Alimentação estravagante
Queijo de ovelha, café orgânico e microcervejaria: uma rota de produção artesanal no interior de SP
Distritos de Joaquim Egídio e Sousas, em Campinas, são ótimas opções para desacelerar do ritmo da cidade e vivenciar a natureza
Imagine um mundo no qual desconhecidos ainda abrem suas portas para um café e uma boa conversa sobre produção artesanal.
Bom, ele existe e fica a pouco mais de uma hora de São Paulo, na cidade de Campinas. Mais especificamente nos distritos de Joaquim Egídio e Sousas.
Campinas, apesar de muito conhecida, conta com uma série de experiências diferenciadas não tão exploradas e que podem agregar muito para atrair visitantes,
diz Fernando Vernier, diretor executivo da entidade civil e sem fins lucrativos Campinas e Região Convention & Visitors Bureau.
Pensando nisso, eles criaram o roteiro “Descobrindo Sousas e Joaquim Egídio”,
que tem o objetivo de promover o turismo voltado para a questão artesanal e sustentável.
Por serem dois distritos que foram Área de Proteção Ambiental de Campinas, é uma opção para que os visitantes possam desacelerar o ritmo da cidade e começar a vivenciar a natureza.
Hoje o roteiro conta com sete pontos de interesse, mas a ideia é que cresça cada vez com a chegada de novos pequenos produtores.
Em cada um deles, a sensação é de que estamos visitando casas de desconhecidos e não fazendo uma visita turística.
Até porque muitos dos espaços ficam dentro de condomínios e precisam da permissão dos anfitriões para a entrada.
Só depois da liberação dos seguranças, confirmação do porteiro e uma estrada de terra considerável chegamos ao nosso primeiro destino: o Sítio Flor da Lua.
Por ali, o cheirinho de café vem de longe, afinal essa é a especialidade da casa.
“Nosso foco é o turismo agroecológico. Então, quando a gente abre a cafeteria, de manhã, a gente tem uma palestra sobre o conceito, com a ideia de aproximar a cidade do campo”, conta o dentista e agricultor Cid Manicardi.
Sim, de manhã ele cuida da terra, e à noite dos dentes.
E acredite, existe uma ligação.
Gosto de microbiologia e eu trabalho na área da odontologia que é a endodontia (especialidade que trata das lesões e doenças dentais relacionadas à raiz e polpa do dente), que casa muito com a microbiologia.
Então, o que mais me interessa no sítio é a microbiota do solo, explica ele.
Quem chega por ali pode apenas experimentar o café feito na fazenda ou fazer a visitação guiada que começa com um café da manhã caseiro, com direito a pão de queijo e bolo, e termina com um lanchinho que inclui drink de café. Eles chamam o esquema de ‘Cafezal ao cafézinho’ – algo parecido com o que acontece em Espírito Santo do Pinhal.
O passeio todo custa R$ 150 por pessoa, tem duração de três horas e é feito via agendamento prévio.
Ou oferecemos a data no Instagram ou a gente abre nova data pela demanda do público. A programação sempre é para cerca de 20 pessoas,
detalha Isa Taube, co-proprietária do sítio.
Uma terceira opção de visita acontece uma vez por mês, aos sábados, a partir das 15h, com shows de músicos locais (R$ 70 por pessoa) e cardápio especial de cafés e quitutes.
Flor da Lua
Endereço: Estrada Sousas – Pedreira, Km 7 (Condomínio Colinas do Atibaia). Agendamentos e informações: www.instagram.com/cafeflordalua/ e (19) 99368-3451.
Cervejas
Mais próximo do centro, o cervejeiro Alfeu Julio também faz questão de abrir suas portas para festas todo segundo sábado do mês. Por lá, o líquido “sagrado” é outro: a cerveja. “Sempre gostei muito de cerveja, sempre fui muito curioso e apaixonado pela história da cerveja no mundo”, diz.
Na virada de 1999 para 2000, decidiu colocar seus conhecimentos da formação de Engenharia de Produção em prática e começou a fazer cerveja caseira com o amigo Caco.
Essa foi a primeira semente, que só foi dar frutos de fato no final de 2012 quando a Toca da Mangava começou.
Queijos e doces de leite de ovelha
Marina Erê Santos sempre foi alérgica ao leite de vaca. Durante sua infância, ela e a família visitavam cabris (espaços que criam cabras) para consumo e aprendizado, pois a ideia era de que no futuro seus pais tivessem um “pedacinho de terra” e com ela sua própria criação dos animais.
“Quando esse futuro chegou (em 2017), a gente descobriu que as cabras eram animais difíceis de cuidar e que ovelhas poderiam ser mais tranquilas especialmente para manter dentro do terreno. Então fizemos isso”, explica ela.
As três primeiras ovelhas hoje se multiplicaram em 57 e são a fonte de sustento da família Santos.
Todas da raça Lacaune – o tipo leiteiro -, elas produzem cerca de dois litros diários de leite que são transformados em queijo, doce de leite e iogurte na queijaria artesanal da Cabanha Campestre 53.
Por R$ 95, o visitante pode visitar o espaço, conhecer as ovelhas e degustar os queijos premiados do espaço.
Nossa proposta é dividir esse espaço com os visitantes.
Tanto pelo programa de turismo rural para as famílias, que acontecem dois fins de semana por mês e o pessoal passa a manhã com a gente, quanto com o turismo pedagógico com escolas, grupos de nutricionistas e ateliê de lã,
explica Daniele Santos, mãe de Marina.
O espaço aceita no máximo 20 pessoas por visita e o agendamento deve ser feito previamente.
Cabanha Campestre 53
Endereço: Rod. José Bonifácio Coutinho Nogueira s/n, km 15 – Joaquim Egídio. Agendamento: (19) 99761-1706. Informações: www.instagram.com/cabanhacampestre53/
Outro pontos de interesse da região de Joaquim Egídio e Sousas
Além desses espaços, não deixe de caminhar pelas ruas de paralelepípedos e casas históricas do centro de Joaquim Egídio.
Os bares, restaurantes e botecos da rua ficam lotados de turistas e residentes à noite.
Quem prefere algo mais íntimo, a Vinícola Walachai oferece visitas e degustações agendadas (as datas são divulgadas no instagram).
Uma boa experiência para ter durante a viagem é no restaurante do Chef Daniel Valay. No seu ateliê, é possível fazer aulas de culinária avulsas e degustar o resultado depois.
O cardápio sempre é divulgado com antecedência para que os interessados possam se inscrever.
Aproveite para passar pela Imaterial Artesanato Brasileiro, um espaço que tem como proposta a valorização dos artesãos, com diversas peças, nas mais variadas técnicas, estilos e materiais de regiões de todo o País.
E vale a pena se programar para visitar o Parque Pico das Cabras, lugar já consagrado da região. Situado no meio da natureza é um espaço ideal para ver o céu, por isso mesmo hospeda um dos maiores complexos astronômicos do País: o Museu Aberto de Astronomia (MAAS).
Os visitantes podem fazer observações solares e noturnas, escutar sons do universo com o radiotelescópio e aprender muito sobre os astros.
Tanto no site, quanto nas redes sociais é divulgado frequentemente eventos que ocorrem por ali e deixam tudo ainda mais interessante, como a Virada Astronômica, que acontece dia 7 de dezembro.
Por Ana Lourenço