O show começou há tempos
O Grande Circo Tupiniquim
Era uma vez, em uma terra tropical, um grande espetáculo político digno de fazer inveja ao Circo de Moscou.
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Mas, ao contrário dos palhaços engraçados, os protagonistas dessa trama vestiam togas, ternos e fardas, ostentando seriedade enquanto comandavam o show mais polêmico dos últimos tempos.
No picadeiro principal, o ex-presidente Jair Bolsonaro, agora transformado em alvo ambulante de investigações, indiciamentos e manchetes sensacionalistas.
No comando do espetáculo, o sempre “imparcial” Alexandre de Moraes, cuja atuação combinava um estilo inquisitorial e uma paixão evidente pelo papel de protagonista.
O show começou há tempos, mas ganhou força com a escalada do Supremo Tribunal Federal (STF), que parecia ter esquecido sua função de guardião da Constituição para assumir o papel de um comitê revolucionário pós-moderno.
Aliás, na prática, o STF era hoje uma espécie de “NKVD jurídico” – claro, em uma versão adaptada ao tropicalismo brasileiro.
No centro dessa nova política de censura e perseguição, Moraes comandava com a maestria de um Lavrentiy Beria dos tempos modernos, garantindo que a oposição conservadora fosse reduzida ao silêncio ou ao exílio virtual.
A Procuradoria-Geral da República (PGR), por sua vez, parecia mais uma atriz coadjuvante relutante, enquanto a Polícia Federal, anteriormente respeitada como uma instituição técnica, hoje era vista como o braço operacional das togas – cumprindo ordens que mais lembravam o zelo de um executor do Partido.
Qualquer suspeita de apoio ao ex-presidente ou de pensamento divergente se tornava motivo suficiente para mandados de busca e apreensão, prisões preventivas e até mesmo censura em redes sociais.
Falando em censura, o Brasil parecia ter inventado uma nova modalidade: a censura preventiva.
Postar memes, criticar ministros ou questionar narrativas oficiais eram suficientes para atrair a atenção do “Grande Guardião da Democracia”.
Na prática, vivíamos em um tribunal do pensamento, onde a liberdade de expressão só era válida para aqueles que seguiam a cartilha progressista.
A direita, os conservadores e os cristãos eram as bruxas modernas, queimados não na fogueira, mas nas redes sociais e nos autos processuais.
E nesse espetáculo sombrio, como não destacar o papel da mídia?
Como uma Novosti Press tropical, a grande imprensa brasileira parecia ter trocado a função de informar pela de doutrinar.
Os veículos de comunicação atuavam como amplificadores das narrativas oficiais, promovendo manchetes seletivas, distorções e omissões convenientes, tudo para sustentar o roteiro dos novos inquisidores.
Assim como na velha União Soviética, onde a Novosti moldava a percepção pública de acordo com os interesses do Partido, a mídia brasileira transformou-se em uma força de desinformação organizada, confundindo os cidadãos e mascarando o autoritarismo crescente com o verniz de “defesa da democracia”.
E o público?
A plateia desse circo, composta por milhões de brasileiros, assistia perplexa e paralisada.
Parte da população, intoxicada pela narrativa midiática, parecia incapaz de enxergar a gravidade do espetáculo.
Outros, mesmo cientes do absurdo, permaneciam imóveis, num misto de ignorância, resignação e cumplicidade silenciosa.
Entre o medo de represálias e a descrença em qualquer possibilidade de resistência, muitos se limitavam a acompanhar o show, como espectadores hipnotizados por um espetáculo grotesco demais para ser interrompido.
Sem esquecer o pano de fundo internacional: documentos revelados nos Estados Unidos apontavam para uma surpreendente rede de interferência do chamado deep state americano, que não se contentava em manipular suas próprias eleições e estendia seus tentáculos até o Brasil.
Essas descobertas sugeriam um apoio ideológico e operacional para que os novos inquisidores se firmassem no poder, pavimentando o caminho para a destruição de qualquer oposição.
Nessa tragicomédia, as analogias com os julgamentos de Moscou eram inevitáveis.
Alexandre de Moraes encarnava o juiz Vyshinsky, com sua retórica incendiária e total desprezo pela presunção de inocência.
Os promotores, personificados pela PGR e seus aliados, lembravam aqueles que apresentavam acusações absurdas contra os “inimigos do povo”.
E os réus?
Os conservadores brasileiros assumiam o papel dos traidores, condenados por um tribunal que já decidira seus destinos antes mesmo de ouvir os casos.
No final das contas, o circo tupiniquim seguia a todo vapor, com um público dividido entre os que aplaudiam a “caça aos monstros” e os que, incrédulos, assistiam à erosão dos pilares básicos da democracia.
Quem será o próximo alvo?
E até quando o espetáculo continuará?
Enquanto os mestres de cerimônia desenham os próximos atos, a imprensa ensaia sua coreografia de desinformação, e a população permanece em transe, resta apenas torcer para que o Brasil desperte antes que o circo se transforme definitivamente em um gulag jurídico
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Por: Rodrigo Schirmer Magalhães
Cientista Político
Porto Alegre 22/02/2025
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