARROS
Por que Ferrari resiste a eliminar motor a combustão
Para a Ferrari, assim como para muitas outras montadoras de luxo, a mudança para carros elétricos representa um grande desafio de marketing

Na contramão da indústria automobilística, a italiana Ferrari continuará a fabricar carros com motores de combustão interna até o fim da década de 2030, apesar dos esforços de governos de todo o mundo para eliminar gradualmente a tecnologia.
Mas por quê?
Segundo o chefe da fabricante italiana de carros superesportivos, seria “arrogante” ditar aos clientes o que eles podem comprar.
Na prática, contudo, para a Ferrari, assim como para muitas outras montadoras de luxo, a mudança para carros elétricos representa um grande desafio de marketing.
Por outro lado, a empresa deve apresentar seu primeiro supercarro elétrico em 2025.
Tradicionalmente, o som estridente de um motor de combustão interna de oito ou 12 cilindros tem sido uma parte fundamental do apelo da marca.
E os carros movidos a bateria são muito mais silenciosos.
No entanto, a Ferrari planeja lançar seu primeiro modelo totalmente elétrico em dois anos — um design que, segundo a empresa, vai oferecer uma experiência de direção única.
A estratégia, no entanto, vai de encontro à da rival McLaren, cujo CEO disse em um fórum sobre a indústria automotiva promovido pelo jornal britânico Financial Times nesta semana que a tecnologia “não estava pronta” para uso em supercarros, devido ao peso das baterias.
No ano passado, a Ferrari revelou planos para uma abordagem em três frentes no desenvolvimento de novos veículos, como parte do compromisso de se tornar neutra em carbono até 2030.
A montadora italiana disse que carros elétricos e híbridos representariam uma proporção crescente de seu portefólio até o final da década.
Mas reforçou que também continuaria a desenvolver motores de combustão interna, levando adiante o que chamou de uma parte essencial da herança da empresa.
Até recentemente, essa estratégia parecia ter uma vida útil limitada, com vários mercados importantes se preparando para proibir a venda de carros novos com motores de combustão interna até 2035.
Em março, no entanto, a União Europeia concordou em isentar dessa proibição carros movidos exclusivamente a “e-combustíveis” sintéticos, produzidos com energia renovável.
Espera-se que esses combustíveis sejam caros, mas a brecha significa que os fabricantes de carros de alto desempenho ainda poderão vender modelos com motores em um dos maiores mercados do mundo.
Em entrevista à BBC, o CEO da Ferrari, Benedetto Vigna, apontou essa decisão como um sinal de que a tecnologia estava evoluindo e negou que isso prejudicaria as credenciais ambientais da empresa.
Não quero ser arrogante e impor uma escolha ao nosso cliente, diz ele.
É o cliente que deve escolher se quer um carro ICE (motor de combustão interna), híbrido ou elétrico.
Mas em outros mercados, incluindo o Reino Unido e o Brasil, ainda não existe essa brecha para os combustíveis eletrônicos.
Isso levanta a possibilidade de alguns modelos da Ferrari estarem disponíveis na UE, mas proibidos em outros lugares.
Temos que lidar com as regras de todos os países em que operamos, diz Vigna.
A razão pela qual temos três tipos de propulsão — ICE, híbrido e elétrico — é que isso nos permite lidar com qualquer regulamentação, em todo o mundo, conclui.

Segundo CEO da Ferrari, Benedetto Vigna, seria “arrogante” ditar aos clientes o que eles podem comprar.


No ano passado, a Ferrari revelou planos para uma abordagem em três frentes no desenvolvimento de novos veículos, como parte do compromisso de se tornar neutra em carbono até 2030