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Após a curiosa “descondenação”

Peripécia formal do STF anula condenação de Sérgio Cabral

O problema não é que um governador enriqueça metendo a mão em secretarias distintas, mas que o mesmo juiz ouse investigar uma quando já estava envolvido com a investigação de outra

Após a curiosa “descondenação” do ex-presidente e ex-presidiário Luiz Inácio da Silva, o seu velho aliado Sérgio Cabral é tocado pela benevolência de alguns magistrados para com criminosos que se consagraram também como lideranças  políticas.

O motivo é esnobe, quer dizer, nobre: ao que tudo indica, o juiz
Bretas, responsável pela condenação, não era competente para julgar o caso e as
ações penais associadas à investigação.

Afinal de contas, como a Lava Jato no
Rio teve início investigando corrupção na Secretaria de Obras, não haveria
cabimento, segundo os argutos ministros do STF, o mesmo juiz da operação se
aplicar a casos versando crimes na Saúde, ou seja, em secretaria de governo
distinta.

Ninguém disse que Cabral é inocente.

Ninguém defendeu que o juiz tenha feito uma
condenação absurda baseada em provas insuficientes. Ninguém supôs que crimes em
secretarias de governo distintas não possam implicar um mesmo governador. Nada
disso.

Sejamos claros:

o ex-governador condenado por corrupção Sérgio Cabral,
apesar de claramente culpado, teve sua sentença anulada porque o mesmo juiz
emitiu sentenças sobre investigações de corrupção em secretarias diferentes –
Obras e Saúde.

Burocracia importa.

O fato material chamado “crime”, por outro
lado, é uma bagatela, uma vez ferido o princípio supremo da burocracia. Essa foi
a peripécia formal por meio da qual ministros do Supremo Tribunal Federal
livraram a cara de mais um bandido de colarinho branco que assaltou os bolsos do
contribuinte brasileiro.

O Rio vai mal.

Como se não bastassem todos os problemas de saneamento, agora
enfrenta uma epidemia da H1N1. Tanto Saúde quanto Infraestrutura são
secretarias, em nível municipal, estadual ou nacional, altamente cobiçadas pelos
trambiqueiros de plantão. A margem para desvios de recursos é altíssima. Não por
acaso,

Cabral tinha os pés nas duas.

Os ministros do Supremo não são, é claro,
contrários a que se condene um bandido de colarinho branco por ter desviado
recursos de uma população que já se viu às voltas com água suja nas torneiras
ligadas à rede municipal. Claro que não. Basta que juízes diferentes cuidem cada
qual de uma secretaria. O problema não é que um governador enriqueça metendo a
mão em secretarias distintas, mas que o mesmo juiz ouse investigar uma quando já
estava envolvido com a investigação de outra.

De peripécia formal em peripécia formal,

condenar adversários inocentes e
libertar aliados culpados torna-se cada vez mais corriqueiro. No dia em que o
recurso a peripécias jurídicas para a distribuição não-equânime da injustiça
virar crime, talvez sejamos obrigados a abrir mão de nossa adorável, criativa e
caridosa Suprema Corte.

Last but not least:

Kassio Lagosta Nunes votou de
rostinho colado com o velho de guerra da soltura sistemática Gilmar Mendes –
prova de que a lealdade é um valor levado a sério pelo Centrão, padrinho da
(sacrificial) primeira indicação de Bolsonaro ao STF.

*Esse texto não reflete, necessariamente, a opinião da Jovem Pan.

By: Bruna Torlay

[caption id="attachment_107246" align="alignnone" width="1024"] De peripécia formal em peripécia formal, condenar adversários inocentes e  libertar aliados culpados torna-se cada vez mais corriqueiro[/caption]
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  • Gildo Ribeiro

    Gildo Ribeiro é editor do Grupo 7 de Comunicação, liderado pelo Portal 7 Minutos, uma plataforma de notícias online.

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