Alguns ganharam um bom dinheiro.
Mídia corporativa que operou a Lava Jato perdeu 68% dos leitores em seis anos
O dicionário penal foi todo reescrito para inflamar a torcida e instilar ódio contra os acusados.
Conjur – Em 2014, a imprensa brasileira deslumbrou-se com uma grande reportagem: um grupo de paladinos da justiça surgiu em Curitiba com a
promessa de acabar com a corrupção no Brasil.
Sete anos depois,
o país descobriu-se vítima de um engodo. O saldo da batalha: o país elegeu uma
geração de políticos despreparados e perdeu, pelo menos, R$ 326 bilhões
com a farsa. Mas nem todos os brasileiros perderam. Alguns ganharam um
bom dinheiro.
O grande motor da máquina foi a imprensa.
Enfeitou a narrativa com
apelidos publicitários, as “operações”. Em vez de número, o processo
ganhou nome de novela, com capítulos chamados de “fases”.
Espertamente,
para esmaecer as suas digitais, o coletivo de procuradores ocultou-se
sob o nome fantasia de “força tarefa”. O dicionário penal foi todo
reescrito para inflamar a torcida e instilar ódio contra os acusados.
Todo dinheiro era “propina”, todo grupo, “quadrilha”, todo mundo,
“bandido”.
Canis silenciosos
Montou-se uma fábrica de notícias falsas.
Em troca de “furos”, jornais e jornalistas se dispuseram a fuzilar os ministros que anulavam as
decisões ilegais do lavajatismo. A chantagem consistia em simular
escândalos contra os julgadores e seus familiares.
Com essa moeda de
troca, os “cachorros” de Curitiba eram pagos. O termo “cachorro” é da
época da ditadura militar, para apelidar os colaboracionistas da
repressão que delatavam seus próprios amigos em troca de favores.
À “técnica do emparedamento”,
de chantagear ministros para extorquir
decisões favoráveis, os procuradores e seus jornalistas de estimação,
seguiu-se a prática de atirar nas pernas dos advogados. Em um dos
momentos mais infames do espetáculo, a “força tarefa estendida” (que
incluía juízes, delegados, auditores, empresários e até advogados)
chegou mesmo a conseguir o bloqueio de contas dos escritórios que
defendiam vítimas da máquina — agora já com franquias no Rio de
Janeiro, Brasília e São Paulo.
Um punguista chamado Luiz Vassalo, a
serviço dos escroques de Curitiba, quis saber de ministros do STF e do
STJ se a revista Consultor Jurídico pagava por entrevistas, com o claro
propósito de emparedar o site. Provavelmente por ser uma prática dos
locais onde ele trabalha ou trabalhou.
Na ditadura militar,
os delatados iam para os calabouços. Na “lava jato”,
as notícias fraudadas empalavam os alvos nas garras do tribunal
de Curitiba e suas franquias, onde se prescindia de provas para
condenar. Os novos talibãs, guardiões do moralismo, atiraram-se
vorazmente contra suas vítimas, sem compaixão. Nem provas. Colhem agora
os frutos do mal que plantaram.
Em dezembro de 2014,
no auge do lavajatismo, a tiragem somada dos seis
principais jornais impressos do Brasil era de 1,071 milhão de
exemplares. Seis anos depois, quando a fábula se esfarinhou, além de
falsos heróis, descobriu-se haver falsos bandidos.
E que o “combate à corrupção” fora falsificado.
Um festival de práticas jurídicas
corruptas. Em 2021, a tiragem dos seis maiores jornais do país desabou.
Caiu 68% em relação a 2014. O crescimento digital foi pífio.
Associar o descrédito da imprensa
unicamente ao embarque no lavajatismo
é o tipo de falsificação que os jornalistas praticaram para enganar
seus leitores. Claro que o fenômeno se deve a outros fatores. Mas nada
impede que, no seu ocaso, a imprensa escreva a “história secreta” da
“lava jato” ou, como era hábito no jornalismo, fazer o balanço de quem
ganhou e quem perdeu com a ascensão e queda desse esquema.
Quem ganhou e quem perdeu
No campo da comunicação, o projeto deu sobrevida a jornalistas em fim
de carreira e sem perspectiva. Turbinou jovens sem talento, mas com
grande senso de oportunidade. Deu lucros às empresas no curto prazo,
mas, como se vê, cobra agora a fatura com a fuga de leitores. A cada
dia, fica mais claro que o idealismo da turma era remunerado.
Por duas vezes
os procuradores da República tentaram virar donos de
empresas (ou fundos) com mais de R$ 2 bilhões: uma derivada de verba de
indenização para acionistas da Petrobras, outra com dinheiro da J&F
derivado de acordo de colaboração. O advogado lavajatista Modesto
Carvalhosa aderiu em busca de honorários estapafúrdios.
O advogado Joaquim Falcão,
hoje no comitê eleitoral de Sergio Moro,
junto com a Transparência Internacional, também tentou meter a mão no
dinheiro da Petrobras, em nome do idealismo, claro. Falcão celebrizou-
se com a afirmação de que
“o excesso do devido processo legal é uma doença”.
Marcelo Miller, Rodrigo Janot e Carlos Fernando aposentaram-se
para aproveitar o prestígio que ainda tinham para atender as empresas
vitimadas por eles na chamada “operação”.
Para não ser presos,
os empresários e executivos concordaram pagar
quantias astronômicas na forma de multas ou “reparações”, o que, na
verdade, mais pareceu extorsão. Segundo o Dieese (Departamento
Intersindical de Estatística e Estudos Socioeconômicos), o Brasil
perdeu cerca de R$ 170 bilhões em investimentos com a quebradeira das
grandes empresas, que provocou um efeito cascata sobre centenas de
empresas menores de vários setores, que dependiam dos negócios das
multinacionais brasileiras.
Os frutos da ira
Os 278 acordos de colaboração e de leniência geraram o compromisso, dos
acusados, de devolver R$ 22 bilhões (em parcelas, por até 20 anos). Até
agora, “retornaram” aos cofres públicos algo como R$ 5 bilhões — uma
quantia 34 vezes menor que o prejuízo estimado pelo Dieese. Some-se
ainda, mais uma perda de R$ 47 bilhões em impostos, R$ 20,3 bilhões em
contribuições sobre folha de pagamento e R$ 85,8 bilhões de massa
salarial.
A queda no faturamento
comercial fechou jornais e já tirou o emprego de
mais da metade dos profissionais em ação na década passada. As empresas
ousam para buscar receitas. Uma das vestais da “lava jato”, o repórter
Thiago Herdy, por exemplo, enxergou uma oportunidade e, aparentemente
com o beneplácito da direção do portal UOL, tentou uma jogada alta.
Ao apurar
informações sobre a compra de máscaras contra a Covid-19,
Herdy conseguiu o contato do fornecedor chinês e tentou engatar uma
compra do equipamento de proteção mais procurado naquele momento. Não
deu certo, porque a empresa já tinha representante no Brasil, mas o
atilado repórter investigativo ainda insistiu no negócio.
Confrontado com a esquisitice,
o diretor de conteúdo do UOL, Murilo Garavello, não quis responder
se a tentativa de transação era em nome
do portal, como afirmou Herdy na correspondência, nem se a aquisição
foi concluída. Em sua “defesa”, o repórter imediatamente produziu uma
notícia acusatória contra a empresa das máscaras. O desmentido não foi
publicado.
Idealismo remunerado
Outra iniciativa arrojada em busca de receitas foi incorporar sites
pornográficos ao portal, o UOL Sexo. Com isso, o Grupo Folha passou a
oferecer, dentro da área de conteúdo, performances como a do deputado
Alexandre Frota e vídeos dirigidos por Ed Coyote Hunter com
adolescentes colombianas.
Segundo escreveu Herdy,
não se faz jornalismo sem dinheiro. Ainda
assim, ele acha que empresas politicamente expostas, como quem faz
acordo de leniência, por exemplo, não deveriam investir em veículos de
comunicação — conselho que, se seguido pelo UOL, ceifaria da empresa
uma receita significativa.
A tentativa de importar máscaras contra a Covid pode ter sido uma
tentativa de enganar as fontes, o que é pouco para quem engana
leitores. Mas, assim como Deltan, Moro, Falcão, Carvalhosa e outros que
ganharam bastante com o lavajatismo, eles sempre poderão dizer que
fizeram tudo por idealismo. Corruptos, só empresários e políticos.
Juiz, procurador e jornalista, não.
Hoje, os lavajatistas
que defendiam o uso de provas ilícitas batem às
portas do STF para pedir proteção contra eles. Tudo o que a defesa
tentou em Curitiba — e foi negado — hoje os seus protagonistas, na
condição de acusados, imploram. A piada já está gasta: mas seria
interessante ver o que seria dos lavajatistas de hoje, julgados pelos
lavajatistas de antes.
Link original da matéria:
https://www.brasil247.com/midia/midia-corporativa-que-operou-a-lava-jato-perdeu-68-dos-leitores-em-seis-anos?
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A queda no faturamento comercial fechou jornais e já tirou o emprego demais da metade dos profissionais em ação na década passada.[/caption]



